Eduardo de Ávila
Desde a infância, anualmente, faço um balanço ao final de cada temporada. Lá nos primeiros anos era sobre o comportamento e o resultado escolar, norma determinante imposta pelos costumes da ocasião. Por melhor que tenha sido o desempenho, igualmente pelas regras que vinham desde a idade média, sempre fechava o ano em débito.
Mais à frente, atribuo ao fato de perceber que era impossível virar o ano com louvor, acredito que inconscientemente passei a fechar o ciclo com justificadas reprovações. Tanto no comportamento rebelde da adolescência quanto no aproveitamento escolar.
Foram diversas épocas de provas de recuperação, hoje nem sei qual denominação tem essa segunda chance. Até mesmo uma reprovação e outro ano perdido na vida por não ter sido aprovado no vestibular logo ao final do científico, depois segundo grau – hoje acho que chama ensino médio. Mas dei conta de romper essas paranoias que a sociedade tanto cobra.
Já adulto e pai, o desafio pela sobrevivência foi mudando, obrigando a novos ajustes e adaptações. Creio ter cumprido razoavelmente essa missão. Ao final do meu 63º ano de vida, num gostoso exame de consciência, fecho vitorioso os desafios da vida. Nunca deixei de fazer o que quis, jamais prejudiquei pessoas, vivo intensamente minhas paixões – materiais ou não – com toda devoção.
Pois que, ao final desse 2020 tão conturbado, me flagro comparando com temporadas passadas. Já fechei ano em êxtase com as realizações e conquistas, como também já virei o 31 de dezembro esperançoso na recuperação das frustrações vividas naqueles últimos 365 dias. Enfim, cada calendário registrou e vai continuar sendo assim até o fim dos nossos tempos.
Neste 2020, que vai terminar daqui dois dias, qual será o legado que vai deixar a cada um de nós individualmente? Ao mesmo tempo em que parece ter passado num sopro, também se mostra lento e um tanto cruel. Fiquei três ou quatro meses trancado sozinho dentro de casa. Lavando louças e usando pijama.
Não fossem as redes sociais, creio que teria pirado. Além delas, o compromisso de escrever neste Mirante – ainda que semanalmente – e no blog do Galo diariamente. Pelo whatsapp conversava com filha, parentes, amigos e noutras ferramentas trocava experiências dessa cruel realidade. Quebrei óculos, xícaras, copos, enfim, isso até me divertia.
Depois desse período de isolamento, condenado que estava num apartamento de fundo e sem ver a rua, comecei a experimentar a liberdade. Uma vez por semana, duas, três, até chegar a todos os dias. Agora, nos últimos tempos, com a ameaça presente da segunda onda, tenho muita dificuldade em nova prisão domiciliar. A esperança comum é na vacina que possa imunizar a todos e permitir o mundo voltar à normalidade. Seja até a tal nova normalidade.
E ao fechar o ano, o que fica de tudo isso? Não sei! Só sei que foi e continua sendo difícil projetar o que nos espera. Recados do Criador não faltam, embora ainda exista quem se diz temente e fiel a Deus, mas que mantêm em suas ações atitudes completamente divergentes aos ensinamentos do Senhor. Na verdade, ao que sinto, essas pessoas nunca foram cristãs. O verdadeiro espírito cristão é de fraternidade o ano todo e de luta incansável por justiça social.
Que 2021 nos permita vivenciar isso e fazer sim um balanço positivo de nossas vidas. Assim seja!
Olá, como vai ?
Interessante sua publicação.
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Um grande abraço.
Excelente reflexão.