Ir ao supermercado lotado. Evitar todas as gôndolas, exceto aquela. Brilhar os olhos ao vislumbre de minha rosada e graúda vítima.
“Product from California”, dizem as letras. Quase todas as melhores coisas vêm da França, de Minas ou da Califórnia.
Escolher enfim a mais gorda e viçosa delas.
Carregá-la com orgulho, tal como uma bola de cera enorme e reluzente. Seguir em direção ao caixa. Pagar peso de ouro por ela.
Chegar em casa. Lavá-la ansiosa. Abri-la cuidadosamente com uma faca de lâmina curta. Com esta, fazer-lhe um rasgo raso e transversal na carne.
Quebrá-la ao meio com a mão para não estourar as sementes. Vislumbrar seu interior com o delírio mítico de uma deusa que porta nas mãos sua própria mina de pedras preciosas.
Comer sozinha grão a grão. Deleitar-me. Deixar espirrar no rosto seu sumo sanguinolentamente vermelho.
Deixar rastros desse crime na forma de pequenas gotas espalhadas pela mesa, por meu computador, meu celular, minha roupa e até pela parede da cozinha. Quem se importa com a nódoa?
Um presente da natureza. Inatingível nos outros meses. Plena durante as Festas. Nessa luxúria, termino o meu ano.
Rosangela Maluf Ah, bem que você poderia ter ficado mais um pouco; só um pouquinho…
Tadeu Duarte tadeu.ufmg@gmail.com Moro em uma região de baixa altitude da cidade, a um quarteirão…
Peter Rossi Nada melhor que uma boa sesta, estirado no sofá da varanda, depois de…
Wander Aguiar Talvez eu nunca mais consiga tal proeza, mas sim, meus queridos leitores, eu…
Ando exausta com a hipocrisia. Exausta com quem profere a frase “moral e bons costumes”.…
Sandra Belchiolina Na crônica A foto do ano, horror que nos assola faço referência a…
View Comments
Crônica tão deliciosa quanto a fruta que a inspirou.