
A nova versão de Frankenstein (2025), dirigida por Guillermo del Toro, é uma obra visualmente arrebatadora e ambiciosa, que reconta o clássico de Mary Shelley com um olhar poético e trágico ainda maior que no livro, seguindo um caminho distinto das adaptações anteriores. Ainda que carregue o peso da grandiosidade estética e da esperada assinatura autoral do cineasta, o filme também sofre com algumas decisões narrativas que o afastam das questões essenciais do romance original.
Entre os maiores acertos desta produção da Netflix, estão as interpretações. Jacob Elordi (o Elvis de Priscilla, 2023), no papel da Criatura, está surpreendente. Ele desaparece sob a maquiagem, equilibrando dor, inocência e fúria com rara sensibilidade. Sua presença em cena evoca empatia e desconforto, fazendo da criatura um ser complexo, mais humano do que monstruoso. Oscar Isaac (o Cavaleiro da Lua) também se destaca como Victor Frankenstein, dando vida a um cientista tomado pela obsessão e pela culpa, dividido entre o impulso criador e o horror de sua própria obra. O elenco de apoio, principalmente Christoph Waltz (o Blofeld de 007) e Mia Goth (de Pearl, 2022), acrescenta qualidade ao longa, ainda que haja bons atores poucos aproveitados – o caso mais gritante é o de Charles Dance (Mank, 2020). E a estranheza de Goth afasta sua Elizabeth das mocinhas usuais. É curioso, mas foge da fonte.
A parte técnica é impressionante, como se pode esperar de uma produção de del Toro. A direção de arte e o figurino recriam com esmero o universo gótico da história, mesclando laboratórios sombrios e paisagens vitorianas de maneira hipnótica. A fotografia do colaborador habitual Dan Laustsen é um espetáculo à parte: o jogo de luz e sombras e o uso das cores para marcar os momentos reforçam a melancolia. Os efeitos práticos, privilegiados em detrimento do CGI, dão ao filme maior realismo, aproximando o espectador do desconforto físico e emocional que a narrativa propõe.

Del Toro dá ao filme um tom elegíaco, quase uma ode ao sofrimento e à solidão de suas criaturas. O dilema central original permanece: quem é, afinal, o verdadeiro monstro? O criador ou a criatura? A solidão, o desejo de pertencimento e o peso da rejeição atravessam as cenas, mantendo a reflexão sobre a natureza da humanidade e seus limites morais. No entanto, as liberdades tomadas com o texto original nem sempre resultam bem. A primeira metade da obra sofre com um ritmo excessivamente lento, com longos trechos dedicados ao passado de Victor e à preparação para a criação da criatura. Essa dilatação narrativa, embora compreensível no projeto de construção de atmosfera, acaba por enfraquecer a tensão e dispersar o impacto emocional.
Algumas mudanças na história soam desnecessárias, como o fato de Victor ter um mecenas. Ou de o irmão ser adulto e o amigo ter sumido, juntando os dois em um. Outras, vão no caminho contrário que Shelley havia colocado no papel. Victor é muito pior aqui do que a escritora jamais pensou, e o personagem perde complexidade com isso. Ele se torna apenas um babaca, perdendo boa parte da dualidade do livro. Ao humanizar demais a criatura e atenuar sua dimensão monstruosa, o filme perde parte da ambiguidade moral que torna o original de Shelley tão poderoso.

Certos acréscimos, como um fator de cura e aspectos quase heroicos, aproximam a trama do gênero fantástico e afastam-na da tragédia filosófica que a inspirou. A Marvel parece ter influenciado del Toro. O foco ampliado nas motivações paternas e psicológicas de Victor, embora interessante, também dilui a força do confronto entre criador e criação. E o ponto principal se perde: Victor não se arrepende de ter brincado de Deus, mas de ter criado algo que considera burro.
A estética basicamente se sobrepõe à essência. O filme, belíssimo em cada quadro, parece por vezes mais preocupado com esse aspecto do que em provocar desconforto ou horror. Ou mesmo de ter lógica: é para acreditarmos que um experiente capitão enfiaria seu navio naquele continente de gelo? Não era mais coerente ter feito um grande bloco, que poderia ter aparecido de surpresa? A grandiloquência da direção e a busca pelo espetáculo enfraquecem o silêncio, o medo e a inquietação moral que deveriam marcar a história.A mudança de comportamento de Victor rumo ao final é bem brusca, até atropelada.
Frankenstein (2025) permanece uma experiência cinematográfica digna, como qualquer projeto de del Toro. É uma leitura sensível e sofisticada, conduzida por um diretor que entende a beleza no grotesco, como é costume em suas obras. No entanto, a sensação final é desapontadora: a de que se assiste a um espetáculo fascinante, mas que carrega em si mudanças desnecessárias, distantes dos elementos que fizeram do Frankenstein original uma obra imortal. Para ver uma obra mais satisfatória e fiel, fique com o longa homônimo de 1994, e ainda tenha a chance de ver Robert De Niro como a Criatura.

A versão de 1994, de Kenneth Branagh, segue uma das mais fiéis, com De Niro como a Criatura
























Ao contrário do que muitos pensaram há uns anos, o terceiro Invocação do Mal (The Conjuring) não concluiu as aventuras da família Warren no Cinema. O quarto filme, O Último Ritual (The Conjuring: Last Rites, 2025), chega essa semana aos cinemas prometendo, esse sim, levar a extrema unção à história de Ed e Lorraine. O problema, que já derruba as expectativas acerca do projeto, é o nome do diretor: Michael Chaves comandou o longa anterior, 
















