Longa dos Vingadores realiza antigos sonhos de muita gente

por Marcelo Seabra

A jogada dos Estúdios Marvel foi extremamente bem planejada: “Já que temos os direitos sobre todos esses personagens, que tal apresentar um por um para depois reuni-los?”. Dessa forma, fomos apresentados às versões cinematográficas de alguns medalhões da editora (não necessariamente os personagens mais famosos) em filmes-solo para podermos conferi-los, juntos, em Os Vingadores (The Avengers, 2012), que acaba de estrear em diversas salas do país – e do mundo. O diretor e roteirista Joss Whedon deve estar se deliciando com o poder alcançado em Hollywood, com todo o sucesso que o filme vem colhendo. E ele merece!

Muitos torceram o nariz quando foi divulgado que o “pai” da Buffy, a caça-vampiros, seria o responsável por conduzir nas telas a esperada reunião dos heróis Marvel. Para não errar, ele foi beber na melhor fonte: as histórias clássicas de Stan Lee e Jack Kirby. Para desenvolver o roteiro, contou ainda com o apoio de Zak Penn, que não é nada estranho ao universo dos heróis da Casa das Ideias – ele roteirizou aventuras do Hulk, X-Men e Elektra, por exemplo. A favor de Whedon havia, ainda, a experiência adquirida no longa Serenity (2005) e sua passagem pelo gibi dos Surpreendentes X-Men, que lhe ensinou a trabalhar com grupos com diversos personagens e a dar a cada um uma importância fundamental em suas tramas, não se concentrando em apenas um deles, como acontece na trilogia dos X-Men, onde tudo é sobre Wolverine.

Um nome que deve ser mencionado também é o do produtor Kevin Feige, braço direito do CEO dos Estúdios Marvel Avi Arad. É atribuída a ele a visão de inserir detalhes e participações nos filmes de cada personagem para, logo, poder ser criada uma trama que os unisse. Um problema poderia ter sido conseguir esse elemento que justificaria a reunião de tantos talentos e habilidades, teria que ser algo que um herói sozinho não poderia resolver. E a resposta era Loki, o irmão invejoso de Thor que já havia roubado a cena no ano passado, no filme que catapultou a carreira de Tom Hiddleston.

Assim, Os Vingadores começa com a chegada de Loki (ao lado) à Terra, em busca de um artefato poderosíssimo – o Tesseract (conhecido nos quadrinhos como “o cubo cósmico”, artefato que, assim como no cinema, foi apresentado nas histórias do Capitão América) – que seria uma fonte de energia tamanha que poderia destruir a Terra. Para ajudá-lo, o vilão corrompe a mente de figuras-chave e os leva para o lado negro da Força. O Gavião Arqueiro (Jeremy Renner) e o Dr. Selvig (Stellan Skarsgård), ambos apresentados em Thor, vão compor esse grupo. Com tamanha ameaça debaixo de seu nariz, o diretor da agência secreta de defesa S.H.I.E.L.D., Nick Fury (Samuel L. Jackson, presença constante nas aventuras anteriores), decide retomar a Iniciativa Vingadores, um projeto que reuniria os “heróis mais poderosos da Terra”. Como todos foram considerados inconstantes e imprevisíveis, o projeto havia sido abortado pelo Conselho que rege a S.H.I.E.L.D.

Dizer que uma adaptação de história em quadrinhos sobre heróis superpoderosos tenta manter o realismo é meio louco. É necessário “comprar a ideia” e acreditar no que se vê. Mas a Marvel tentou essa abordagem começando com Hulk, Homem de Ferro e Capitão América, colocando a ação em mundos em que tudo aquilo seria possível, bastava ter um gênio e avanços da ciência. A quebra veio com Thor, um deus de Asgard que joga a pegada realista no espaço – literalmente. Desta forma, foi feita a passagem daquela linha supostamente real para a fantasia pura e simples, o que também abriu caminho para Os Vingadores, que entra de cabeça na extravagância de alienígenas malvados e efeitos especiais perfeitos.

Fury reúne o Capitão América (Chris Evans), o Homem de Ferro (Robert Downey Jr.), o Dr. Bruce Banner, às vezes conhecido como Hulk (Mark Ruffalo), Thor (Chris Hemsworth) e a Viúva Negra (Scarlett Johansson) para serem a linha de frente da Terra na guerra contra Loki e seus aliados. O problema será fazer esse pessoal interagir organizadamente, em prol de um único objetivo. Downey Jr. começa a querer roubar a cena, mais parecendo um personagem de sitcom de tanta piadinha que dispara. Momentos cômicos não faltam, dando um bom equilíbrio à ação e destruição desenfreadas – o cineasta Roland Emmerich (de Independece Day e 2012) vai se deliciar com o que é feito aos cenários.

Um grande desafio para Whedon era dividir bem o tempo em cena, já que tinha tantos personagens para mostrar. Com pequenos desequilíbrios aqui e ali, a missão foi bem sucedida, com todos participando ativamente e tendo um papel importante para o desenrolar da história. Todos os intérpretes estão muito bem, com destaque para Mark Ruffalo, que cria um Banner/Hulk mais interessante e profundo que seus antecessores (Eric Bana e Edward Norton). E fica uma vontade de conhecer melhor o Clint Barton de Jeremy Renner, que compensa aparições menores com muito carisma.

Os Vingadores acabou sendo o que todos os fãs esperavam: uma potencialização do que já vimos nos filmes-solo dos heróis. O que a DC Comics chegou a ensaiar com a Liga da Justiça (e acabou desistindo, até o momento), a Marvel conseguiu atingir, e de forma irrepreensível. Um longa divertido, que respeita a mitologia por trás de seus personagens e os espectadores, sendo eles iniciados ou não nos quadrinhos. Como não poderia deixar de ser, além da rápida ponta de Stan Lee, fica um gancho para uma nova trama em uma cena “escondida”, que entra logo após os créditos principais – nem é preciso esperar tanto. Difícil vai ser esperar pelos próximos filmes desse universo.

Downey Jr., Scarlett, Hemsworth, Evans, Jackson, Renner e Ruffalo

Sobre Marcelo Seabra

Jornalista e especialista em História da Cultura e da Arte, é atualmente mestrando em Design na UEMG. Criador e editor de O Pipoqueiro, site com críticas e informações sobre cinema e séries, também tem matérias publicadas esporadicamente em outros sites, revistas e jornais. Foi redator e colunista do site Cinema em Cena por dois anos e colaborador de sites como O Binóculo, Cronópios e Cinema de Buteco, escrevendo sobre cultura em geral. Pode ser ouvido no Programa do Pipoqueiro, no Rock Master e nos arquivos do podcast da equipe do Cinema em Cena.
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