Eduardo de Ávila
Aproveitando a deixa do belo texto da Victória ontem, eu até pensava em comentar aqui sobre a chatice do uso indiscriminado das redes sociais pelo telefone celular, situação que deixa uma mesa de bar, cafeteria ou interação social, em total e absoluto constrangimento.
Pois, o mal é muito mais amplo, como alertado aqui neste espaço ontem. As pessoas próximas não se comunicam, pois aqueles distantes – muitas vezes até desconhecidos – tem mais atenção que quem está ao lado.
Me irrita profundamente, e isso ocorre com frequência, estar em conversa com alguma pessoa que – inesperadamente – passa a ignorar a minha presença para dar atenção a um aviso de mensagem no whatsapp.
Até gente que pega carona comigo, de todas as idades, cometem essa insanidade. E o pior, nem percebem. Costumam, depois de interagir com o mundo virtual, tentar retomar a conversa, mas nem se lembram do que falávamos. Viram e diz assim: “pois é…” É um saco!
São tantas as facilidades que, cada vez mais, distanciam de quem está próximo. Não reclamo delas, mas convenhamos que temos – e me incluo – de ter mais cuidado com essa parafernália.
Que nem aquele ditado, “quem bate esquece, quem apanha não”. No caso, quem faz isso não percebe o tamanho da agressão que comete contra a pessoa que está ao seu lado.
Com isso, vamos cada dia mais nos distanciando de parentes, amigos, vizinhos, colegas de trabalho e do mundo real.
Fico daqui recordando dos tempos passados, quando ia ao banco para descontar um cheque do meu pai.
O caixa do Banco do Brasil, lá de Araxá, que me conhecia e também sabia quem era papai, ia numa gaveta e tirava o cartão de assinatura para conferir com aquela do cheque.
Depois, noutra gaveta, conferia o saldo da conta numa folha grande parecendo cartolina, para depois pagar o valor constante no documento.
Hoje, pela agilidade, se saca dinheiro numa máquina eletrônica que está à disposição em farmácias, supermercados, postos de gasolina. Fantástico! Mas, se clonarem o seu cartão, o Banco leva alguns dias para repor o prejuízo. Quando o fazem.
Falei de papai, pois vou contar uma dele. Nas férias, comumente, ia para a fazenda com ele, e levava alguns amigos da minha distante infância para essa divertida temporada sem escola. Certa ocasião, ao descarregar a camionete, retirei o que tinha num saco plástico e o joguei pela janela.
Papai, imediatamente, determinou que fosse buscar aquele saquinho já sem utilidade e me alertou que ele levaria anos para se desintegrar. Sem graça no meio dos amigos, cumpri a ordem recebida.
Numa outra situação e ainda nessa ocasião, no lanche antes de ir deitar – lá não tinha luz elétrica, a iluminação vinha apenas das velas – por volta de vinte horas, ele desfilava algumas considerações sobre o futuro que nos esperava. Em determinado momento, quase pedi para se abduzido.
Morri de vergonha ao ouvir o delírio dele. Eu, um garoto com menos de dez anos, e ele já com quase os 60 que tenho hoje, afirmou que ia chegar um tempo, onde iriamos conversar por telefone enxergando a pessoa do outro lado da linha. Quase morri de vergonha dos meus amigos. Papai não bebia, mas parecia estar delirando.
Pois, não é que ele, leitor assíduo de publicações científicas, que se ainda vivesse estaria com 106 anos, estava mais preparado que o filho para conviver com essa tecnologia do mundo moderno?! Eu – confesso – faço uso dela. Mas, sem constrangimento, me incomoda muito.
Mas, querendo ou não é bom pedir um Uber e ele chegar em poucos minutos, sacar rapidinho o dinheiro que preciso carregar comigo, ligar no exato momento que me lembro de algo que esqueci.
Enfim, tempos modernos para cabeças envelhecidas. Vida que segue!
*Imagem: Divulgação/Activ Doctors Online
“A tecnologia será sempre bem-vinda, desde que não pretenda se sobrepô-la aos valores humanos”.
https://www.pensador.com/colecao/paduadesousa/
Bom dia Escriba!
A tecnologia é útil.
A questão é o que fazemos dela e, com ela.
Ja parou para pensar que no mundo virtual temos total controle?
Os dedos decidem.
Convido e bloqueio.
Incluo e excluo.
Não preciso olhar nos olhos e / ou escutar a voz do outro.
O outro é apenas virtual, enquanto eu me sinto real.
Confesso que comungo da sua opinião, porém tenho com algum êxito me adaptado á nova situação.
Não fui abduzido pelas redes sociais!
Há três métodos para ganhar sabedoria: primeiro, por reflexão, que é o mais nobre; segundo, por imitação, que é o mais fácil; e terceiro, por experiência, que é o mais amargo.
“A desvalorização do mundo humano aumenta em proporção direta com a valorização do mundo das coisas.” Karl Max