Uma rainha chamada Titide

Rosangela Maluf Dona Titide era uma das nossas vizinhas lá na rua C. Aos meus olhos de menina, ela deveria ser uma senhora muito, muito velhinha, assim como a minha mãe. Tampouco saberia dizer o que seria “velhinha”. Só sei que o meu olhar infantil pousava sobre ela com admiração contida: não queria que a minha mãe soubesse que meu sonho maior era, um dia, … Continuar lendo Uma rainha chamada Titide

A Casa da Tia Ruth

Rosangela Maluf Sempre digo que, ao longo da minha vida, tive três mulheres excepcionais entre aquelas que muito me marcaram: minha mãe, mulher maravilhosa, grande amiga, bem humorada e muito engraçada. Uma mulher extremamente divertida, inteligente, batalhadora, moderna. Uma cabecinha privilegiada, colocando-a anos luz à frente do seu tempo. Depois a minha tia Ruth que ornamentou com flores, cores, fogos e festas a minha infância … Continuar lendo A Casa da Tia Ruth

No aeroporto

Rosangela Maluf Ao descer do avião, tudo parecia estar em silêncio naquele aeroporto tão movimentado. Ninguém falava nada. Não se ouvia nenhuma palavra. Nenhum ruído, nenhum som. Silêncio completo. Entretanto seu coração fazia barulho, batia forte. Um tum-tum-tum intenso. Respirava fundo tentando não demonstrar a imensa ansiedade que lhe consumia. Andava calmamente para disfarçar o tremor das pernas. Trocou de mão a pequena valise que … Continuar lendo No aeroporto

Made in Italy

Rosangela Maluf A conversa entre elas passava sempre pelo mesmo crivo: como andam os amiguinhos da internet? Aos sessenta anos, as três amigas se divertiam com as paqueras virtuais, aquelas com duração máxima de quinze dias, em média. Depois, tudo ia perdendo a graça e os amigos atuais se mostravam tão desinteressantes quanto os anteriores. Não estava sendo fácil. Muita gente, pouco interesse e uma … Continuar lendo Made in Italy

Uma certa mulher ao espelho

Essa mulher em frente ao espelho sou eu. Envelhecida, trago no rosto rugas profundas. Tenho o semblante pesado e tristonho. Essa mulher sou eu? Acendo a luz e me sinto ainda pior. O que vejo não me agrada. Levo um tempo observando melhor as marcas que o passar dos anos deixou em mim. Respiro fundo, mas não choro. Minhas lágrimas secaram. Faz tempo que não … Continuar lendo Uma certa mulher ao espelho

(IN) FELIZ ANO NOVO!

Rosangela Maluf No primeiro dia do ano, aquela cidade amanhecera chuvosa, cinzenta e fria. Ninguém nas ruas, nenhum ônibus àquela hora da manhã, e raros carros circulavam por ali. Ventava um pouco e, aguardando um táxi, ela não conseguia chorar, nem sentir raiva, mas uma indiferença doída que lhe apertava o coração. Não demorou muito, parou em frente ao Hotel B. Naquele abrigo de ônibus, … Continuar lendo (IN) FELIZ ANO NOVO!

A Moça de Oxford

Rosangela Maluf É muito comum aceitar novos amigos virtuais, baseando-se apenas no número de conhecidos em comum. Foi o que aconteceu quando ela me solicitou amizade, pelo Facebook. Em alguns finais de semana, por culpa dos algoritmos (ou não), o número de solicitações é muito grande, dá até preguiça. E naquele domingo foram muitos os pedidos de amizade, mais de quarenta. Aceitei vários e deletei muitos.  … Continuar lendo A Moça de Oxford

Natal? Gosto não!

Rosangela Maluf Gostei sim, quando era ainda criança e a magia das festas natalinas me deixava boquiaberta, o coraçãozinho acelerado. Os cochichos com as amigas, a lista de presentes, o movimento nas lojas, as pessoas nas ruas, tudo era motivo de surpresa e admiração. As musiquinhas eram cantadas ao longo do dia, o dia inteiro, todos os dias. A árvore de Natal, o presépio com … Continuar lendo Natal? Gosto não!

O mau olhado da dona Filó

Rosangela Maluf Parte I Aos meus olhos de criança, dona Filomena – por ser tão velhinha – deveria estar bem perto da morte. À época, nós, crianças, pensávamos que só gente velha morria. Sempre que o sino tocava e o triste badalar indicava uma morte, a criançada logo imaginava que um de nós perdera um avô. Sim, morriam mais avôs do que avós. A estatística … Continuar lendo O mau olhado da dona Filó