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Gentileza e delicadeza démodé

Eduardo de Ávila

Há momentos em que me pego pensando que a minha (nossa) geração falhou. Fomos, seguramente, a última criada com métodos de educação que, nos tempos atuais, são condenados em nome do politicamente correto. Não defendo o castigo associado a uma vara de marmelo, que – na verdade – sempre foi uma força de expressão e jamais foi utilizada por nossos pais.

Mas aprendi a chamar tios e pessoas mais velhas de senhor e senhora. Hoje, já em idade avançada, ouço e até leio – notadamente por fazer outro blog do meu time do coração – jovens me atacando chamando-me de “véio”, como se isso fosse me abalar. Ao contrário, mostram mais sobre aqueles que acham que estão me atacando do que sobre meus bons e bem vividos anos de vida.

Minha geração, que afirmo ser a mais privilegiada pelos avanços culturais desses mais de 500 anos de Brasil, assiste estarrecida à involução nessa área. Como me disse uma querida amiga, Juliana, que tem quase vinte anos menos que eu: “Piorou muito mesmo. O Rio, por exemplo, passou do samba e bossa nova para esse funk pornográfico, associado a uma violência desenfreada.” Dias atrás, comentei aqui sobre um garoto de 17 anos, sobrinho da minha auxiliar do lar, assassinado – por engano – em um baile dessa natureza.

Sou um usuário de redes sociais não convencional, a começar por não dominar todas as ferramentas que temos à disposição. Muitas delas são usadas indiscriminadamente para o mal. Destruir reputações e espalhar informações mentirosas parecem ser o glamour de gente que se diverte com a propagação desse tipo de conteúdo. Entretanto, minha curiosidade, eventualmente, me proporciona momentos de profundo conforto, ao me lembrar da resistência, uma das maiores companheiras de toda a vida.

Foi num clicar para lá e para cá que vi, e já revi, uma prosa do ator – galã da minha época – Toni Ramos sobre a sumida delicadeza. Foi confortante, um bálsamo em meio a tanta desinformação e agressão do dia a dia. Ele discorreu sobre a perda da elegância nos tempos atuais. Mencionou frases interessantes dos tempos que citei acima, quando se tratava os mais velhos por senhor e senhora. Coisas simples que vou tentar recobrar de memória.

Quando pedíamos por favor, dizíamos muito obrigado; reconhecíamos erro ou falha com me desculpe; expressávamos afeto dizendo gosto de você; despedíamos com um afetuoso bom te encontrar, entre tantas outras formas de mostrar e demonstrar apreço por nós mesmos e pelos outros. Sempre afirmo, sem medo de errar, que a maneira como tratamos as pessoas ao nosso redor revela muito mais sobre nós mesmos do que qualquer avaliação pretendida sobre o próximo.

“Viver e não ter a vergonha de ser feliz,” recomendou Gonzaguinha, décadas atrás. Cantar e cantar e cantar!

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