Agatha e Pinguim representam disputa Marvel X DC

DC e Marvel estrearam novas séries em live action em streamings recentemente e, se fosse o caso de uma disputa entre as duas editoras, a vitória teria sido de lavada. Enquanto a DC nos deu Pinguim (The Penguin), produto derivado do último filme do Batman (2022) com foco no vilão, a Marvel finalmente trouxe Agatha Desde Sempre (Agatha All Along), protagonizada por uma bruxa pouco conhecida lançada em Wandavision (2021) – e esperada desde então.

Criada nos quadrinhos em 1969 por Stan Lee e Jack Kirby, Agatha Harkness era a governanta e babá de Franklin, filho do casal fantástico Reed e Sue Richards. Após ajudar o Quarteto Fantástico em uma batalha, ela revela ser uma bruxa e descobrimos que ela fazia parte das Bruxas de Salem, tendo traído e deixado as colegas para seguir um caminho no bem. Na TV, Agatha foi apresentada quando Wanda Maximoff sequestrou uma cidade inteira e criou uma vida idílica de sitcom na série Wandavision.

Percebendo que Wanda tinha poderes que a caracterizavam como a mítica Feiticeira Escarlate, Agatha foi à tal cidade, mas, ao invés de conseguir roubar os poderes da rival, acabou aprisionada e vivendo uma vida falsa como policial. A nova série começa aí, novamente com Kathryn Hahn no papel. Um jovem gótico (Joe Locke, de Heartstopper) a liberta da prisão mental de Wanda e ela parte em busca de seus poderes. Para consegui-los, ela precisa formar um grupo de bruxas e passar por um tal Caminho das Bruxas.

Os dois primeiros episódios liberados pelo Disney+ mostram um tom mais cômico, numa trama boba, apresentando um grupo de bruxas que se detesta, mas pretende usar umas às outras para conseguirem voltar a seus dias de glória. Fica difícil prever como essas personagens vão se encaixar nas próximas produções do Universo Cinematográfico Marvel, ou se essa série é apenas um alívio cômico que será relevada, como parece que farão com o Cavaleiro da Lua e a She-Hulk. De qualquer forma, como atração isolada, não parece destinada à grandeza.

Já na DC a conversa é outra. Pertencendo ao mundo sujo e corrupto da Gotham City criada por Matt Reeves, Pinguim já é uma produção da nova fase do Universo DC, agora comandado por James Gunn e Peter Safran – mesmo que à parte dele, já que Batman nunca deve se encontrar com outros heróis. Novamente com um Colin Farrell irreconhecível debaixo de tanta maquiagem e látex, o personagem tem sua história desenvolvida. Oswald “Oz” Cobblepot era apenas um capanga mais alto na hierarquia da quadrilha, e tem a oportunidade de crescer quando o chefe Carmine Falcone é morto (o que acontece em The Batman). Na série, vemos Oz aproveitando essa chance.

A obra tem um tom bem cru, lembrando os bons filmes policiais clássicos, e promete colocar Oz nessa galeria de mafiosos ficcionais marcantes. Além de Farrell, muito à vontade no papel, mesmo debaixo de tanto disfarce, temos Cristin Milioti (de How I Met Your Mother) chamando a atenção. Ambos conseguem ser carismáticos, mesmo tratando-se de dois psicopatas, e o embate entre eles promete.

Tanto Agatha Desde Sempre (no Disney+) quanto Pinguim (na HBO) têm seus episódios divulgados um a um, o que diminui a sensação de culpa do espectador, que sente que está sempre atrasado quando a série é lançada de uma vez. Quem gosta de adaptações de quadrinhos deve continuar acompanhando, tendo duas experiências bem distintas, mesmo as fontes sendo de origens próximas. Vamos aguardar as consequências das obras em seus respectivos universos. O Pinguim de Farrell já está confirmado em The Batman: Part II (2026).

PS: Fica a dica para Batman: Cruzado Mascarado (Caped Crusader), animação em 10 episódios disponível no Amazon Prime Video.  Desenho e roteiros primorosos num clima anos 40, com vilões interessantes e menos óbvios.

A animação está disponível na íntegra – e os episódios, curtos, passam bem rápido

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Shyamalan parte II: o plot twist

O corte do post que aconteceu entre o sexto e o sétimo filmes não foi um acidente. Foi nesse momento, em 2006, que M. Night Shyamalan deu uma grande derrapada e iria demorar um tenebroso período para se recuperar. Foi em 2006 que o diretor lançou

7- A Dama na Água (Lady in the Water, 2006)

O primeiro filme de Shyamalan do qual não gostei, mas não ficou apenas no “não gostei”: é horroroso. O diretor convocou um bom elenco, repetindo Bryce Dallas Howard (de A Vila), e colocou Paul Giamatti à frente desse constrangimento. Giamatti é o zelador de um prédio que descobre uma criatura mitológica (Howard) vivendo na piscina e logo todos os moradores se unem para ajudá-la. Só de lembrar dessa sinopse dá vontade de jogar algo no diretor. Não a toa, o longa deu prejuízo nas bilheterias e teve quatro indicações ao “prêmio” Framboesa de Ouro, levando dois – pior diretor e pior ator coadjuvante, ambos para Shyamalan.

8- Fim dos Tempos (The Happening, 2008)

Outra coisa horrível cometida pelo diretor, desta vez com Mark Wahlberg à frente. Repentinamente, pessoas normais começam a cometer suicídio em massa e um professor de ciências precisa sobreviver com sua família, enquanto tenta entender o que está acontecendo. A explicação do mistério vai te deixar vermelho de raiva. O páreo de ruindade é duro com o longa anterior, o que nos deixa sem entender como Shyamalan continuou conseguindo financiamento para fazer essas coisas.

 

9- O Último Mestre do Ar (The Last Airbender, 2010)

Continuando em sua busca pelo fundo do poço, Shyamalan adaptou o amado desenho Avatar: A Lenda de Aang para um filme horrendo que conseguiu desagradar a todos. Com atores ocidentais fazendo personagens orientais, o filme foi chamado de “um dos piores de todos os tempos” e matou a ideia inicial de ser o primeiro de uma trilogia.

 

 

10- Depois da Terra (After Earth, 2013)

Fica até difícil definir qual é o pior filme do diretor: esses quatro ( 7 a 10) fazem uma disputa bem justa e acirrada. Talvez numa tentativa de juntar mais “poder de celebridade” e levar mais público aos cinemas, o diretor convocou o carismático Will Smith para o papel principal. Dois problemas afetaram o longa: o papel de Smith é completamente insosso, não faria diferença ter uma porta no lugar dele; e o astro insistiu em ter o filho no outro papel importante, deixando claro que carisma não é herdado e Jaden não tem a menor chance de se tornar um sucesso de bilheteria. No entanto, apesar do fracasso de críticas, a jogada funcionou e o filme faturou um bocado – U$ 244 milhões, com um orçamento de U$ 130 milhões.

