“Agora é preciso coragem para ter esperança” – título da reportagem da revista Prosa Verso e Arte. Minha atenção foi capturada pela dureza do título. A publicação são fragmentos sobre o livro: “Dar tempo ao futuro” de Mia Couto. O escritor moçambicano relata sobre outra época, mas a provocação de suas palavras encontrou ressonância em mim e pensei nesse mundo de 2020 e 2021.
A frase “agora é preciso coragem para ter esperança”, é um paradoxo? Esperança é uma palavra que carrega o futuro em si. É esperança de algo num tempo futuro. E pensando sobre a coragem atual, se manter vivo e saudável é ser corajoso. É preciso ter coragem para abrir mão de recursos financeiros, afetos, lazer; para não ser contaminado pelo COVID-19, recriar-se não é fácil.
Há poucos dias fui fazer compra de supermercado e vi que um atendente estava sem máscara, solicitei que ele a colocasse. O fez, mas com uma irônica pergunta: está com medo? Respondi que estava morrendo de medo e principalmente porque estava com idosos. Acredito que a coragem de assumir que tem medo e que não quer isso para você e para outras pessoas é esperançar. A esperança está aí – você se projetando para o futuro. Vamos morrer com certeza, mas não precisa ser agora.
Ainda quero viver o tempo da delicadeza; no tempo que irá refazer os encontros e abraços de corpo a corpo, que converterá nele todos os sentimentos das nossas ausências físicas. Viver o tempo de receber todas as gentilezas e sejam elas: do fruto da terra, do mar, das matas e dos homens como um gesto de amor.
Temos de sonhar e nos reinventarmos!
Adendo janeiro de 2024:
Essa crônica foi publicada em 08 de julho de 2021. Relendo-a, perguntei-me: o que mudou em mim? O que mudou em você leitor?
Já vivemos no tempo dos possíveis encontros e abraços!
Feliz 2024 com muitas alegrias e encontros diversos!
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