Eduardo de Ávila
Parece paradoxal, mas não. Vivo intensamente essas duas condições. De torcedor apaixonado pelo meu time do coração, não é segredo ser o Clube Atlético Mineiro (Galo Forte Vingador) e de minhas posições com relação ao momento político nacional e internacional. Só que opto por conversar os dois assuntos com pessoas que convergem com o meu pensamento. No caso do Galo. Alguém vai me convencer, ainda que em momentos de crise, que o meu time é ruim? Nunca! Vale vice versa. Então não me ocupo com divergentes sobre esse debate. Ao Atleticano o que é do Atleticano, ao não Atleticano a vida sem graça que escolheram e merecem. Ser Galo é pura emoção!
Já com relação às questões importantes do nosso dia a dia, vivo nesse meio desde bem antes de dar meu primeiro voto. Meu pai UDN ferrenho (daí meu nome em homenagem ao brigadeiro Eduardo Gomes), tinha lá na Argenita (distrito de Ibiá, onde era sua propriedade rural) seguidores. Muito depois que entendi o que era voto de cabresto, nada confiável como até nos tempos atuais. Já minha mãe, PSD (pelos casos da época, até hoje não entendo como se casaram), tinha irmão vereador, prefeito e deputado. Cunhado deputado federal, secretário de Estado, ministro da Fazenda e presidente do BB. Primo ministro. E foi nesse ambiente que fui criado.
Aos 18 anos, depois que as famílias se uniram (muito depois deles), tirei título e me filiei a um dos dois partidos políticos existentes. Não foi na Arena, que abrigou pessedistas e udenistas, mas no MDB que resistia ao movimento político de 1964. Observe, que cuidadosamente, não chamei de golpe e jamais diria revolução. Meu pai quase me deserdou. Não esqueço de um desagradável jantar, quando a carraspana comeu solta, na segunda decepção que causei ao papai. Era flamenguista, pode? Phode, né! E eu, ainda que dependente, tive de registrar a ele – muito chateado – as razões da minha escolha. Galo! Não bastava Zico/Reinaldo. Ali se instalou outra divergência entre a redentora e a resistência.

Ele se foi quando eu estava com 19 anos, até hoje sinto falta e “naquela mesa” de Sérgio Bitencourt me causa um misto de lembranças. De menino que admirava a força insuperável do pai herói e questionava seu time de futebol e seu partido político. Pouco tempo depois, eleito vereador, acreditei naquele momento mágico (1982), que antecedeu ao movimento das Diretas Já e eleição do Tancredo no colégio eleitoral. Vivi intensamente todo esse processo até que as eleições de 2018 derrotaram minha energia em debater temas tão importantes e determinantes ao futuro do país e da própria humanidade. Por isso, me recolhi voluntariamente – evidentemente na medida do possível – evitando levar a efeito debates dessa natureza. Foi melhor, ainda que tenha me afastado de pessoas que insistiam nessas prosas. Já relatei aqui e não vou repetir, me tachando disso e daquilo.
Não obstante, deixo de viver o dia a dia, até porque trabalho em assessoria parlamentar. Já prestei serviço, sou profissional do Direito e Comunicação Social – habilitação em Jornalismo -, a agentes públicos progressistas e conservadores, e em nenhum momento coloquei minha opinião na mesa de negociação. Meu trabalho não me obrigou em qualquer situação por deixar em xeque essa questão. Só, como nos últimos anos, a me resguardar sem me entregar. Entretanto hoje, vou cometer um pecado. Pessoal e parental. Estamos vivendo um momento tenso e perigoso quanto ao nosso futuro. De um lado um grupo que defende a economia de mercado, aliada a exploração da mão de obra (quase análogo a escravidão) e do outro quem se preocupa com políticas públicas sociais de combate à fome e a miséria.
Permaneço, contrapondo ao posicionamento do meu saudoso pai – um pequeno produtor rural que acreditava nas forças ocultas de um comunismo que nunca ameaçou pequenos fazendeiros. É preciso alertar que fazenda grande também é minifúndio, só faz bem ao ego de sentir rico e poderoso, uma bobagem sem fim, e seguirei na resistência aos bandidos da Faria Lima, privatizações de cartas marcadas e isenção de impostos para milionários. E mais, não me deixo seduzir – como essa gente faz por conveniência – a pastores impostores. Malandros e vagabundos que roubam, através de dízimos, pessoas inocentes. Meu mundo é outro, preferia sem tecnologia, mas essa eu não consigo combater. É, lamentavelmente, forte e perniciosa. Então só me resta conviver, mas ceder a exploradores jamais. Ainda que não tenha saco para essa prosa. Assisto, com tristeza. Especialmente por presenciar quem está sendo degolado, diferente do meu caso, por esse sistema selvagem. Sigamos!!!
Brilhante como sempre. Irrequieto como nunca. Comprometido até o começo
O rico de direita eu até entendo, mas os indivíduos pobres e os indivíduos de classe média de direita são casos a serem estudados pela psiquiatria. Defendem o fim do serviço público sem ter dinheiro para contratar o privado; execram o SUS (elogiado no mundo inteiro), mas não podem pagar consultas e/ou tratamentos particulares; sacaneiam como podem as escolas públicas, mas não conseguem arcar com os custos do ensino privado. São como os cachorros que cuidam das mansões latindo à noite, mas dormem fora da casa. Talvez, um dia, acordem. Mas como diz o filósofo, sigamos…
Caro, Teobaldo, certeiro como sempre, meu caro! Grande abraço. Eduardo, parabéns pela crônica, ótimo lê-lo por aqui tbm, com a maestria habitual. SAN
Bom Dia! Eduardo de Ávila, seu texto valoriza a tolerância que tanto precisamos para a construção de sociedades mais inclusivas. A tolerância é um dos “medicamentos” contra as práticas discriminatórias. Gostei! Abraços, Patrícia Lechtman.
Adoro suas verdades ditas de peito aberto.
Com o discernimento que lhe é peculiar, o Ávila nos brinda, com um pouco da sua trajetória de vida. Vida longa, amigo!
Abraço.
Como dizem os beira rio do São Francisco, “verdade verdadeira”