11- A Visita (The Visit, 2015)

O fime já melhora, tendo em vista os últimos de Shyamalan, mas ainda não é grande coisa. Sem nexo, nos apresenta a uma mãe que perdeu o contato com os pais quando saiu de casa para casar e agora prepara os filhos para ir visitá-los em outra cidade. O casal de velhinhos é interessante, mas bem sem nexo, como tudo o mais nesse filme. Como fez o filme quase em segredo, gastando muito pouco (US$ 5 milhões), Shyamalan teve muito lucro (US$ 98,5 milhões) e recebeu críticas positivas.

 

12- Fragmentado (Split, 2016)

James McAvoy tem 23 personalidades convivendo dentro de sua cabeça, e elas vivem disputando espaço. Com um trabalho meticuloso de criação de cada uma, McAvoy é um dos principais responsáveis pelo resultado positivo do longa. Anya Taylor-Joy é outra força em cena, travando um duelo interessante com o colega, e Shyamalan se atém às regras que cria, fazendo uma obra coerente e instigante.

 

13- Vidro (Glass, 2019)

Quem gosta de Corpo Fechado e de Fragmentado deve ver esse filme sem medo, já que é a conclusão da trilogia e é extremamente satisfatório. Bruce Willis, Samuel L. Jackson e James McAvoy são reunidos, e voltam também outros atores dos longas anteriores, além da adição da ótima Sarah Paulson. O curioso universo iniciado com Corpo Fechado é concluído num filme não muito longo (129 minutos) e nunca cansativo, e Shyamalan não deixa de seguir as premissas que criou, respeitando seus personagens e seu público.

 

14- Tempo (Old, 2021)

Dividindo a crítica, Shyamalan adaptou uma graphic novel francesa com um grande elenco, encabeçado por Gael García Bernal, Vicky Krieps, Rufus Sewell e Alex Wolff. Um grupo de turistas chega a uma praia distante e começa a observar o tempo passando mais rápido, envelhecendo a cada hora que passa. Shyamalan mostra o diretor competente que é tirando muita tensão de uma situação corriqueira como férias familiares e desenvolvendo bem personagens com pouco tempo em cena. Gostando-se ou não, é preciso reconhecer a criatividade do diretor, que expande o conceito da revista.

15- Batem à Porta (Knock at the Cabin, 2023)

Shyamalan adapta um livro de 2018 que traz quatro estranhos mantendo uma família como refém, mas eles não pretendem ferir ninguém. Eles então avisam os pais e a criança que será preciso o sacrifício de um dos três para evitar o fim do mundo. Enquanto isso, catástrofes vão acontecendo no mundo. A premissa parece meio louca, mas acaba funcionando. No entanto, o longa segue morno, parecendo sempre próximo de decolar, até que acaba. Fica na coluna do meio entre os trabalhos do diretor.

16- Armadilha (Trap, 2024)

Como boa parte da filmografia de Shyamalan, Armadilha parece partir de uma premissa pirada, mas felizmente acaba funcionando bem. Os trabalhos horrorosos do diretor parecem agora um pesadelo distante e ele está menos preocupado em ter viradas mirabolantes de roteiro, apenas se atendo a seguir a história de forma coerente, com personagens tomando decisões razoáveis. Dá para esperar coisa boa vindo num 17º filme.

Demais membros da família já começam a aparecer também

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M. Night Shyamalan: sua Armadilha e sua carreira

Tendo estreado recentemente, Armadilha (Trap, 2024) volta a chamar atenção para seu diretor, M. Night Shyamalan. Chamado pela revista Rolling Stone de “o cara que cria os filmes assustadores com uma virada”, Manoj Nelliyattu “M. Night” Shyamalan fez sua fama com o surpreendente O Sexto Sentido (The Sixth Sense, 1999), que de fato tem uma virada marcante em sua história. E assim acontece com alguns de seus outros trabalhos, mas não é o caso de Armadilha, produção mais convencional que depende de criar suspense para segurar o espectador. E faz isso muito bem!

Já não é de hoje que Shyamalan mostra ser um diretor afiado, sabendo exatamente como construir seus filmes e uma atmosfera de tensão. E é por isso que volta e meia ele consegue mascarar a fragilidade de seus roteiros, que insiste em escrever.

Armadilha, felizmente, é um ponto positivo numa carreira de altos e baixos, tão promissora no início. Estrelado por Josh Hartnett (de Esquema de Risco: Operação Fortune, 2023) e a jovem Ariel Donoghue, o longa acompanha um pai que leva a filha adolescente para realizar um sonho: ver de perto sua ídola, a cantora Lady Raven (Saleka Shyamalan, filha do diretor). Cooper, no entanto, começa a reparar no policiamento reforçado do show e acaba ouvindo de um membro da equipe que se trata de uma armadilha para pegarem “O Açougueiro”, um serial killer que anda aterrorizando a cidade.

Hartnett compõe um personagem muito interessante e se torna fascinante reparar em suas expressões e reações. Donoghue vive uma adolescente realista, como muitas “swifties” (fãs da cantora Taylor Swift) são, e os demais personagens agem de forma crível. Saleka é convincente como cantora, o que de fato é, mas nem tanto como atriz. Algumas situações que parecem furos de roteiro acabam sendo mencionadas à frente, e logo são esclarecidas.

Shyamalan dirigiu seu primeiro longa no ano em que se formou na faculdade de artes da Universidade de Nova York, 1992. Praying With Anger não é muito fácil de ser encontrado – ao menos em boa qualidade – e é comumente descrito internet afora como chato e amador. Os filmes que se seguiram são enumerados abaixo, devidamente comentados, e com links para as críticas completas (aqueles que têm – os mais recentes).

2- Olhos Abertos (Wide Awake, 1998)

Um garotinho de dez anos perde o avô e empreende uma busca por Deus para saber se o avô ficou bem. Algumas questões existenciais são levantadas, deixando clara a preocupação do diretor com o divino, e já revelando a simpatia dele por personagens muito jovens. O garotinho Joseph Cross é bem expressivo e torna a jornada agradável, com um final bonitinho e previsível. Nada apontava que Shyamalan ficaria famoso no gênero suspense.

3- O Sexto Sentido (The Sixth Sense, 1999)

Ainda imbatível na carreira do diretor, o longa surpreendeu muita gente e definiu a fama de Shyamalan, associando-o para sempre às viradas de roteiro (ou plot twists). Um garotinho (Halley Joel Osment) tem problemas de comportamento na escola e, ao se consultar com um psicólogo, revela a verdade estarrecedora: ele vê gente morta! Um dos maiores papéis de Bruce Willis, num elenco que ainda conta com a ótima Toni Collete.

