Não sou de reclamar, ao contrário, procuro sempre – espiritualmente – aprender com cada dificuldade. Entendendo a cada passo e a cada dia que o tempo impõe limites às capacidades física e intelectual, sigo oferecendo minha resistência a cada tranco que Ele manda para essa finalidade. Aprender e aprimorar! Ouvia muito, quando mais jovem, sobre amadurecimento e em seguida relacionando se faria ou não algo que marcou e determinou o futuro de cada um entre nós. Já exerci essa reflexão e, com muita alegria, faria tudo outra vez. Independente do resultado que obtive a cada situação experimentada.
Sou extremamente realizado, tanto profissional quanto em todos os outros campos – pessoal e espiritual – que me moldaram nesses quase (ainda quase) 70 anos de vida. Com exatos 68, tive oportunidades maravilhosas que me orgulham o coração e a alma. Fiz os cursos que queria, ainda que naquela ocasião contrariando as escolhas familiares. Lá queriam um doutor com D maiúsculo para voltar para casa e ser orgulho da família. Minha resistência encaminhou para as áreas do Direito e posteriormente Jornalismo. Me realizei na segunda – onde a primeira foi fundamental a esse desempenho – e até hoje me ocupo (na verdade divirto) com as oportunidades que tive e ainda tenho nessa caminhada.
Não ganho bem, tampouco mal, o suficiente para viver e sobreviver nas trilhas dos meus sonhos. Fui conhecer outro país já com bem mais de 50 anos (quase 60). A maioria das viagens para fora do Brasil, foram acompanhando o Galo. Adoro! Apesar de o time agora ter dono. Numa outra oportunidade, um tour pela Europa, acompanhado da minha primogênita que fazia intercâmbio. Rodamos alguns países, ocasião que percebi que não somos os vira-latas que setores conservadores tanto pregam aqui no território. Vi Londres com ruas cheias de sujeira e moradores sem teto, Roma, Madrid, Barcelona, Paris, até conheci Ávila (meu sobrenome) de encantos mil. Imagina transitar pelas ruas sem carro ao seu redor.
Tirante essa curta e curtida experiência em terras que a língua não me ajudava e passei por situações cômicas, o meu (nosso) lugar de viver é aqui neste Brasil. Antes dois casos da questão da comunicação linguística. Fui pedir um café em Londres, não entendia nada, até que o sujeito levantou duas xícaras, uma pequena e outra maiorzona. Era o pequeno, claro. Me serviu um dedo de café, que mal se misturou a saliva. Tempos depois, em Guadalajara (México), a mesma situação, fui logo pedindo o grande. Quase caio de susto, com algo em torno de meio litro servido e frio. Aprendizado! Pelo que vi e vivi nesses lugares – inclua-se Portugal (lugar delicioso), que eu podia conversar com aquela gente que fala ligeiro – não trocaria nenhum deles por Belo Horizonte, Araxá ou Argenita (distrito de Ibiá, onde meu pai tinha uma pequena propriedade rural). Aqui em BH a Savassi é para mim como a rua Boa Vista foi no Araxá. Conheço cada metro e muitas pessoas que circulam pela região. E Argenita, ou Genita como é dito pelos menos de mil moradores, pode ser em breve meu refúgio. A pensar!
Me lembro de um certo final de ano, andando e proseando com uma irmã mais velha (lógico sou caçula e temporão) no quarteirão ao entorno da casa de nossos pais. Eu dizia a ela que aquele tinha sido o melhor tempo da minha vida. Não resgato a razão de tanta empolgação, mas me recordo que estava feliz e realizado. Agora, reafirmo, sem reclamar que reputo ter sido 2025 o ano mais longo de todos os tempos. Não que tenha paralisado, ao contrário, a cada novo tempo parece que o relógio anda mais e mais rápido. Tenho um amigo que tem uma relação consensual e só ficam juntos no final de semana. Ele, muito gozador, ouviu que assim era muito legal e que não sofria com desgaste. Prontamente afirmou “tem domingo que é comprido”.
Talvez seja esse o meu sentimento com esse ano que está quase encerrando. Perda de tantos amigos de vida e resistência. Foram muitos que furaram essa fila. Questões de saúde, nunca passei por tantos médicos, laboratórios e horas numa sala de espera. Já disse e vou repetir, acho que estive mais tempo nessa luta pela sobrevivência que horas de sono. Ao final, salvo melhor juízo, vou fechar o ano com a saúde bem cuidada. As/os médicas/os dizem que meus exames são irritantemente bons pela idade. Que ótimo, mas já sinto o peso em cada passo e a cada dia. Seguirei na academia, pilates, trabalhando (sempre menos), cafezinho no início da noite, filarmônica (me aplicaram esse vício), cinemas e tantas coisas que me atraem.
