DC ataca na TV com Pacificador

Apresentado ao público no segundo Esquadrão Suicida (The Suicide Squad, 2021), o Pacificador é um personagem bem contraditório. Se acha um super-herói, mas não tem poderes. Jura defender a paz, mas não hesita em matar para conseguir isso. E, ao menos no filme, não tinha nada de profundidade, sendo apenas mais um entre vários criminosos condenados destacados para uma missão quase impossível. Suicida. Agora, na TV, ele tem uma história bem desenvolvida e se tornou protagonista de sua própria série. 

Criado nos anos 60 na finada Charlton Comics e vendido à DC no fim da década de 80, o Pacificador já teve diferentes encarnações. O diretor e roteirista James Gunn, ao pensar na sua versão do Esquadrão Suicida, convocou Christopher Smith, um diplomata pacifista que usa a violência para defender o que acredita. Gunn criou uma versão ainda mais interessante e, antes de mais nada, bem estúpida. Smith é do tipo que acredita em tudo que lê na internet e se informa pelo Facebook. Parece ter um bom coração, mas a criação pelo pai nazista e um trauma de infância ferraram sua cabeça, fazendo com que desenvolvesse uma personalidade homicida que acabou metendo-o em encrencas.

No filme do ano passado (que reabilitou o Esquadrão depois da bomba de 2016), Smith recebe a oportunidade de sair da prisão para uma missão complicada e, assim, diminuir sua pena. Passados esses eventos, a série começa com o sujeito sendo convocado para uma nova tarefa, que ele aceita para evitar o encarceramento. O mais engraçado é que sempre acompanhamos os demais personagens confabulando, mas ele sempre boia e mal sabe no que está se metendo.

Sem saber qual ou o que é o alvo, Smith se junta a uma equipe inusitada formada por uma mercenária fodona e dois auxiliares que parecem nunca ter ido a campo e são liderados por um cara que parece ser muito mau, mas do qual não sabemos nada. Acima deles, segue a burocrata Amanda Waller, novamente vivida por Viola Davis. A eles, se junta Adrian Chase, um vigilante que domina como ninguém armas e lutas e atende pelo nome de… Vigilante! Ele considera Smith seu melhor amigo, e a recíproca não é verdadeira. E é tão burro quanto.

Além de escrever os oito episódios da série, Gunn ainda dirigiu cinco. Ele diz ter percebido o potencial do personagem durante a realização do longa, e gostou muito do trabalho do intérprete dele, John Cena. Ex-lutador, ele fez diversas comédias bestas e ações descerebradas até que alguém notasse seu talento dramático. Mas não se engane: comédia e ação são os pontos principais de Pacificador. E os demais nomes do elenco, completo por Danielle Brooks, Freddie Stroma, Chukwudi Iwuji, Jennifer Holland, Steve Agee e o veterano Robert Patrick, o eterno T-1000, são ótimos e bem variados, trazendo tipos muito interessantes à atração. E você ouvirá os melhores diálogos que a televisão pode oferecer.

Quem viu qualquer trabalho anterior de James Gunn sabe exatamente o que esperar. Músicas características de uma vertente, uma trama louca e discussões engraçadíssimas que parecem saídas de Seinfeld são algumas das assinaturas do roteirista, que sempre se mostra também um diretor muito criativo. A dancinha da apresentação que o diga. Exibida pela HBO Max, braço televisivo da Warner/DC, a série é a primeira desse universo compartilhado da casa de Superman e Batman, e não deixa de fazer piada com seus medalhões. Mesmo em curtos oito episódios, sobra para todo mundo. E já ficamos na expectativa por uma próxima temporada.

Essa dupla é uma das melhores surgidas na TV dos últimos anos

Sobre Marcelo Seabra

Jornalista e especialista em História da Cultura e da Arte, é atualmente mestrando em Design na UEMG. Criador e editor de O Pipoqueiro, site com críticas e informações sobre cinema e séries, também tem matérias publicadas esporadicamente em outros sites, revistas e jornais. Foi redator e colunista do site Cinema em Cena por dois anos e colaborador de sites como O Binóculo, Cronópios e Cinema de Buteco, escrevendo sobre cultura em geral. Pode ser ouvido no Programa do Pipoqueiro, no Rock Master e nos arquivos do podcast da equipe do Cinema em Cena.
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