4- Corpo Fechado (Unbreakable, 2000)

Tudo indica se tratar de uma adaptação de história em quadrinhos, e uma das melhores. Mas é um roteiro original de Shyamalan, que se uniu novamente a Bruce Willis e convocou Samuel L. Jackson. Willis vive um segurança que percebe que há algo diferente com ele: nenhuma doença ou trauma o abalam, fazendo dele um sujeito indestrutível. Longa imperdível que disputa com Sexto Sentido o topo da carreira do diretor.

5- Sinais (Signs, 2002)

Shyamalan volta ao tema ligado ao divino, trazendo um pastor (Mel Gibson) que perdeu a esposa e parece ter perdido a fé. Uma invasão alienígena é o que precisa pra ajudá-lo a retomar seu caminho. A metáfora pode parecer um pouco extrema, mas funciona bem e o resultado é altamente satisfatório.

6- A Vila (The Village, 2004)

Um grupo de pessoas vive em uma vila cercada por uma floresta no início do século. Eles temem as criaturas que vivem na floresta, mas estão seguros contanto que não ultrapassem os limites da vila. Quando um morador mentalmente instável esfaqueia outro, é necessário que alguém vá até a cidade mais próxima em busca de remédios, se arriscando frente às criaturas. Um elenco bem recheado, que conta com Bryce Dallas Howard, Joaquin Phoenix, Adrien Brody, William Hurt, Sigourney Weaver e Brendan Gleeson, ajuda o diretor a criar um suspense que se segura bem até o final. Até aqui, Shyamalan mantinha a boa forma.

No próximo post, os 10 filmes seguintes do diretor.

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Brats revisita a geração de atores oitentistas

Resolver um trauma de grupo quase 40 anos depois. Essa parece ser a razão de Andrew McCarthy ter se aventurado na direção de um longa-metragem depois de ter comandado episódios de diversas séries de televisão. Brats (2024), documentário do Hulu disponível no Disney+, revisita uma turma famosa dos anos 80 para conferir como cada um lidou com o apelido atribuído.

Em 1985, o jornalista David Blum ia escrever para a revista New York um perfil do ator em ascensão Emilio Estevez, visto como um dos grandes talentos da época. Estevez o convidou para sair com uns amigos, Rob Lowe e Judd Nelson, e Blum acabou tendo a ideia de transformar a matéria num panorama de toda aquela geração de atores. Numa referência à turma de Frank Sinatra, o Rat Pack, o jornalista apelidou a turma de Brat Pack – logo no título. E a alcunha negativa pegou, colocando um grupo totalmente heterogêneo sob uma sombra de irresponsáveis e festeiros. Teria o apelido arruinado carreiras?

Essa é uma pergunta que McCarthy, um dos “brats“, busca responder. 1985 foi o ano do lançamento de dois filmes considerados emblemáticos para aquela geração: O Primeiro Ano do Resto de Nossas Vidas (St. Elmo’s Fire) e O Clube dos Cinco (The Breakfast Club). Estevez, Nelson e Ally Sheedy estão no elenco de ambos, e vários outros atores estão envolvidos em ao menos um deles. Uma amizade começou a se formar entre eles e era comum que contracenassem em outras produções.

O Primeiro Ano do Resto de Nossas Vidas, dirigido por um Joel Schumacher em início de carreira, traz Estevez, Nelson, Sheedy, McCarthy, Lowe, Demi Moore e Mare Whinningham como um grupo de amigos da escola que busca seu caminho na vida adulta. Incrivelmente chato, com uma trilha sonora genérica e estrelado por personagens canalhas e antipáticos, o filme foi um sucesso de bilheteria, muito devido ao carisma de seu elenco.

Com O Clube dos Cinco, a conversa é diferente: considerado um dos melhores filmes dos anos 80, ele faturou alto nas bilheterias e teve boas críticas. Além do bom elenco, que traz Estevez, Nelson, Sheedy, Anthony Michael Hall e Molly Ringwald, o longa tem a assinatura do produtor, roteirista e diretor John Hughes, o Midas das comédias da época – lembra de Ferris Bueller? Alguém?

Em Brats, McCarthy faz um roteiro simples que simplesmente costura encontros com os ex-colegas. Em vários casos, os atores não se veem há décadas, desmistificando a ideia que o público pode ter de que são todos amigos. Em grande parte, isso se deve à matéria de Blum: eles passaram a se evitar para tentar fugir da fama negativa recém adquirida. Sheedy, num momento sincero e triste, conta que havia começado a se sentir parte de uma família, e tudo aquilo acabou.

Com uma montagem ágil, que não se demora por onde passa, o documentário faz uma investigação ao mesmo tempo em que leva o diretor a revisitar lugares e pessoas queridas, mesmo que por um curto período do passado. É possível perceber o carinho que essas pessoas têm umas pelas outras (com poucas exceções) e é no mínimo nostálgico acompanhar McCarthy nessas viagens. São vários rostos que foram muito famosos, mas não devem ser facilmente reconhecíveis pelos jovens de hoje.

É importante mencionar, a título de curiosidade, que os membros desse “grupo” variam de acordo com o ponto de vista de quem analisa, já que isso é tudo informal. Vários atores dividem a cena em diversas produções com os nomes citados e podem ser incluídos na lista. Até Tom Cruise, de filmes como Toque de Recolher (1981) e Vidas Sem Rumo (1983), pode aparecer nessa história, tendo atuado com outros brats. Para quem se interessar pelo Brat Pack, ficam outras recomendações, além dos já citados:

– Uma Questão de Classe (Class, 1983): McCarthy é o aluno novo, meio bobão, que é empurrado pelo colega descolado (Lowe) para se enturmar com as mulheres, tendo uma consequência engraçada;

– Gatinhas e Gatões (Sixteen Candles, 1984): estreia na direção do então roteirista John Hughes, o filme acompanha a adolescente Samantha (Ringwald) descobrindo o amor, ou ao menos a paixão, quando se interessa por um veterano bonitão (Michael Schoeffling) ao mesmo tempo em que é o alvo das investidas de um calouro nerd (Anthony Michael Hall);

– Uma Aventura em Oxford (Oxford Blues, 1984): Lowe é o americano que quer ir para a Inglaterra atrás da mulher de seus sonhos e, para conquistá-la, precisa se destacar na equipe de remo da universidade;

– Mulher Nota Mil (Weird Science, 1985): dois amigos nerds rejeitados na escola (Hall e Ilan Mitchell-Smith) se unem para criar uma mulher perfeita no computador, dando vida à sobrenatural Kelly LeBrock;

– A Garota de Rosa-Shocking (Pretty in Pink, 1986): Andie (Ringwald) segue feliz na sua vidinha simples, com os amigos da loja de discos e o pai protetor (Harry Dean Stanton), até que se apaixona pelo riquinho da escola (McCarthy) e precisa enfrentar uma luta de classes;

– Abaixo de Zero (Less Than Zero, 1987): Clay (McCarthy) saiu da cidade para ir para a faculdade e volta no Natal, reencontrando a ex-namorada (Jami Gertz) e o amigo (Robert Downey, Jr.), ambos drogados e decadentes.

