The Flash ganha sua aventura solo e mexe com o universo DC

Depois de trocar de diretores, enfrentar uma pandemia, ter problemas na pós-produção e ver o astro envolvido em ocorrências policiais, The Flash (2023) finalmente chega aos cinemas. Dando seguimento ao mundo iniciado pelo já afastado Zack Snyder, o longa promete ter bastante impacto no Universo Cinematográfico da DC, agora assumido por James Gunn. Baseado em Flashpoint, um arco amplo de histórias, o roteiro é o mais complexo da DC até agora, envolvendo o conceito amplamente conhecido de multiverso.

Mais uma vez com o conturbado Ezra Miller como o herói, temos Barry Allen, o homem mais rápido do mundo, tentando se organizar entre o trabalho na equipe forense da polícia de Central City e as muitas missões que deve enfrentar para salvar os fracos e oprimidos. Sendo sempre o último a ser acionado dentre os membros da Liga da Justiça, Allen se considera o zelador do grupo, cuidando apenas das catástrofes de menor grau de complexidade.

Em um momento à Forrest Gump, em que Allen sai correndo para espairecer, ele percebe que consegue voltar no tempo quando chega no máximo de sua capacidade. Como há uma tragédia em seu passado, não demora até o sujeito resolver voltar e arrumar as coisas. Mesmo alertado pelo colega Bruce Wayne (Ben Affleck) das possíveis consequências de um efeito borboleta, ele vai adiante, sem a menor ideia do dano que causará.

Com bons efeitos visuais e um design de produção criativo, que diferencia bem os mundos e realidades visitados por Barry, o longa consegue contar com a tecnologia para contar sua história, inclusive usando dois Barries em idades diferentes ao mesmo tempo. Os conflitos de idade são interessantes de se acompanhar, com os dois discutindo em boa parte do tempo, e o humor do filme se alterna bem com os momentos de tensão e os mais dramáticos. O público agradece o comedimento nas piadas, que saem na hora e quantidade certas.

Apesar dos problemas na vida particular, Miller é sempre muito competente como ator, tendo aqui inclusive que enfrentar um papel duplo, o que faz muito bem. Muita coisa já foi adiantada pelos trailers, então é possível comentar sem estragar nada. Os kryptonianos da trama não têm muito destaque, o que acaba deixando Sasha Calle (de The Young and the Restless), a novidade do elenco, em desvantagem. Ninguém reclama de Michael Shannon (o General Zod) por já conhecer o trabalho do ator, mas nenhum deles tem espaço para nada mais significativo.

Outro ponto alto, já entregado pelo trailer, é a aparição de outra versão do Batman. Além do esperado Affleck, temos a volta de Michael Keaton ao papel. Estrela dos longas de 89 e 92, Keaton aparece como um Batman alternativo e tem bastante importância para a trama. O mais impressionante é que tudo isso é costurado com uma certa lógica (dos quadrinhos, claro), mérito do roteiro assinado por Christina Hodson (de Aves de Rapina, 2020) e Joby Harold (de Obi-Wan Kenobi). E do diretor Andy Muschietti, que vinha do sucesso de conduzir os dois It e mantém seu prestígio. Inclusive, deve ser confirmado em breve como diretor de uma aventura solo do Batman nesse universo conduzido por James Gunn (sem relação com o de Robert Pattinson).

Ver a batnave voando ao som do tema criado por Danny Elfman no fim dos anos 80 é uma experiência que deve tocar os mais velhos, além de outras surpresas guardadas pelo filme que não serão estragadas aqui. Apesar do Batman ter destaque na trama e na campanha de lançamento, nunca deixa de ser um filme do Flash, e honra o personagem. Como a costura é bem feita, as quase duas horas e meia passam tranquilamente, não cansando como nos longas anteriores. E referências nerds, como aquelas a De Volta para o Futuro, além de homenagear as obras citadas, deixarão o espectador com um sorrisinho no rosto.

A campanha de marketing focou muito nos outros heróis para evitar o problemático Miller

Sobre Marcelo Seabra

Jornalista e especialista em História da Cultura e da Arte, é atualmente mestrando em Design na UEMG. Criador e editor de O Pipoqueiro, site com críticas e informações sobre cinema e séries, também tem matérias publicadas esporadicamente em outros sites, revistas e jornais. Foi redator e colunista do site Cinema em Cena por dois anos e colaborador de sites como O Binóculo, Cronópios e Cinema de Buteco, escrevendo sobre cultura em geral. Pode ser ouvido no Programa do Pipoqueiro, no Rock Master e nos arquivos do podcast da equipe do Cinema em Cena.
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