Educação sexual

“No meu tempo”, não se falava muito sobre educação sexual. Em casa, esse era um assunto para sussurros, brincadeiras ou algo relegado ao futuro, que seria entendido quando minha irmã e eu “tivéssemos idade”.

A escola fazia sua pequena parte e aprendíamos o restante em filmes, novelas, revistas, por falas de amigos ou da pior forma possível: com os abusos. Sim, porque a falta de educação sexual também nos deixava vulneráveis diante de situações inadequadas. Fosse pela desregulamentação dos conteúdos veiculados pelas mídias da época, fosse pelas atitudes de certas pessoas, ocasionalmente éramos submetidas a situações de desconforto que se misturavam à dificuldade de entendermos o que se passava.

No atendimento psiquiátrico de crianças e adolescentes, frequentemente surgem relatos relacionadas a abusos ou violência sexual. Em muitas das histórias de pacientes com depressão, ansiedade, fobias, pânico e outros diagnósticos existem eventos dessa natureza. É inevitável pensar se há uma relação causal entre os eventos, o que é difícil de se mensurar através de estudos científicos, mas bastante fácil de se intuir com os recursos da empatia e da sensibilidade.

Não existe nada que se possa fazer para prevenir este problema que não passe pelo diálogo e pela educação sexual. Ensinamos as crianças a andar, a comer, a dormir e precisamos ensiná-las também a respeitarem o próprio corpo, a protegerem-no, a conhecerem-no, a dizerem não, a pedirem ajuda. São simples medidas de proteção e de auto-preservação que, quando assimiladas, podem evitar violências e situações com potencial de sofrimento por toda a vida.

Gostaríamos muito de viver em uma sociedade em que fatos assim não acontecessem. Esse tema é desconfortável e incômodo até de se pensar sobre. Gostaríamos de acreditar que pessoas instruídas não cometem abusos, que pessoas formadas, com profissões tradicionais e nível econômico alto também não os cometem. Infelizmente, isso não é verdade. O abuso abrange TODAS as classes sociais. É impossível comprar a proteção contra ele da mesma forma como se compra segurança frente à violência física e patrimonial. O único caminho está na conversa, no estabelecimento de um vínculo de confiança com a criança, na educação, no esforço diário.

Não ignoremos a possibilidade da violência sexual acontecer. Dar nome às partes do corpo, explicar como funcionam, dizer quem pode ou não pode tocá-lo e de que forma isso deve acontecer são ensinamentos básicos que contribuirão para uma saúde mental muito melhor no futuro.

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