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O roubo e o arroubo

Tais Civitarese

Tudo começou com um sumiço. Durante a noite, sorrateiramente, sumiram o cabo e o martelo. Dias depois, sumiu o serrote. E a situação foi ficando complicada. Como reparar as coisas sem ferramentas? O que mais poderia desaparecer, assim, sem mais nem menos?

Para consertar tudo, surgiu uma ideia. Convocarmos um guardião, um segurança. E foi aí que ele apareceu… 

Ele tem três meses. Dorme quase o dia todo. Tem predicado de lutador de boxe, mas se parece mesmo é com um bebê. Chora se fica sozinho. Gosta de brincar. Apegou-se principalmente ao integrante mais jovem da nossa família.

Trouxe para nós uma estranha calma. Depois que ele chegou, todos estamos mais serenos. Tememos importunar seu estado zen e suave. Tem nome bíblico: Bartolomeu. Será daí que vem sua aura de santidade? 

Como cão de guarda, o que ele guardou foi nosso carinho. Guardou o coração do meu caçula, que só fala nele. Após toda a minha resistência, guardou meu abraço no primeiro dia. “Ah, pessoa sem firmeza!”, digo para mim mesma. “Bastou um larápio roubar a oficina para inverter todos os combinados da casa”. E foi mesmo…

Sem saber, esse ladrão, ao invés de roubar, nos deu um presente. Com as ferramentas velhas que levou, construiu um alicerce em nossa casa. Forjou um novo amigo para minhas crianças. E arrancou uma ideia martelada na minha cabeça. Agora, é esmerilar esse novo contexto.  

*

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