PS: caso você esteja tentando se lembrar de onde conhece Andrew McCarthy, vou ajudar: Um Morto Muito Louco (Weekend at Bernie’s, 1989), comédia maluca em que dois funcionários são convidados pra um final de semana na casa de praia do chefe e encontram o sujeito morto. Bobo e divertido na mesma medida.

Outra recomendação, fugindo um pouco da turma, é Young Guns – Jovens Pistoleiros, encabeçado por Estevez

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Tirando o atraso dos blockbusters

Deadpool & Wolverine (2024)

Desde a primeira peça publicitária divulgada, Deadpool & Wolverine era tido como o filme que iria revolucionar o Universo Marvel, consertando as linhas temporais e trazendo para campo quem havia ficado de fora, como os X-Men. O que vimos foi um festival de referências para os fãs, uma metralhadora de piadinhas infames e uma trama que partiu de lugar nenhum e ficou rodando em volta do próprio rabo. É divertido, raso e esquecível na mesma medida.

Um Lugar Silencioso: Dia 1 (A Silent Place: Day One, 2024)

Escolhido por John Krasinski após a estreia em Pig (2021), Michael Sarnoski assumiu a direção desse terceiro filme da franquia Um Lugar Silencioso e os dois escreveram o roteiro juntos. Trazendo novos personagens, eles mostram como foi a chegada dos alienígenas assassinos sensíveis a sons em Nova York, mudando radicalmente de cenário. O resultado é tão instigante quanto os anteriores e o pouco que sabemos sobre aquelas pessoas é o suficiente para que nos importemos. Lupita Nyong’o é o coração do elenco, que ainda conta com Joseph Quinn, Alex Wolff e Djimon Hounsou (de volta).

Furiosa: Uma Saga Mad Max (Furiosa: A Mad Max Saga, 2024)

Retomando sua saga Mad Max, o diretor e roteirista George Miller conta uma história pré Estrada da Fúria: sai Charlize Theron e entra Anya Taylor-Joy como a versão mais jovem de Furiosa. Um roteiro quase inexistente dá lugar à ação que parece se repetir, resultando em um filme cansativo. Taylor-Joy faz o que pode e Chris Hemsworth foge de sua zona de conforto, sendo os dois os destaques dessa aventura insossa.

Planeta dos Macacos: O Reinado (Kingdom of the Planet of the Apes, 2024)

Sai Matt Reeves e entra Wes Ball, da trilogia Maze Runner, na condução desse quarto Planeta dos Macacos – nessa encarnação atual. Um jovem macaco tem sua vila atacada e, após capturado, vai parar no reinado do vilão da vez. Aventura honesta, divertida, com seus momentos de tensão e bons efeitos visuais. Não me importaria de ver mais histórias com Noa.

Twisters (2024)

Bebendo na fonte do longa de 1996, e atualizando-o, esse novo Twisters consegue ser minimamente interessante mesmo com o roteiro mais previsível dos últimos tempos. Toda a graça se deve a seu casal de protagonistas, a simpática Daisy Edgar-Jones e o galã do momento, Glen Powell. Novas gerações de caçadores de tornados se dividem entre os que só buscam espetáculo para a internet e os que pretendem conseguir dados para ajudar a diminuir os danos causados. A inglesa Edgar-Jones se torna a típica garota da fazenda norte-americana e Powell tem mais conteúdo do que demonstra por trás do sorriso irritante e canalha.

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Quem ganha entre Tudo em Família e Uma Ideia de Você?

Os chamados “filmes gêmeos” voltam a atacar, agora em streamings rivais. Talvez só eu os chame assim, então preciso explicar do que se trata. Sabe quando dois filmes chegam ao mercado quase juntos e as similaridades são grandes entre eles? Às vezes, a premissa é parecida, ou até boa parte da trama é idêntica. E, quem sabe, os finais batem. São os “filmes gêmeos”.

Lembra de Armageddon (1998), aquele drama de ação no qual um asteróide enorme está em vias de colidir com a Terra? Com Bruce Willis, Liv Tyler, Ben Affleck e o Aerosmith? Pois no mesmo fatídico 1998, chegou aos cinemas, com dias de distância, Impacto Profundo (Deep Impact), apostando mais nos dramas dos personagens que logo morreriam e com apenas uma diferença: o vilão da vez era um cometa.

Seguindo a mesma lógica (seria espionagem industrial?), em 1997 tivemos a estreia de Volcano: A Fúria e O Inferno de Dante (Dante’s Peak), com erupções de vulcões prometendo apagar cidades do mapa. Mas não é só de catástrofes que os filmes gêmeos vivem, tem para todos os gêneros. Inclusive as comédias românticas, que contaram em 2011 com as estreias de Sexo Sem Compromisso (No Strings Attached) e Amizade Colorida (Friends With Benefits), duas besteirinhas (abaixo) que trazem amigos que transam e não querem ter vínculos românticos. É claro que a proposta dá errado. As propostas.

Agora que já ficou claro o que são os tais “filmes gêmeos”, é meio óbvio o que Netflix e Amazon Prime Video fizeram em 2024: vou fazer um filme sobre uma mãe que acabou tendo um caso fumegante com um superstar extremamente famoso e as consequências que isso tem. No caso da Netflix, o resultado chama-se Tudo em Família (A Family Affair), enquanto o Prime Video lançou Uma Ideia de Você (The Idea of You).

Em 16 de março, o Prime Video lançou Uma Ideia de Você, adaptação do livro de Robinne Lee que traz uma mulher recém divorciada se adaptando à nova vida, ao lado da filha, e um dia precisa levá-la a um festival de música. Lá, por acidente, conhece um dos boys da band mais famosa do planeta. Hayes Campbell, de 24 anos, é cobiçado por milhares de fãs da August Moon, mas é Solène quem lhe chama a atenção.

