Sandra Belchiolina
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Meu avô materno foi a pessoa mais delicada e educada que conheci – alto, elegante, de voz baixa e sorriso largo. Assim é a memória que tenho dele. Recentemente, recebi um telefonema de um primo distante solicitando algumas informações sobre ele. Queria saber mais e disse que ele foi um vendedor da cachaça que meu avô fabricava. A mesma tinha um curioso nome: “Meu Consolo é Você”.
O primo acrescentou outros adjetivos ao meu avô José Honório, os quais não estavam claros para mim – “inovador”, “além do seu tempo”, “possuía até uma moto, o que era inovação para sua época”.
Sua fazenda nas “Grotadas” – região no centro-oeste de Minas Gerais – era autossustentável, possuía luz elétrica com a geração de energia de sua própria usina, além de telefone daqueles primeiros, movidos a manivela. Lá, produzia açúcar para seu sustento, carnes, verduras, legumes, arroz, feijão, enfim, de tudo. Os doces de frutas eram manjares dos deuses, e vovó possuía compoteiras lindas e coloridas, imagens vívidas que guardo até hoje. Também havia o quarto dos doces de goiaba, com muitas barras empilhadas dessa iguaria.
Mas nossa história é a do relógio. Hoje, minha família acordou com as conhecidas badaladas de nosso relógio histórico. Herança que habita nossa casa há mais de quarenta anos. Reza a lenda que é alemão e que a fábrica foi destruída na Primeira Guerra Mundial. Resolvi saber mais e pesquisar se eram causos familiares ou ditos legítimos.
Achei a pista na chave que dá corda para seu carrilhão tocar e bater as horas. Investigando, achei que é da fábrica Junghans. Alemã, sim, e seu símbolo é uma estrela de oito pontas com um “J” bem grande, e o restante das letras no centro da estrela, símbolos da marca desde 1890. Anteriormente, era uma águia. Fora da estrela, na parte inferior, está escrito Wurttemberg, que é um território histórico do sudeste da Alemanha. Região de reinos no passado e da conhecida Floresta Negra, que encanta turistas.
“Após a Primeira Guerra, o relojoeiro da Floresta Negra parecia ter chegado ao fim com o desmonte da fábrica de relógios, mas sob comando do bisneto Helmuth Junghans, o trabalho de reconstrução foi iniciado.”¹
Agora, minha curiosidade é como esse relógio, fabricado nos confins da Floresta Negra alemã, veio parar nas Grotadas no início do século XX.
Vovô e suas façanhas!!!
¹https://saconirelojoeiro.com.br/2014/04/24/relogios-junghans-historia/
Excelente, historia… Um avô inovador para sua época! “Grotadas, local abençoado”…
Uma pena não ter fotos das “Fac
Anhas” deste seu avô….
Seu avô era um curioso…lia muito e devia dominar bem notícias em francês e outras línguas…
Adoro esse relógio principalmente o som das badaladas. Obrigado por resgatar um pedaço dessa história.
Amei o relógio e sua história, Sandra. Meu pai tinha relógio que marcou nossa memória afetiva.
Eu gostei da parte onde o seu avô era um fabricante de água ardente. Deveria ser muito boa essa cachaça heim. Parabéns pelo resgate desta importante memória de seu avô. Eu não tive o privilégio de conviver com nenhum dos meus avôs, faleceram cedo.
Minha família tem um relógio muito antigo. Fiquei curioso a respeito da origem do relógio. Vou conferir o nosso!