Peter Rossi
Existe algo mais prosaico que criar galinhas?
Hoje, realizando um sonho antigo, crio. Tenho seis delas: Ramona, Zilda, Violet, Aurora, Ingrid e Maria. Duas mais claras, quase brancas, com uma ou outra pena colorida, e as quatro restantes bem amarronzadas.
Vive também por lá um galo garboso, predominantemente branco, chamado Adolfo, aliás, nome aristocrático, compatível para um galo que vive com seis meninas saltitantes e barulhentas, cada uma mais charmosa que a outra.
Esse tal Adolfo é soberbo, mas sabe o que quer. No fundinho do galinheiro, longe dos olhares curiosos, distribui beijinhos em forma de sutis bicadas.
Mas antes que um aventureiro ou uma aventureira pense que o texto caminha para uma ode ao machismo, me desvio. Quero falar da simplicidade das coisas, melhor dizendo, da simplicidade dos sonhos. E, quanto mais simples, mais provável o seu alcance. A gente angaria sucesso quando descreve uma rota factível às nossas possibilidades.
Por esse prisma, ser feliz é muito fácil, pena que a gente entende isso quando está mais velho, já na descida da curva. Mas, mesmo assim, não fico a preocupar tanto. Instalei freios à disco e vou bem devagar, sempre a divagar.
Mas falava das galinhas. Vivendo no mato, uma cerca no final do terreno delimita o lar das meninas e seu galo garboso que, exercendo seu mister com primazia, me acorda todas as manhãs. Aquele som estridente hoje é música para meus ouvidos. Me levanto e ainda de pijama e chinelos vou ter com o bicho, fingindo reclamar da barulheira. Ele, estático, me encarando, ora balançando a cabeça de um lado para o outro. As suas galinhas, quietas no fundo.
Alguns minutos em silêncio abro um sorriso e minha risada estimula o galo a cantar mais. O galinheiro, à essa altura, é uma balbúrdia, pois sabem todos que estou com um pacote de milho ou de ração, entregando uma lauta refeição.
Aí é uma correria só. Voos curtos a espalhar penas para todos os lados. Todas as meninas com os bicos no chão. Mal se lembram do Adolfo.
Fico a assistir aquele espetáculo maravilhoso, imaginando não existir nada mais lindo no mundo. A grama ainda úmida alcança meus chinelos e sou chamado à realidade. Fico feliz e sinto que minhas galinhas também. Naquele espaço pequeno, com chão de terra elas seguem animadas a sorrir pelo olhar.
Final da tarde, o retorno à casa e a colheita dos ovos nos ninhos, eles sempre estão lá, às vezes mais, outras menos. Sempre quentinhos. Tomo o cuidado de pegar um por vez e com carinho excessivo até, levo todos numa cesta até um pequeno balaio que mantenho na cozinha.
São pequenos gestos que se completam. Uma troca de carinho entre todos nós.
Aquele galinheiro é a porta de entrada, o ingresso para um regresso até a minha infância, onde existiam inúmeras galinhas e galos. Esse foi um resgate, um presentear, uma tentativa escamoteada de manter a vida pra sempre. Memórias aladas e barulhentas a acalantar minha saudade, sentada numa cadeira de balanço a mirar ao entardecer. Meu galinheiro se divisa com a linha do horizonte, me permitindo saborear esses momentos tão especiais. De cima, percebo todo o encantar daquele pequeno mundo, a folia, a arrelia, o prazer de estarem vivas. Não há nada que valha mais que isso. Obrigado meninas, obrigado Adolfo, o garboso. Aprendi com você que o melhor a fazer e começar o dia com o peito estufado, alardeando a todos em volta que é feliz!
Momentos únicos!! Tudo isso é prazeroso,mais ainda apanhar os ovos dos ninhos.
Lembro da minha infância, minha mãe pedia para pegar os ovos, mas sempre deparava com um galo índio, colorido ,lindooo e muito bravo.
Ele corria atrás de mim,eu voltava do galinheiro com a cesta vazia .
Passou o tempo,cresci,e não esqueci daquele galo ,um dia, peguei um cabo de vassoura, e disse, venha galo sábado,hoje vc me paga.
Sai correndo atrás dele e dei umas pautadas.kkkkkkk
Amei o seu texto,deu uma saudade danada no coração da gente!!