Nos papéis principais, temos a mais do que estabelecida Anne Hathaway, vencedora do Oscar por Os Miseráveis (Les Misérables, 2012), como Solène, e o astro em ascensão Nicholas Galitzine (o príncipe de Vermelho, Branco e Sangue Azul, 2023), escolhido recentemente para viver He-Man no novo Mestres do Universo. A química entre os dois é interessante, apesar de ele ser um pouco inexpressivo, e o carisma de Hathaway segura as pontas. Os conflitos enfrentados pelo casal parecem um tanto forçado, mas não deixam de ter um pé na realidade.

Na concorrência, a Netflix, chegou no fim de maio Tudo em Família (A Family Affair), que traz as mesmas questões sendo vividas por outra mãe, Brooke, e acrescenta ao caldo uma filha crisenta que acha que o universo gira em torno de seu nariz. A garota trabalha como assistente de um ator extremamente famoso, daqueles estragados pela fama, cheios de vontades. Um dia, os caminhos da mãe e do ator se cruzam e o romance floresce.

Assim como o outro filme, esse se segura nas costas de sua protagonista, ninguém menos que Nicole Kidman (vista há pouco como mãe do Aquaman). A atriz dá à personagem o peso necessário, já que Brooke é uma escritora premiada – outra causa para atrito com a filha, que se acha menos. O intérprete da prima donna que responde por Chris Cole é Zac Efron, ainda exibindo aqueles músculos desenvolvidos para Garra de Ferro (Iron Claw, 2023). Como os dois atores têm presenças fortes, o casal funciona melhor.

Além dos dois principais, Tudo em Família ainda conta com Joey King, a estrela da franquia da Barraca do Beijo, que faz o que pode como a filha mimada e egoísta que acha que só o chefe dela é problemático. E temos ainda Kathy Bates (de O Caso Richard Jewell, 2019), sempre ótima em cena, fechando o grupo principal.

Com menos conflitos a serem resolvidos, Tudo em Família parece mais simples e dá menos voltas no espectador. Você pode achar isso mais honesto ou mais sem graça, preferindo o dramalhão de Uma Ideia de Você. Os dois filmes, no entanto, devem passar igualmente rápidos pela sua mente, não deixando qualquer tipo de lembrança ou reflexão. Certamente, há opções melhores nos dois streamings.

Os casais que seguram os filmes nas costas

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Jack Ryan ataca no cinema e na TV

Jack Ryan (2018-2023)

Hoje elogiado como diretor e roteirista, e não “só” como comediante (algo muito difícil de fazer, mas comumente desmerecido), John Krasinski (mais lembrado por The Office) brilhou como Jack Ryan, analista financeiro da CIA forçado a se tornar agente de campo quando um suspeito que ele vinha monitorando começa a movimentar grandes quantias de dinheiro. O personagem, criado pelo falecido escritor Tom Clancy, já chegou aos cinemas na pele de quatro atores diferentes e em cinco produções, indo e voltando no tempo entre elas. O número de livros já chega a 40, contando os 17 escritos por Clancy e os dos vários escritores que deram continuidade à saga

Na série da Amazon Prime Video, que chegou ao fim em sua quarta temporada, no ano passado, Ryan é um analista da CIA em início de carreira, modernizando a história do personagem. Isso faz com que a cronologia dos filmes não seja exatamente obedecida, como se fosse um Jack Ryan de outro universo (já que o Multiverso é uma moda atual). Assim, esse Ryan atual usa celular e todos os recursos que nossa tecnologia permite.

Os episódios são bem trabalhados e carregados de tensão, com um protagonista crível, mas não só ele: os coadjuvantes e até o vilão têm suas vidas exploradas. E os norte-americanos não são os bonzinhos do mundo, como costumam aparecer. Você pode não concordar com o vilão (e nem deve), mas dá para entender a forma dele de pensar. Os atores escolhidos trazem bastante veracidade aos seus personagens e às situações vividas.

Aproveitando que a série chegou ao fim, e são apenas 30 episódios, fica a recomendação para uma maratona no Amazon Prime Video. E, pegando esse gancho, trago um rápido resumo de cada produção estrelada por Jack Ryan no cinema. Todos entregam o que se espera: ação, tensão, tiroteios e traições, sendo que apenas o último fica abaixo da média.

A Caçada ao Outubro Vermelho (The Hunt for Red October, 1990)

Dirigido pelo mestre da ação John McTiernan logo após Duro de Matar, o longa traz Alec Baldwin como Jack Ryan, um jovem analista que conhece as características do Outubro Vermelho, um submarino soviético que ruma aos Estados Unidos, e se encontrou brevemente com o capitão dele há anos. Ryan precisa praticamente adivinhar as intenções do capitão e evitar uma guerra. Quem rouba a cena como o desertor lituano é Sean Connery, e o elenco ainda traz nomes como James Earl Jones, Scott Glenn e Sam Neill.

Jogos Patrióticos (Patriot Games, 1992)

Outro grande nome do gênero, Phillip Noyce comanda o longa que traz Jack Ryan em férias na Inglaterra com a família. No lugar errado e na hora errada, ele evita um atentado contra um político membro da família real e passa a ser perseguido pelos terroristas, liderados por Sean Bean. Harrison Ford vive um Ryan mais velho, que deixou as aventuras de lado e se tornou professor de História na Academia Naval, com mulher e filha. James Earl Jones segue como o almirante mentor de Ryan, mostrando ligação com o longa anterior.

Perigo Real e Imediato (Clear and Present Danger, 1994)

Noyce e Ford voltam ao Ryanverso com Jack Ryan promovido a Diretor de Inteligência da CIA. Um outro grupo da agência, com a anuência do presidente, promove uma ação contra cartéis da droga e Ryan é colocado como negociador entre as partes, se tornando alvo dos traficantes. Ryan conhece aqui John Clark (vivido por Willem Dafoe), outro personagem importante nas histórias de Clancy.

A Soma de Todos os Medos (The Sum of All Fears, 2002)

Noyce e Ford não conseguiram chegar a um acordo quanto ao roteiro e abandonaram o projeto. Numa tentativa de começar a franquia novamente, Ben Affleck vive um Ryan mais novo, um analista da CIA que precisa evitar uma guerra nuclear que pode ser iniciada por um neonazista. Mesmo não sendo uma maravilha, o filme faturou bem nas bilheterias, mas os produtores tiveram receio de seguir com Affleck devido ao fracasso retumbante de Gigli – Contato de Risco e não deram continuidade à franquia.

