A história de Laurita

Rosangela Maluf O sol apareceu depois de uma semana de chuva exagerada, quase um dilúvio. Muita gente nas ruas naquela tarde. Muita gente fugindo do sol escaldante. Muita gente espremida naquele ponto de ônibus, esperando com impaciência o ônibus A130. Do meu lado uma senhorinha, sem dentes, mal vestida, cabelo sujo, uma sacola de plástico nas mãos, querendo de todo jeito passar à minha frente. … Continuar lendo A história de Laurita

Juarez, volta pra mim!

Rosangela Maluf Volta Juarez! Todo esse tempo longe de você me abriu os olhos: não serei mais aquela mulher chata que te incomodava tanto. Não mais reclamarei do sagrado chopp com seus amigos; às sextas-feiras, vou procurar um curso de canto na Igreja Três Reis Magos, onde a gente se casou. Enquanto você toma sua cervejinha, quem sabe converso um pouco com o Padre Laércio … Continuar lendo Juarez, volta pra mim!

Maria Octavia

Rosangela Maluf Hostal del Habano Conde de Villanueva Habana Vieja, Cuba Quando Octávia conseguiu um lugar de camareira no Hostal del Habano, foi quase como um milagre. Ninguém na vizinhança acreditou quando ela, metade brasileira, metade cubana, deixou de lado uma promissora carreira de ginasta para ingressar no mundo do turismo, dos dólares fáceis, o que lhe permitiria acesso a tudo de bom que se … Continuar lendo Maria Octavia

Uma Certa Suzana

Uma Certa Suzana

Rosangela Maluf – Olha, Suzana, quem já está de saco cheio sou eu. Já é tarde, amanhã trabalho cedo e você fica aí nessa reclamação sem fim como se eu tivesse culpa pelos seus insucessos amorosos. Falei mais de mil vezes, esse cara não é flor que se cheire. Bastava prestar atenção ao que ele lhe disse, um papo atravessado, sem finalidade, apenasmente querendo levar você … Continuar lendo Uma Certa Suzana

Os Olhos Claros de João

Parte VRosangela Maluf – Sinto saudades, não. Lembrança boa ou ruim, nenhuma diferença me faz. Minha vida é como um livro de gravuras, umas coloridas, outras em preto e branco, e eu vou passando as páginas. Mas saudade, ter vontade de voltar ao passado, porque foi bom, porque foi gostoso, não tenho. De nada. Vejo fotos, e nem parece que sou eu. Não me vejo … Continuar lendo Os Olhos Claros de João

Os Olhos Claros de João

Parte IVRosangela Maluf Cheguei na casa da minha irmã disposta a resolver tudo em uma semana. Procurar o cartório, conferir a papelada, ver o preço do terreno e procurar um interessado. Entretanto, apesar da minha disposição inicial, a semana não foi suficiente para resolver tudo. Voltei para a capital. Vim rezando para que aparecesse um comprador bom e honesto, fácil de lidar e disposto a … Continuar lendo Os Olhos Claros de João

Os Olhos Claros de João

Parte III Rosangela Maluf Cheguei em Milagres. Fany foi me pegar na rodoviária. Ela e a neta, filha de Dulce. Tão engraçadinha, perguntadeira, curiosa, linda a menina, mas chatinha – eu não tinha mais paciência para lidar com crianças, ainda mais pequeninas assim. Quatro anos de pura perguntação, não nos deixava conversar direito. – Minha irmã, já sei tudo sobre o tal do homem. Você … Continuar lendo Os Olhos Claros de João

Os Olhos Claros de João

Parte IIRosangela Maluf Era tão bom conversar com ele. João tinha um jeito diferente e, quando me chamava de Dona Heluisa, eu não conseguia conter o riso. A gente conversava sobre tudo e eu aprendia muito com ele. Nunca tocava no nome da mulher nem dos filhos. Também nunca perguntei, nem me interessava saber. Uma única vez, ele me apresentou Romeo, filho mais velho que … Continuar lendo Os Olhos Claros de João

Os Olhos Claros de João

Parte I Rosangela Maluf Nem sei mesmo porque me lembrei do João! Não falei nele, não vi nada que me fizesse recordá-lo. Faz tempo que não sonho com ele. Não remexi minha caixa de cartas e muito menos revi suas fotos, escondidas e bem guardadas, já bastante amareladas pelo tempo. – Estou sozinha em casa, dou uma espiada nos jornais. Tento ler um pouco antes … Continuar lendo Os Olhos Claros de João

O vizinho do 605

Rosangela Maluf Continuação – Do corredor avistei os dois quartos. Um deles imagino, seria o quarto da mãe-velhinha-de-noventa-anos. Do lado da cama estilo marquesa, uma caminha pobrezinha, provavelmente para a enfermeira da noite. Lustre, flores na janela, cortinas brancas de cetim, do teto até o chão; dois tapetes, um ao lado de cada cama, sobre a cômoda, também marquesa, caixinhas de remédios das mais variadas … Continuar lendo O vizinho do 605