Por mais que os tempos deixem a gente mais sereno e menos exigente, a repetição de situações de desconforto emoldura nosso entorno. Falo por mim e pela observação de fatos que se repetem e me são confidenciados por pessoas amigas. Nos tempos recentes, essa divisão de bem e do mal feita à revelia pelo modus operandi de cada pessoa ou grupo, afastou e aniquilou muitos relacionamentos que sempre foram saudáveis a quem sabia ser tolerante.
Via de regra, o intolerante é quem coloca fim nesse desrespeito em querer impor seu pensar ao outro. Seguramente vivemos nessa passagem pela Terra o pior e mais degradante momento de confronto. Religioso, de um lado quem tem fé e do outro quem usa dessa fé. Político, de um lado quem milita em busca de interesses coletivos e do outro aqueles que defendem indivíduos ou grupos. E assim noutras searas do nosso cotidiano. Nem mencionei, ainda que não seja necessário, em qual posição estou nessa celeuma.
Como se não bastasse, ainda os dissabores do cotidiano, onde vivo e presencio situações que entristecem e sugerem perder até a vontade de seguir ativo na busca por melhores tempos ainda a cumprir. E nessa reflexão me ocorrem e me recordo desde as primeiras descobertas e experiências na vida em sociedade. Reitero, minhas e ao entorno do que já vivenciei em quase 70 anos de existência.
E nessa associação de experiências próprias com fatos percebidos, de tempos antigos e dos momentos atuais, de gente que se acha empoderada e quem se submete ou não reage a provocações, percebo que o limite vem emitindo sinais. E entro nesse tema sem qualquer intenção ou pretensão por ser dono da verdade, ao contrário, apenas para aguçar a mim e aos que gosto sobre a importância de buscar ser mais solidário e compreensivo, deixando egoísmo e arrogância fora dos propósitos de vida.
Sem entrar em detalhes, passei por duas experiências amargas ao longo da minha vida. Da primeira até hoje fico a pensar sobre como pude resistir e seguir em frente. Bullying na escola, sob o olhar dissimulado da direção do colégio, numa época que isso sequer era reprimido. Resisti silenciosamente. Sofri, claro. Mas não carreguei mágoa. Ainda que não tenha apagado da memória.
Tempos depois, militando na vida pública e partido político, fui perseguido por quem tinha um indisfarçável ciúme do meu jeito de ser e conduzir essa missão. Optei por me afastar de todo esse envolvimento e passei a investir na minha capacidade de trabalho profissional. Hoje, com orgulho, já na descendente dessa existência reconheço – também silenciosamente – o bem que me fizeram sem saber. Me realizei pessoal e profissionalmente fugindo do confronto proposto. Traduzindo, me conduziram – ainda que sem qualquer intenção – à minha plena realização. Obrigado! Sem ou com ironia, tanto faz.
E, apesar da idade já avançada, ainda surgem desafios. Minhas ocupações principais ainda tem sido o trabalho, em dose menor que de épocas já experimentadas; ir aos jogos do meu time do coração, sem perder uma única partida mandante; cinema e cafeteria (minha opção que deixou sem discurso aos desafetos da minha época de alcoolismo) e arriscar uma ou outra nova relação de amizade e conhecimento. Até que não esbarre no meu limite elástico de tolerância. No mais, sigamos!!! Feliz e divertidamente!
*imagens: dreamstime
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Interessante reflexão, caro Eduardo. Ao retratar sua vivência, você toca em muitas pessoas! Grata.
Obrigado, querida! Tenho passado minha vida a limpo e me faz bem.
Olá Eduardo de Ávila! Prossiga com sua bandeira da transparência. A vida anda nos solicitando coragem. Ninguém apaga o passado, o importante em minha singela opinião é usar as árduas lições de aprendizado e ficar com os que acreditam na comunhão. Abraços Fraternos.
Recebi de um amigo uma interessante manifestação relacionada ao texto. "Não guardo mágoas, mas tenho uma excelente memória."