Operação Sombra: Jack Ryan (Jack Ryan: Shadow Recruit, 2014)

Menos envolvente que todos os demais, o longa traz Chris Pine no papel principal, seguindo o sucesso da trilogia Star Trek, e não fez bilheteria suficiente para ter uma continuação. Primeiro filme de Jack Ryan que não é baseado num livro de Tom Clancy, Operação Sombra é mais um reboot, mostrando o personagem mais jovem. Sem se preocupar em ser coerente com os anteriores, o filme tem Kenneth Branagh como diretor e como o vilão russo que pretende colapsar o mercado financeiro americano. O elenco ainda conta com Kevin Costner e Keira Knightley. (Clique aqui para ler a crítica)

Bônus: Sem Remorso (Without Remorse, 2021)

Frequentemente aparecendo como coadjuvante de Jack Ryan, o agente John Clark tem suas próprias histórias e Sem Remorso traz uma delas. Michael B. Jordan vive o sujeito, que busca vingança contra os assassinos da esposa dele e sai dando tiros pra todo lado. Se não é excelente, ao menos não é ruim também, ficando ligeiramente acima da média. (Clique aqui para ler a crítica)

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Conheça os filmes solo do Batman

Devido a um trabalho acadêmico, me propus a rever todos os oito filmes solo do Batman, do primeiro do Tim Burton ao mais recente, do Matt Reeves, passando por Joel Schumacher e Christopher Nolan. Segue o balanço, com comentários rápidos sobre cada um:

01 – Batman (1989)

A década de 80, depois do bem sucedido lançamento principalmente de Ano Um e O Cavaleiro das Trevas, ambas as sagas dos quadrinhos assinadas por Frank Miller, permitiu à Warner contratar Tim Burton e fazer um filme mais sombrio de Batman. Dessa forma, surgiu o longa que traz Michael Keaton no papel do vigilante mascarado, e o ator não faz feio nem como Bruce Wayne, misterioso e perturbado, nem como Batman. Jack Nicholson rouba a cena como o Coringa, um tiozão piadista e homicida que representa o outro lado da moeda, um contraponto a Batman. Filmão!

02 – Batman: O Retorno (Batman Returns, 1992)

Sem influência de produtores, Burton volta ao universo que criou e aumenta as apostas, fazendo um filme ainda mais sombrio, cheio de referências de cunho sexual e de explicações rasas, além de transformar a Michelle Pfeiffer em Mulher-Gato ao cair de uma torre altíssima. A lógica passou longe e os fãs (eu incluso) costumam gostar muito, apesar de vários problemas. Danny DeVito é outro vilão a brilhar, como um Pinguim repulsivo que cospe bile.

03 – Batman Eternamente (Batman Forever, 1995)

Depois de Burton ter chocado as famílias dos cidadãos de bem e afastado os patrocinadores, a Warner o relegou à posição de produtor sem apito e passou a direção a Joel Schumacher, que pretendia fazer um filme mais favorável a crianças, mas dobra as referências sexuais. Focado em vender tranqueiras, o diretor faz uma aventura com alguns méritos, mas os defeitos saltam da tela. O tom do filme é errado desde o início, desperdiçando um ótimo elenco – leia-se Val Kilmer, Jim Carrey e Tommy Lee Jones. Schumacher produz algumas imagens bonitas, mas um filme 100% irritante que, apesar de ter faturado bem em bilheterias e em produtos vendidos, desapontou qualquer fã do herói, e de cinema em geral.

04 – Batman & Robin (1997)

“Se eles gostaram do primeiro, vamos mais longe no segundo”, pensou Joel Schumacher. Fez uma atrocidade, provando que quanto mais dinheiro davam a ele, pior era o resultado. Mais personagens, mais cores, mais bobagens, mais mamilos nos uniformes (acima). George Clooney até hoje pede desculpas por ter participado disso, mas a verdade é que a culpa é toda do diretor, que topou as exigências da Warner, que queria ganhar mais dinheiro com licenciamentos, e adicionou suas próprias esquisitices. Para quem não se lembra, temos um Bane burro, capanga da Hera Venenosa de Uma Thurman, e um Sr. Frio engraçadinho, com Arnold Schwarzenegger fazendo toda sorte de piadas de baixas temperaturas. É um suplício chegar ao final da sessão.

05 – Batman Begins (2005)

Depois que a poeira do fracasso de público e crítica de Batman & Robin baixou, num intervalo de oito anos, a Warner parece ter aprendido alguma coisa e aceitou a proposta de um diretor independente e elogiado de contar a origem do Homem-Morcego. Vindo do sucesso de dois longas policiais de influências noir, Christopher Nolan chamou o viciado em quadrinhos David Goyer para escreverem juntos o que, se fosse bem sucedido, seria o início de uma trilogia, e escalou o galês Christian Bale para o papel principal. Esse é só um dos grandes nomes de um elenco que inclui Morgan Freeman, Gary Oldman, Michael Caine, Rutger Hauer, Tom Wilkinson, Ken Watanabe e Liam Neeson, além do então pouco conhecido Cillian Murphy. O sucesso estrondoso garantiu Nolan na sequência.

06 – Batman: O Cavaleiro das Trevas (The Dark Knight, 2008)

Normalmente apontado como um filme excelente, e não apenas uma boa adaptação de quadrinhos, O Cavaleiro das Trevas vai muito mais longe que a aventura anterior, com personagens interessantes e um roteiro impecável. Indo na contramão dos colegas que viveram o Coringa antes dele, Heath Ledger (acima) compõe um psicopata de tom baixo, realmente ameaçador e com um sotaque meio caipira. Ao dizer que não faz planos, ele engana a todos, já que é exatamente o plano dele que move a trama e envolve o promotor Harvey Dent, vivido por Aaron Eckhart, de maneira trágica. Filme para rever sempre que possível.

07 – Batman: O Cavaleiro das Trevas Ressurge (The Dark Knight Rises, 2012)

Final digno para a trilogia de Christopher Nolan, o longa fica aquém dos anteriores, mas ainda é um bom filme. Tom Hardy faz algumas escolhas estranhas na composição do vilão Bane, mas acaba funcionando bem. Algumas saídas fáceis do roteiro enfraquecem o resultado e Nolan toma uma decisão que desagrada boa parte dos fãs. No entanto, encerra bem a saga e o diretor decidiu parar ali, mesmo sendo convidado a continuar.

08 – Batman (The Batman, 2021)

Mais um caso de contratação criticada desde o início (além de Michael Keaton e Heath Ledger, principalmente), Robert Pattinson calou a boca geral fazendo um Batman grunge, deprimido e “faça você mesmo”, que até costura a própria máscara. Matt Reeves seguiu o modelo Nolan ao tentar ser o mais realista possível e foi o primeiro no cinema a ressaltar o lado detetive do herói. Em início de carreira, Batman é falho, em meio a investigações, e vai chegar ao mito que conhecemos por tentativa e erro. Ótimo elenco, e o Pinguim de Colin Farrell ganhou uma série, que estreia em setembro. Em 2026, chega a Parte II.

Em setembro chega o Pinguim!

