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Ah, Minas Gerais

Rosangela Maluf Nasci em Minassou mineiramatreiraNasci em maiosou marianamarinado mar?Sou mariamãe, mulhernas mãos o M do mundono corpo o sol de invernono olhar a neblinaa geada, o friopreguiça de acordarNa alma o desejode cruzar fronteirasrasgar montanhasganhar o marultramarina?Mas no quintalnão tem marareias escaldantestem nãoTem galo que cantagalinha que cacarejapreta velha que chegapra cozinhar e lavarTem cheiro de manga no artem leite entornando lá foratem mingau, … Continuar lendo Ah, Minas Gerais

Prisioneira

Rosangela Maluf Minha cela está brancanada escrito nas paredesminha cela está frianenhum raio de sol.Triste a minha celasem coressem floresna janela. Retenho pequenas coisasprisioneira que soude um vidroagora vazio,do perfumeque acabou; da revista já relidade uma lata de biscoitosda velha meia de lãdo meu cobertor furadoo espelho quebradojunto do livro rasgado; fotos já desbotadasjunto a um violão sem corda.Vazias latas de talcosabonete sem perfumee essa … Continuar lendo Prisioneira

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A Sopeira de Louça

Rosangela Maluf Dona Maria nos foi indicada por uma amiga, também moradora do mesmo prédio, na Tijuca, bairro da zona norte do Rio de Janeiro, onde morei por sete longos (e quentes) anos! Fazia tempo que eu buscava uma pessoa caprichosa que passasse toda a nossa roupa a fim de poupar a Fafá que fazia os demais serviços da casa. O apartamento não era grande, … Continuar lendo A Sopeira de Louça

Jogo do Galo

Rosangela Maluf Quando se conheceram, ambos já sabiam das limitações e dificuldades que aquele início de romance teria. Ele, por ser casado, ter três filhos, trabalho sem horário fixo de saída, muito preocupado (e amedrontado) com as possíveis reações da mulher-fera: brava feito uma onça. Ela solteira, maior de cinquenta, dentista, fazendo seu próprio horário, vivendo sozinha num apartamento sem ninguém para lhe encher a … Continuar lendo Jogo do Galo

Douglas, o equilibrista!

Rosangela Maluf A chegada do Circo Nerino naquela cidadezinha do interior de Minas Gerais era muito mais do que um grande acontecimento. Era uma festa, e a certeza de pelo menos três meses de espetáculos nas tardes de domingo. O comentário no colégio era um só: as crianças em um único desejo, assistiriam às matinês do circo. A semana nem bem começava e já implorávamos … Continuar lendo Douglas, o equilibrista!

Por Onde Andam os Vagalumes

Rosangela Maluf Final de tarde, começando a escurecer. Faz frio e venta muito. As janelas batem. Uma chuva forte parece querer cair. Um raio, um barulhão. No fogão, a água começa a ferver. Vou correndo pegar a lata de café. Me esqueci de colocar o pó no coador, fiquei da janela olhando a chuva chegar. Abaixo o fogo, passo o café, encho o bule e … Continuar lendo Por Onde Andam os Vagalumes

O vizinho do 605

Rosangela Maluf Continuação – Do corredor avistei os dois quartos. Um deles imagino, seria o quarto da mãe-velhinha-de-noventa-anos. Do lado da cama estilo marquesa, uma caminha pobrezinha, provavelmente para a enfermeira da noite. Lustre, flores na janela, cortinas brancas de cetim, do teto até o chão; dois tapetes, um ao lado de cada cama, sobre a cômoda, também marquesa, caixinhas de remédios das mais variadas … Continuar lendo O vizinho do 605

O vizinho do 605

Rosangela Maluf Quase todas as manhãs, antes que eu saísse em direção à garagem, a porta do 605 se abria, e o novo vizinho aparecia quase à minha frente. Há pouco tempo morando no prédio, estávamos, pois, os dois, no mesmo andar; distantes apenas alguns metros, a casa dele da minha. Bom dia, ele dizia com voz meio aguda enquanto colocava o lixo do lado … Continuar lendo O vizinho do 605

Os Olhos Claros de João

Rosangela Maluf Continuação – Parte três Cheguei em Milagres. Fany foi me pegar na rodoviária. Ela e a neta, filha de Dulce. Tão engraçadinha, perguntadeira, curiosa, linda a menina, mas chatinha – eu não tinha mais paciência para lidar com crianças, ainda mais pequeninas assim. Quatro anos de pura perguntação, não nos deixava conversar direito. – Minha irmã, já sei tudo sobre o tal do … Continuar lendo Os Olhos Claros de João

Os Olhos Claros de João

Rosangela Maluf Nem sei mesmo porque me lembrei do João! Não falei nele, não vi nada que me fizesse recordá-lo; faz tempo que não sonho com ele; não remexi minha caixa de cartas e muito menos revi suas fotos, escondidas e bem guardadas, já bastante amareladas pelo tempo. Parte um Estou sozinha em casa, dou uma espiada nos jornais, tento ler um pouco antes de … Continuar lendo Os Olhos Claros de João