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O Brasil e mundo daqui a pouco tempo

Eduardo de Ávila

Não há entre nós, por mais notável cientista – do bem ou do mal – e até mesmo entre os evoluídos espiritualmente quem possa fazer uma previsão com exatidão do que as próximas gerações irão vivenciar. Confesso que a cada novo impacto, ainda que me considere um cidadão dos tempos modernos, me assusto mais com os desafios que nossos sucessores de vida terão de enfrentar para sobreviver. Tá tudo tão estranho e obscuro.

Nem pretendia entrar nos robôs que telefonam o dia inteiro para nossos celulares, seja oferecendo uma linha telefônica ou internet mais vantajosa que a nossa ou alertando para eventuais saques, compras ou outras operações bancárias até em instituição financeira que a gente não tem conta. E o recadastramento do INSS? Nem aposentei, mas todo dia querem checar meus dados. Os golpistas, em sentido amplo, têm muito mais disposição e folego que um exército de pessoas querendo tanto e unicamente curtir os tempos que restam.

E a IA – Inteligência Artificial -, tão dissimulada quanto aqueles que recorrem de sua utilização. Rio de gente que passou uma vida inteira sem saber argumentar com raciocínio próprio, agora se vangloriando em postar textos – aparentemente – perfeitos. Porém desprovidos do essencial, o toque e a sutileza de seu interior que é vazio igual a frieza da máquina que redigiu seu brilhantismo. Fosse esse o maior desconforto, em nada me preocuparia, por consciente que já passei do meio dia pra tarde (expressão que diz já ter vivido a maior parte da existência pessoal), até porque a IA é modismo para deleite de analfabetos e os golpistas existem desde que o mundo é mundo.

Em meio a este imbróglio, já por mais de uma década, me assusta e até causa um certo pavor é perceber que estamos perdendo uma guerra que era imprevisível. Digo assim pois a mim era inesperado que a sociedade brasileira emburrecesse e embarcasse tão facilmente no que antigamente chamávamos de “conto do vigário”. Pois bem, depois de tantas instabilidades na vida política brasileira – alternando regimes desde a Monarquia, República Velha, Era Vargas, Populismo, Militar, Nova República -, a última experiência parecia ser um caminho sem volta. E a democracia, com tantos defeitos – creio – que ser a melhor opção aos interesses da maioria.

Fui domingo assistir “Apocalipse nos Trópicos” da genial Petra Costa. Afirmo genial, uma vez que a conheço por proximidade – nunca estive com ela pessoalmente -, pois é sobrinha de um dos mais saudosos amigos que a vida me deu e depois tirou. Celso Costa, que tinha por ela profunda admiração e relatava aos seus amigos íntimos. Pois que, Petra antes desse documentário imperdível, produziu duas outras obras igualmente sugestivas. Claro que fui em todas. A primeira delas, “Elena”, uma reflexão sobre a perda trágica da irmã mais velha que morando em Nova York tentava ser atriz de cinema e teatro. No segundo, “Democracia em Vertigem”, bateu nas portas do melhor documentário, indicado para o Oscar em 2020.

E agora, em cartaz, a nova produção cinematográfica que escancara essa questão evangélica utilizada pela extrema direita brasileira. Seria o fim da democracia? A teocracia, usurpada por falsos pastores, levando pessoas aos delírios que estamos assistindo nos tempos recentes. Usando Deus e Jesus Cristo, desvirtuando suas palavras, aos interesses de um fanatismo religioso e imoral. Se não deterem esses impostores, travestidos de pastores, o risco de um regime onde considera natural matar opositores será normatizado e normalizado. O discurso de ódio que esses caras escondem atrás de suas reais intenções é apavorante. O que será das futuras gerações se essa gente conseguir seu objetivo? Resistência nunca foi tão indicada como agora, a começar por fazer inocentes entenderem seu papel e não embarcar na onda dessa maracutaia “em nome de Jesus”.

Blogueiro

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  • Os mercadores da fé estão entre os piores e mais perigosos que a humanidade já enfrentou. Dissimulados, oportunistas, falsos. São, no fundo, verdadeiros sócios do inferno e do que é de mais degradante no campo moral e espiritual.

  • Bom Dia! Gratidão Eduardo de Ávila por sua dedicação incansável à verdade histórica. Sua "voz" esperançosa e também sua paixão pelo jornalismo transparente são fundamentais para a saúde da democracia brasileira. Abraços, Patrícia Lechtman.

  • Oportuno e necessário demais o debate deste tema que a cineasta Petra Costa traz às telas e você repercute aqui no Mirante. Vamos ao filme! Muito esperado.

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