O bom menino

Eduardo de Ávila

Quem da minha idade e acima, talvez alguns mais novos, porém não muito distante da minha geração se lembra do Carequinha. Palhaço/ator circense, filho de trapezistas, passou pela rádio e depois na televisão. O “Circo do Carequinha” fez tanto sucesso que acabou conciliando sua volta aos palcos desse espetáculo itinerante e ainda passou por diferentes emissoras de TV. Um fato que dispensa estender e pode explicar muito do que veio depois. Teve como sua assessora a partir dos anos 80 Marlene Mattos. Mas o que desejo extrair do seu legado é a letra que marcou sua obra. “O bom menino não faz pipi na cama, o bom menino não faz malcriação, o bom menino vai sempre a escola, e na escola aprende sempre a lição”. Depois vem “respeita os mais velhos, não bate na irmãzinha, Papai Noel protege quem obedece a mamãezinha”.

Aliado a isso, muito mais sucesso que as revistas da Disney com patos, ratinhos e patetas, tínhamos a Luluzinha & Bolinha. Ela de cabelos cacheados, espevitada, tinha o olhar apaixonado sobre o gordinho, que era o líder do grupo dos meninos. E no meio dessa criançada toda existiam amigos dela e dele, irmãos menores de alguns, quem morasse em Paris, bruxas, extra terrestre, vovô, pais e – naturalmente – o almofadinha bom menino. Raposo, que queria entrar na turma, mas era esnobe e rejeitado. Rico, tinha a Glorinha (com o mesmo perfil) apaixonada por ele e com perfil similar de vida financeira e poder. Sugiro ouvir a música “A festa do Bolinha” com o Trio Esperança.

Nunca mais ouvi Carequinha, tampouco li as revistas em quadrinhos que buscava na Agência do Lazinho lá em Araxá. Mas, como as crianças felizes daquelas gerações que não existem mais, tenho me recordado demais das aventuras da Lulu e do Bola. Também que antes de deitar tinha de fazer xixi, para não ouvir a música do Carequinha. Ainda assim, acreditem, nunca fiz pipi na cama e todo dia era premiado com essa cantilena na cabeça. Uma irmã, um pouco mais velha, fazia e mudava de cama comigo durante a noite – acho que me carregava – e o inocente era condenado. Soube disso, já depois de adulto. Talvez explique tanta culpa que carreguei sem que eu entendesse a razão. Por isso, reagi e sigo reagindo.

Mas vamos lá aos personagens daquela infância saudosa, que embalava sonhos que a vida foi desmontando com muita agressividade. Já se vão aí mais de 60 anos, onde estariam as crianças que seguiram os conselhos do Carequinha. E o Raposo com a Glorinha? E Luluzinha com Bolinha? Carequinha viveu muito, só foi para a eternidade em 2006. Os personagens da revistinha ficaram nas boas memórias, que ainda tenho, mas deixam rastros de personagens da vida real dos tempos atuais. Sobretudo da soberba que tentam impor às maiorias pelo uso da força e do poder econômico. Raposo me lembra demais Trump. Sem entrar no mérito da personalidade forte e destruidora, até mesmo com traços de transtornos e desvios de caráter, é o típico milionário que quer o mundo se ajoelhando aos seus pés. Mijou na cama e cagou também nas calças, daí quer se impor em reação a sua intolerável condição de se achar superior a tudo e a todos.

Pior que isso, ou tão grave quanto, são os projetos (que amam projéteis) que se espelham e espalham em perfil bélico dessa natureza. Aqui no Brasil, tão bem representados pela família Dinossauro Bolsolóide, desde o chefe do clã, passando pelas suas companheiras – do passado e do presente – seus metralhas do 01 ao 04 e alguns papagaios de pirata. Esses, como disseram familiares do chefe dessa organização, ratos. Aparecem numa foto, escondem na outra, e o que se extrai além do oportunismo idiota da caça ratos, niqueis, cliques, não – nada disso – de votos e nada mais. Passam por vexames atrás de vexames. Contratam marqueteiros, experientes em derrotas acachapantes e de perfil também bélico, para criar personagem distante das características do eventual candidato. Similares de Collor e Bolsonaro, parece, que o Brasil cansou. Que voltem os conservadores do passado, aqueles que divergem e dialogam, consequentemente constroem e não oportunistas em defesa de interesses puramente econômicos de grupos financeiros. Que se associam com impostores pastores e com as faunas da Faria Lima e PCC. Essa é para outra ocasião.

E, neste imbróglio, os valentes combatentes da falsa moralidade estão a cada novo dia se enrolando mais e mais no buraco da imoralidade. Coronel Siqueira, astro das redes sociais, saiu com uma máxima. “Muito triste essa ligação do PCC com a Faria Lima!!! Jamais imaginei que o PCC se associasse a esse tipo de bandido”. Daí, como prova maior que o poder da mídia anda de mãos dadas aos interesses do grande capital, testemunhamos que o dólar não subiu, a bolsa não caiu, afinal o mercado tolera com incrível conivência e parceria a corrupção e crime organizado na Faria Lima. Mas o governo investir e gastar com o atendimento aos pobres, se preocupar com o social e combater a fome, isso sim faz o dólar explodir, a bolsa despencar, afinal o mercado não tolera esse tipo de gasto e desperdício. Isso é comunismo na cabeça dessa gente. Mafalda, agora refiro a personagem criada pelo cartunista argentino Quino, segue atual e preocupada com essas questões sociais do mundo atual. Pois ela foi as ruas e leiam na ilustração no cartaz acima empunhado pela resistente que não é comunista. É humanista! Por mais Mafaldas e o fim de raposos que fez pipi, a família omitiu e agora caga; parlamentares belicosos; governantes insensíveis com o social e todo tipo de jegue travestido de almofadinha. Fim da falsidade ideológica e religiosa.

Fechando sobre o bom menino, mas para aquele que ainda possa e queira ser salvo. Deixar de lado o narcisismo. Se rodear de quem lhe possa ser útil na vida pessoal e profissional, seja privada ou pública. Geralmente convivem com bajuladores, interesseiros e com projetos pessoais, incapazes de dedicar parte do seu conhecimento (velhacaria) aos interesses de quem puxam saco. O melhor parceiro de vida, seja pessoal ou profissional, não é o adulador e sim, aquele que tem coragem e capacidade de criticar. Que percebe o buraco que estão atirando o riquinho, em busca de resultados imediatos dos bajuladores, que posteriormente serão os primeiros a fugir do infeliz quando cair em desgraça ou infelicidade. Todo governante, a exemplo dos tempos dos reis – ao invés do bobo da corte da época, deveriam ter alguém com coragem de ponderar, criticar e até – se necessário – caçoar e zombas. Reitero, aquele raposo que se submeta e tenha humildade, sim pode ter salvação. Ou se contentar em viver o resto da vida com a indignação pela incompreensão, mas se olhe no espelho.

5 comentários sobre “O bom menino

  1. Bom Dia Eduardo! Excelentes reflexões! Fiquemos ao lado de pessoas adornadas de encantos, amor, paz e esperança e que também sejam defensoras dos Direitos Humanos! Bajulação é falácia! Abraços. Patrícia Lechtman.

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