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Universo DC: um balanço final

Com o final do Universo Extendido DC, ou DC Extendend Universe, que atendia pela sigla DCEU, cabe fazer um ranking com todas as produções lançadas. Indo de 2013 a 2023, esse universo foi marcado por uma total falta de coesão, já que os filmes pouco têm a ver uns com os outros e boa parte não se comunica com os demais, nem parecendo fazer parte de um todo. Ou seja: o oposto do que fez a Marvel, cujos filmes são tão interligados que parecem um esquema de pirâmide: precisa ver um para entender o outro e assim sucessivamente.

Com a contratação de James Gunn e Peter Safran (acima) para liderarem o departamento de filmes em live action (com atores), as coisas devem mudar. No primeiro anúncio oficial da dupla, já foram enfileiradas uma sequência de filmes e séries que farão sentido como um todo, construindo o novo DCU – ou Universo DC. Ao que tudo indica, eles darão maior liberdade aos artistas envolvidos, principalmente diretores e roteiristas, ao contrário do que vinha sendo feito até então, com cineastas querendo lançar uma segunda versão de seus filmes como a definitiva.

Confira, abaixo, a ordem de colocação entre as 16 produções do finado DCEU (com links para as críticas completas) e comentários rápidos:

16- Esquadrão Suicida (Suicide Squad, 2016)

Atrocidade cometida por David Ayer, cujo resultado, segundo ele, ficou muito longe do que ele havia planejado. Várias músicas excepcionais são desperdiçadas numa trama sem sentido que reúne personagens sem sentido, como a ótima Arlequina, que é totalmente desperdiçada em meio a um supergrupo ao qual ela não pertence. Horroroso!

15- Besouro Azul (Blue Beetle, 2023)

Primeiro herói latino que vemos na telona traz todos os estereótipos possíveis e personagens irritantes que só gritam, numa trama que não faz sentido com uma vilã genérica e chata. Por incrível que pareça, o personagem segue adiante no novo universo DC (DCU), mas esperamos poder esquecer essa besteira.

14- Shazam! Fúria dos Deuses (Shazam! Fury of the Gods, 2022)

O escopo do filme é aumentado, para ter uma ameaça maior, mas os buracos de roteiro acabam sendo enormes também. Vilãs inexpressivas desperdiçam a grande Helen Mirren e destroem a cidade, colocando o público numa situação de anestesia, sem se importar com o que possa acontecer. Personagens tomam determinadas atitudes apenas para que o filme possa seguir, mesmo que sem o menor sentido.

13- O Homem de Aço (Man of Steel, 2013)

Cuspindo no cânone do Homem de Aço, Zack Snyder inicia esse universo DC irritando boa parte dos fãs do herói. Se fossem só alterações, tudo bem. No entanto, ele mexe onde fica sem sentido, tipo um filho deixando o pai morrer sendo que ele poderia facilmente interferir. Tudo é muito chutado, com soluções fáceis, mas não sem antes destruir quase toda Metrópolis numa luta interminável e cansativa – para quem está assistindo. O universo DC parecia morto em seu nascimento.

12- Batman vs Superman: A Origem da Justiça (Batman v Superman: Dawn of Justice, 2016)

Temos, aqui, um Superman totalmente insosso sendo introduzido ao Batman de Ben Affleck, um ator limitado, mas que funciona bem no papel. A trama, e o principal, o seu desenrolar, são ridículos, com todo um conflito sendo resolvido por um nome. Para que se tivesse uma pancadaria entre os dois, era preciso ter um problema a ser trabalhado no braço, mas tudo ficou bem ridículo. Os coadjuvantes ajudam, como o Alfred de Jeremy Irons, e a introdução da Mulher-Maravilha (e sua marcante trilha) impedem por pouco o filme de se tornar uma bobagem.

11- Mulher-Maravilha 1984 (Wonder Woman 1984, 2020)

Execrado a torto e a direito, o longa traz símbolos da década de 80 para situar sua trama, protagonizada por uma heroína que tenta se manter em segredo mesmo se escancarando em frente a museus e câmeras de televisão. A diretora e roteirista Patty Jenkins constrói uma aventura divertida, sem sentido em certos momentos, que não chega a lugar algum. Parece uma daquelas histórias em quadrinhos que você se esqueceu de ter lido.

10- Liga da Justiça (Justice League, 2017)

Com um diretor que conhece bem o Universo Marvel (Joss Whedon, dos dois Vingadores), ficou mais fácil repetir alguns acertos da editora rival. A dinâmica entre alguns dos ícones da DC funciona, mesmo que tudo termine de maneira afobada e sem qualquer apelo ao público. Suas histórias pregressas são razoavelmente desenvolvidas e a dinâmica entre eles funciona, com tudo soando bem superficial.

9- Liga da Justiça de Zack Snyder (Zack Snyder’s Justice League, 2021)

Depois de ele próprio puxar o coro dos fãs, Zack Snyder conseguiu junto à DC fazer sua versão da Liga da Justiça. Remontando as cenas já filmadas, usando duas vezes a duração original e dividindo em capítulos, o diretor desenvolveu sua visão e deu mais tempo de cena para cada herói, mas ainda continuou sobrando estilo e faltando conteúdo.

8- Adão Negro (Black Adam, 2022)

Fazer um filme com um vilão forte e não poder usar um herói à altura, no caso Shazam, é sem sentido, e colocam vários heróis “menores” para Adão Negro enfrentar, deixando sempre o foco em Dwayne “The Rock” Johnson. A relutância em mostrá-lo como vilão incomoda e falta nexo à história, mas os demais personagens são bem feitos e a ação desenfreada mantém o público entretido, sem pensar muito. E percebemos a dedicação de Johnson ao projeto, que teria tido um futuro longo na DC se a bilheteria justificasse.

7- Aquaman e o Reino Perdido (Aquaman and the Lost Kingdom, 2023)

Se não revoluciona nada, ao menos diverte e dá continuidade à saga do herói dos mares fazendo sentido. Alterna bem humor e tensão e ainda deixa uma discreta mensagem de defesa ambiental. Depois de tantos tropeços, James Wan encerra bem este universo DC e Jason Momoa se despede do personagem.

6- Aves de Rapina: Arlequina e sua Emancipação Fantabulosa (Birds of Prey and the Fantabulous Emancipation of One Harley Quinn, 2020)

Raro caso de personagem menor, geralmente associada a um maior, que se dá bem sozinha. Ou não exatamente, já que ela ganha outras companhias bem interessantes. O longa aproveita o sucesso de Margot Robbie como Arlequina dando a ela o protagonismo, com um roteiro raso e um vilão mequetrefe. Tudo é bem amarrado pela diretora Cathy Yan e quase não percebemos a falta de substância.

