Murcha

Taís Civitarese

Margarida não se contentava. Ela queria ser notada. 

Tinha um ímpeto, uma coceira que lhe provocava até desgaste na pele. Ela precisava de atenção, tinha uma sede, um frisson, quase como uma doença. 

Precisava lançar mão de diversos artifícios para que alguma luz recaísse sobre ela. Se estivesse à margem, pulava no rio para se fazer notar. Se não estava no centro, sentia-se invisível.

Margarida se via apenas refletida nos olhos dos outros. Ela não sabia se aperceber de si. Só se sentia existindo se alguém a notasse, reparasse e comentasse, dia após dia. Cada dia, mais.

Serenidade, era o que faltava a Margarida. Sossego. Talvez alguém que a amasse ou simplesmente que ela se sentisse amada. Talvez faltasse o amor de si mesma. E, por isso, ela precisava tanto buscar a ilusão do amor nos outros.

Atenção nem sempre é amor. Às vezes, é deboche. Algumas outras, é pena, solidariedade ou até constatação do desprezo. Margarida ignorava tudo isso.

De tanto procurar-se nos olhos alheios,  sentia-se fragmentada. ‘Desinteira’. Um pedaço em cada parte. Quando os olhos se fechavam, virava fumaça e diluía-se no ar.

Assim era sua existência. Demoraria muito ainda para entender que um olhar dura muito pouco. É passageiro. O único olhar duradouro é aquele colado no seu próprio olho. O que não vai embora e não faz esforço. Apenas vê. Que está sempre contigo independente da aprovação de quem quer que seja. 

Margarida seguiu meio despetalada, sem entender nada até um dia secar sem seiva.

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