Batman ressurge e encerra a trilogia de Nolan

por Marcelo Seabra

A primeira coisa a se dizer sobre a trilogia Batman de Christopher Nolan é: nada é menos que ótimo, pelos três filmes. Após assistir a Batman: O Cavaleiro das Trevas Ressurge (The Dark Knight Rises, 2012), uma sensação de alívio é inevitável. O padrão foi mantido, o personagem é respeitado, ninguém pisa na bola. Erros de outras séries passaram longe. No entanto, o único problema com o filme é apenas o fato de ser a sequência do fantástico O Cavaleiro das Trevas (The Dark Knight, 2008), que segue com o título de melhor adaptação de quadrinhos já realizada. A expectativa criada é gigantesca e fica difícil corresponder.

A primeira parte de uma trilogia deve apresentar personagens, cenários, situações. Na última, é o momento de se amarrar as pontas soltas, deixadas aqui e ali, propositalmente ou não. Inevitavelmente, a segunda parte leva vantagem, ela pode usar melhor o tempo para desenvolver sua própria história e deixar o todo para depois. Logo, Batman Ressurge (chamemos assim para facilitar) tem que dar um destino aos personagens já conhecidos, além de precisar apresentar alguns novos para trazer aquela necessária dose de ar fresco. Ter muitas figuras em cena pode ser complicado, mas os Nolans dão conta do recado.

A história, de David Goyer e Christopher Nolan, aproveita características de algumas revistas em quadrinhos, mais especificamente a graphic novel Ano Um (no que diz respeito à Mulher Gato) e a saga A Queda do Morcego (sobre Bane – ao lado). Isso era óbvio desde os trailers, e não significa que tudo será aproveitado. A trama do filme é totalmente nova, seguindo caminhos independentes de qualquer outro produto envolvendo Batman. Em certos momentos, fica uma dúvida sobre o tempo que se levou para determinada ação, ou como fulano chegou naquele ponto. Outro ponto negativo que chama a atenção é a repetição de algumas situações vistas no longa anterior, mudando-se – é claro! – o contexto. Mas o roteiro dos Nolans (o diretor e Jonathan) envolve o espectador a tal ponto que passamos por cima dessas pequenas falhas.

Batman Ressurge, curiosamente, tem boa parte de suas cenas sem o Batman propriamente dito, o que o faz focar bastante em Gotham e nos cidadãos da cidade. Isso aumenta ainda mais o interesse do público por permitir um desenvolvimento dos personagens, e ainda podemos torcer por um ou outro. Mais uma vez (como no longa anterior), tememos pela integridade física daqueles nossos velhos conhecidos (e novos também), e Nolan já provou que nada é “sagrado”.

O elenco, como era de se esperar, é ótimo. Rostos já manjados (Christian Bale, Gary Oldman, Michael Caine, Morgan Freeman e companhia) recebem bem os novatos da série, que se enturmam facilmente. As maiores atrações são Anne Hathaway (de O Diabo Veste Prada, de 2006) e Tom Hardy (de Guerreiro, 2011), que vivem os personagens mais esperados: Selina Kyle (ou a Mulher-Gato) e Bane. Chegam ainda Joseph Gordon-Levitt (de 50%, 2011), Marion Cotillard (de A Origem, 2010), Matthew Modine (de Nascido para Matar, 1987), Ben Mendelsohn (de Reino Animal, 2011) e o sumido veterano Tom Conti (de Shirley Valentine, 1989).

A esta altura, o leitor já deve ter percebido que a última coisa que verá aqui é spoiler. Os rumos que a trama segue são interessantes demais para serem estragados e fecham com honras a trilogia de Nolan. Apesar de não ter o impacto de O Cavaleiro das Trevas, ou mesmo um vilão icônico como o Coringa de Heath Ledger, Batman Ressurge cumpre muito bem o seu papel e a carreira de Nolan segue imaculada.

O cineasta já demonstra em entrevistas estar saudoso do universo que ajudou a criar e do qual, agora, tem que se despedir. Trabalho mesmo vai ter quem assumir a tarefa ingrata de fazer o reboot do personagem, como o que aconteceu com o Homem-Aranha há pouco. Continuo torcendo por uma adaptação da magnífica série de Frank Miller O Cavaleiro das Trevas, que seria uma ótima forma de lidar com o personagem sem precisar reiniciar tudo e reinventar a roda.

Christian Bale, por conta própria, foi visitar os sobreviventes da tragédia em Aurora

Sobre Marcelo Seabra

Jornalista e especialista em História da Cultura e da Arte, é atualmente mestrando em Design na UEMG. Criador e editor de O Pipoqueiro, site com críticas e informações sobre cinema e séries, também tem matérias publicadas esporadicamente em outros sites, revistas e jornais. Foi redator e colunista do site Cinema em Cena por dois anos e colaborador de sites como O Binóculo, Cronópios e Cinema de Buteco, escrevendo sobre cultura em geral. Pode ser ouvido no Programa do Pipoqueiro, no Rock Master e nos arquivos do podcast da equipe do Cinema em Cena.
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