Jogos do Galo? Será? Vou em todos, sem exceção, creio que nenhum outro Atleticano ou até torcedor de outro time, tenha visto tantos jogos do seu time quanto eu nessa vida. Mas, estão sob judice pessoal. Jamais deixarei minha condição de Atleticanidade, mas não sei se resisto a esse momento e modelo safista de gestão dos clubes brasileiros. São muitos interesses que sobrepõem ao técnico, notadamente a ação suspeitíssima e nociva dessas bets. Que nojo! Futebol virou business e vai asfixiando a paixão do torcedor. Que venha 2026, com menos médicos, quero dizer no meu caso, para o Brasil e os brasileiros sim cada vez mais médicos. Eu acredito no Brasil e nos brasileiros, já no Congresso…
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Bom dia meu amiGALO !!! Ano comprido sim, na politica ( argh ), na nosso Galo e nas questoes pessoais que cada um de nós traz em suas vivências. Que 26 venha menos SAFado,, nos proporcionado na nossa paixao futebolística eventuais amarguras apenas pelos resultados ruins e nao pelas imposicoes economicas de quem se apropriou ( ou tenta) do nosso Galo.
No pessoal, fé em Deus e na espitirualidade pois sabemos do momento de transicao pelo qual passamos.
Abracao
Bom Dia Eduardo de Ávila! Um fechamento de ano formidável! Consciência tranquila é tudo! Sua determinação é inspiradora. Fiquei impressionada com a sua capacidade de enfrentar os desafios com sua saúde. Seu comprometimento com sua fé, com o jornalismo transparente foram cruciais para sua vitória. Parabéns! Patrícia Lechtman.
Meu caro amigo, Fidel. Minha dívida com você cresce a cada semana. Desde aqueles tempos, lá no "nosso" Araxá, que você, para "me tirar do desemprego", valendo de sua edilidade, virou a cidade de pernas pro ar, comprando uma briga com uma das duas grandes empresas locais. Agora minha dívida cresce a cada coluna que você piblica. Assim, tento quitar meu débito com constantes convites pra um café. Fazendo assim crescer sempre mais meu débito, ainda que esses encontros sejam, por exigência minha, às expensas desse seu grande admirador. Te devo muito.
Rindo daqui. Vamos marcar esse café.
Amigo Eduardo, suas conexões de pensamento são muito interessantes! Grata por compartilhar.
Bom encerrar 2025 com um gostinho de vitória! Você lutou e venceu. Parabéns! Divertidas as histórias sobre pedir café em outras paragens…. Pra encerrar, fora bets e viva o Mais médicos!
Eduardo “Galovila” Ávila
Ler “*Reta final de um ano difícil*” é fazer uma viagem — não apenas geográfica, mas humana, afetiva e existencial. É caminhar contigo pelas ruas do mundo e, sobretudo, pelas ruas da memória, onde moram os amigos que se foram, os lugares que ficaram e as certezas que resistem ao tempo.
Este texto carrega, sim, o teu estilo mais autêntico: a crônica confessional, madura, sem afetação, onde a ironia é suave, a crítica é firme e o afeto nunca se esconde. Não é outra voz — é a tua voz em estado pleno. Aquele Eduardo que observa o mundo com curiosidade, estranhamento e senso crítico, mas que jamais perde o humor diante das dificuldades simples, como pedir um café em outro idioma ou entender um país que insiste em ser maior que seus próprios representantes políticos.
Há no texto um Brasil profundamente brasileiro: Belo Horizonte, Araxá, Argenita, a Savassi, o cafezinho, o cinema, a filarmônica, o Galo. Um Brasil vivido, não idealizado. Um Brasil que dói, mas que ainda é casa. E, entre viagens e retornos, fica claro: não somos vira-latas — somos resistentes.
Chama atenção a coragem de falar do tempo, do corpo, da saúde, das perdas e da finitude sem amargura. Pelo contrário: com lucidez, gratidão e dignidade. É a crônica de quem viveu muito, assistiu a incontáveis jogos — de futebol e da vida — e nunca deixou de opinar, inclusive quando foi para “falar mal” de arbitragem, jogadores, dirigentes… porque isso também é paixão legítima de quem ama o jogo.
E é curioso — talvez proposital — que os árbitros, esses guerreiros silenciosos, apareçam apenas nas entrelinhas. Apanham de todos, fazem o melhor possível e raramente recebem reconhecimento. A metáfora é dura, politicamente incorreta talvez, mas eficaz: expõe uma injustiça estrutural que atravessa o futebol e a vida. E sim, nos dias atuais, pode-se escrever assim — desde que se escreva para provocar reflexão, não para repetir preconceitos vazios. E você escreve para pensar.
Sua crônica fecha o ano sem fechamento definitivo. Há cansaço, há crítica, há indignação — com as bets, com o modelo de gestão, com o Congresso — mas há também esperança teimosa. Daquelas que não gritam, mas permanecem. Acreditar no Brasil e nos brasileiros, apesar de tudo, é um ato de fé laica e profundamente política.
Obrigado por mais essa viagem.
Nas palavras, nos afetos, nos silêncios.
E que venham outros textos — mesmo que os domingos sigam compridos.
Com admiração e respeito.
Sempre bom te ler. Pelo texto bem escrito, pelas vivências. Um abraço.
Boa tarde e que bom ler este seu texto nobre amigo atleticano. Realmente o ano de 2025 resiste em não terminar. Lendo sua saga pelas salas de atendimento médicos, também me vi nessa mesmo situação. A diferença é que eu acompanhei muitos familiares nesta situação, você esteve ali como paciente. Mas que o próximo ano nos traga mais sorrisos, solidariedade e paz. Abraços. Jamilton