5- The Flash(2023)

Finalmente ganhando sua aventura solo, o Flash do problemático Ezra Miller chega ao ápice de seu poder e percebe que consegue viajar no tempo e espaço, sendo assim a figura que nos revela a complexidade do multiverso DC. Isso permite ao filme usar várias participações especiais e elas acabaram chamando muita atenção, com direito a três Batmen – e é ótimo rever Michael Keaton no papel. Miller segura bem a peteca com dois personagens e entretém belamente o público.

4- Shazam! (2019)

Um herói que é uma criança num corpo adulto, mas com bons ideais, escolhido por um mago milenar para ser o campeão dele na Terra. A ideia funciona na prática e o filme é divertido, com um vilão bem desenvolvido e atuado – cortesia de Mark Strong – e toda uma família de coadjuvantes interessantes, que funcionam. Uma aventura leve, divertida, onda a esperança prevalece, muito longe do que Zack Snyder vinha fazendo.

3- Mulher Maravilha (Wonder Woman, 2017)

Uma das melhores caracterizações da DC, a Mulher-Maravilha de Gal Gadot tem a sua história contada em meio à Segunda Guerra Mundial. Um filme devidamente iluminado, que passa uma mensagem de esperança, ao contrário das obras sombrias de Zack Snyder. Com um discreto aceno ao feminismo, a diretora Patty Jenkins aproveita uma personagem geralmente insossa nos quadrinhos e faz uma aventura de fôlego e conteúdo.

2- O Esquadrão Suicida (The Suicide Squad, 2021)

Durante um curto imbróglio com a Marvel, James Gunn (responsável pelo sucesso dos Guardiões da Galáxia) se viu disponível para a editora rival e assumiu o Esquadrão Suicida, que havia tido um longa terrível cinco anos antes. Reorganizando tudo, Gunn trouxe novos personagens, aproveitou os que julgou pertinentes e criou uma história bem amarrada e divertida, do tipo que esperamos quando assistimos a uma adaptação de história em quadrinhos.

1- Aquaman (2018)

Seguindo a fórmula da Marvel, com aventuras solares bem desenvolvidas e bem humoradas, James Wan chegou ao universo DC trabalhando um personagem que nunca foi estrela na editora, mas encontrou o intérprete perfeito. Na pele e barba de Jason Momoa, Aquaman se tornou um sujeito interessante, e cercado por bons coadjuvantes, com um elenco fantástico e muito acertado. Assim como o Homem de Ferro fez na rival, Aquaman chegou como quem não queria nada e logo assumiu o primeiro lugar no DCEU.

Correndo por fora, temos O Pacificador, série de TV dirigida por James Gunn, o mesmo diretor que comandou O Esquadrão Suicida (de 2021) e aproveitou um personagem de lá para desenvolver uma história independente. O sujeito vivido por John Cena continua bem estúpido, algo que Cena faz muito bem, e seu círculo de coadjuvantes funciona muito bem, algo como um Inspetor Closeau, de A Pantera Cor de Rosa. A trama, absurda, é desenvolvida de forma que a compremos, e ainda torcemos por esse anti-herói.

Zack Snyder deu o adeus definitivo ao universo DC

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Pacote de séries – maio 2024

Confira comentários rápidos sobre 10 séries que estrearam recentemente em streamings variados.

 

Ripley (Netflix)

Do universo criado pela grande escritora Patricia Highsmith, Ripley reconta a trama do livro O Talentoso Ripley, que já chegou ao cinema em 1960 (O Sol por Testemunha) e em 1999 (O Talentoso Ripley). Andrew Scott (acima) é ótimo, mas faz um Ripley mais velho do que o personagem deveria ser, o que fica esquisito. A fotografia, no entanto, é ótima e a duração permite desenvolver melhor certas passagens.

 

Bebê Rena (Netflix)

Um barman oferece uma xícara de chá para uma cliente sem dinheiro e passa a ser seguido por ela, que fica obcecada por seu “bebê rena”. Duas pessoas psicologicamente complicadas num embate que vai do nonsense ao trágico, numa história dita real da qual não sabemos o que de fato teria acontecido.

 

Monsieur Spade (AMC)

Criativa imaginação da continuação da vida do clássico detetive noir Sam Spade, criação de Dashiell Hammett. Clive Owen está muito bem como o sujeito durão, de coração mole, que precisa resolver um mistério sangrento no interior da França dos anos 60.

 

Sugar (Apple TV)

História policial com o nosso Fernando Meirelles na direção de cinco episódios e Colin Farrell como um detetive irritantemente bonzinho, que não gosta de violência e busca pessoas desaparecidas. A trama intrincada envolve um produtor de cinema, cuja neta sumiu, e é sempre bom ver o veterano James Cromwell em cena.

 

Feud: Capote vs. The Swans (FX)

O famoso escritor Truman Capote volta a ser personagem na nova temporada de Feud, série antológica de Ryan Murphy que teve sua primeira temporada em 2017. Dessa vez, acompanhamos a briga de socialites de Nova York com o ex-amigo, que só conseguiu vencer um bloqueio criativo escrevendo as confidências delas para todos lerem. Indicado para quem gosta de saber da vida alheia, a popular fofoca, traz ótimas atuações de Naomi Watts, Diane Lane, Chlöe Sevigny e Tom Hollander, além do finado Treat Williams.

 

X-Men ‘97 (Disney+)

Como o nome já esclarece, trata-se da continuação da animação dos X-Men dos anos 90, exibida de 92 a 97. Atingindo em cheio marmanjos nostálgicos, a série traz a vida na mansão Xavier, frequentada pelos X-Men e pelos jovens mutantes que estudam lá. O tom é um pouco mais sério que anteriormente e temos os problemas de sempre dos personagens, que buscam uma existência harmoniosa com os humanos.

 

O Problema dos Três Corpos (Netflix)

Série americana metida a besta que adapta um livro chinês – que já havia virado uma série chinesa. Os responsáveis por Game of Thrones partem para outro tipo de ficção, dessa vez com alienígenas malignos e humanos chatíssimos tendo que garantir a sobrevivência da nossa raça. 

 

Borboletas Negras (Netflix)

Trama envolvente, cheia de reviravoltas, sobre um idoso que contrata um escritor para contar sua vida e ter um livro com a história. Bem atuada, a série francesa prende o espectador e faz querer chegar logo ao final.

 

Jury Duty (Amazon Prime Video)

Um toque de leveza em meio a tantas atrações pesadas, a série traz um sujeito comum que é convocado a ser jurado sendo que todos os demais envolvidos são atores. Há situações bem divertidas e a inocência de Ronald cativa.

 

The Bear S02 (Star+)

A segunda temporada leva a história adiante enquanto todos preparam o novo restaurante, com direito a Carmen se apaixonar e Richie brilhar sozinho.

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