Carinhos na pandemia

Taís Civitarese Hoje, transgredi. Abracei mamãe. Foi muito rápido, furtivo e escondido. Foi na hora da despedida. Mamãe me olhou com um semblante triste, após algumas horas de conversa na portaria de sua casa. Relembrávamos vovó.  Comentávamos que já fazia quatro meses que ela partira.  Falávamos de saudade, mas também de alegrias. Das boas lembranças que ela deixou e de como ela já demonstrava estar … Continuar lendo Carinhos na pandemia

A promessa

Taís Civitarese Mil novecentos e noventa foi um ano de eleição. No Brasil e no meu colégio. A fim de nos ensinar os princípios básicos do funcionamento de uma democracia, a escola simulou sua própria escolha de governantes, elencados entre os alunos candidatos. Entre esses, estava eu: candidata a deputada estadual pelo terceiro B. Foi assim que inaugurei (e logo, encerrei) minha breve carreira política. … Continuar lendo A promessa

Precisa mudar

Os anos noventa aconteceram há 30 anos. E foi nessa época que fui adolescente. Como todo bom jovem, foi o tempo em que colecionei pequenos traumas. É sobre tal ‘material’ que venho trabalhando arduamente a psiquê ao longo da vida… Estudei em um grande colégio em BH que contava com todos os clichês de um elenco estudantil: a Menina Mais Bonita, o Menino Bom de … Continuar lendo Precisa mudar

Murcha

Taís Civitarese Margarida não se contentava. Ela queria ser notada.  Tinha um ímpeto, uma coceira que lhe provocava até desgaste na pele. Ela precisava de atenção, tinha uma sede, um frisson, quase como uma doença.  Precisava lançar mão de diversos artifícios para que alguma luz recaísse sobre ela. Se estivesse à margem, pulava no rio para se fazer notar. Se não estava no centro, sentia-se … Continuar lendo Murcha

Muito amor e ela

Taís Civitarese Sei que me torno repetitiva. Mas não escrever sobre ela seria mentir. Hoje faz três meses que ela se foi. Anteontem, foi meu aniversário. Três meses exatos depois do aniversário dela. Durante 38 anos, moramos em cidades diferentes. E por 38 anos nos falamos nesse dia. Onde estivesse, ela me telefonava. Sempre alegre, sempre amorosa. Ontem, tive uma grande festa na minha pequena … Continuar lendo Muito amor e ela

Admirável amiga

Taís Civitarese Preciso contar sobre minha melhor amiga do prédio.  Uma pessoa fabulosa, sorridente, gentil. Ela é ruiva e sempre se veste de muitas cores: azul, laranja, lilás… De vez em quando, a ouço cantar. Quando ligo para ela, está sempre na ativa. Ora fazendo faxina, ora planejando reformas na casa ou pesquisando sobre algum assunto na internet.  Um dia precisei de um chaveiro e … Continuar lendo Admirável amiga

Uma direção

Taís Civitarese Tem-se proliferado um certo tipo de chatice. Uma chatice necessária. Ela policia nossos discursos e retifica falas outrora bem aceitas, porém, hoje, consideradas agressivas e desrespeitosas. Ela borrifa álcool 70% em jargões clássicos da nossa cultura, mas que nos dias atuais beiram ou cruzam os limites do crime. Pode parecer chatice. Mas é um começo. Quando eu era criança, um amigo de meu … Continuar lendo Uma direção

Nada de muito diferente

Taís Civitarese Da janela do meu quarto, avisto uma obra. Em dois meses de quarentena, ela segue de vento em popa. Um dia, fui até lá e conversei com alguns pedreiros. Como médica, me senti na obrigação: nenhum de máscara.  “Vocês deviam usar, mesmo trabalhando”. “Eles pedem pra gente usar, mas ninguém usa”, foi a resposta. Mais tarde, vi um homem engravatado caminhando entre as … Continuar lendo Nada de muito diferente

Imagem de Selling of my photos with StockAgencies is not permitted por Pixabay Afinal o que é ter bom senso?

Pensamentos

Taís Civitarese Achei que duraria três semanas e lá se vão dez. O nome disso é ilusão, negação. Achei que seria mais um susto de Deus. Mas Deus, dessa vez, estava falando sério. Achei que não precisaria comprar máscaras. E por fim, acabei com um punhado delas, de diferentes estampas. Achei que nem me cadastraria na escola virtual. E ciberneticamente, já estamos escolados. No início … Continuar lendo Pensamentos