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Dramatização, vitimização ou curtição?

Eduardo de Ávila

Eu já fiz a minha escolha. Prefiro curtir os vacilos do momento, evidentemente devido às muitas primaveras já vividas, do que fazer drama ou me colocar como vítima dos tempos já avançados. Conheço pessoas bem próximas que, por chantagem emocional, na busca de atenção momentânea e cobrando carinho, não deixam passar qualquer oportunidade para pedir esse socorro. Já vi até gente criando situações com essa finalidade. Escolhas!

Tenho, sistematicamente e até de forma crescente, passado por situações que chegam a ser hilárias. A cada novo evento, rio de mim mesmo, não omitindo e contando para todos ao meu redor. Sem chantagem, ao contrário, servindo como assunto para os cafezinhos de fim de tarde. Mesmo com essa frequência aumentando, ainda não perdi o senso de juízo mínimo e tampouco me esquecendo de onde estou morando. E, como já disse, estou feliz com os tempos recentes.

Pois bem, vou tentar sintetizar alguns pequenos desacertos na minha rotina diária. Muito antes disso começar, consultei uma sobrinha geriatra sobre os riscos de me tornar um idoso inconveniente e se estaria, por pequenos esquecimentos, já caminhando para esse contexto. Na minha infância, lembro que ríamos dos idosos e os chamávamos de caducos. Ela me disse para não me preocupar, a menos que esquecesse onde estacionei o carro.

Não levou muito tempo. Saindo do Diamond, não encontrei o veículo onde, supostamente, havia deixado. Para quem conhece, seria em frente ao Galo, mas na outra pista da Olegário Maciel. Chamei um segurança do shopping para me orientar sobre um possível reboque – parei faltando tempinho para espirar o horário de vaga proibida – ou como acionar a polícia e fazer o boletim de ocorrência em caso de furto. Ele, gentilmente, me ajudando, pediu a placa e as características do carro. Como falavam por rádio, seu colega alertou que meu carro estava estacionado na Gonçalves Dias. O outro segurança estava na portaria do outro lado. Eu mudei do local que era proibido e apaguei da memória. Rimos durante um bom tempo, os dois seguranças e eu, sempre que nos encontrávamos no Diamond.

Na última semana, ocorreram três situações, o que me levaria à tentação de pensar que finalmente havia chegado o momento de me trancar em casa. Que nada! A dentista me mandou uma mensagem marcando para quarta-feira às nove horas. Cheguei lá aflito, já eram 8h59m, sempre chego com 15 minutos de antecedência. A assistente da doutora me atendeu e olhou com cara de espanto. Até que me alertou para ler a mensagem novamente. Quarta sim, 9h também, mas dia 7 de agosto. Phode?

As outras duas situações foram fúnebres, cada uma delas. Já tenho muitas/os amigas/os no plano espiritual. Apressadas/os! Ando devagar. Velório das 15h às 17h, li rapidamente e processei como se fosse até as 15h. Cheguei lá às 13h30, antes de qualquer membro da família. Dias depois, outro, das 9h30 até as 13h. Igualmente processei como sendo à partir de 13h. Esse treze de Galo me confunde mesmo. Estava saindo aflito quando quando percebi que nem chegaria em tempo. Se fosse me preocupar, o próximo velório seria o meu. Escolho me ironizar, um dia chego no horário, não gosto de me atrasar.

E para completar, tenho o hábito (não é mania) de deixar tudo no mesmo lugar em casa. Facilita, sabe aquelas pessoas que não sabem onde colocaram a chave na hora de sair? Aqui não! Se acontece com o telefone, como tenho dois, ligo de um para o outro e acho. Mas e quando é com a chave e os óculos? Nenhum tem telefone. É um caos. Pois bem, chegando em casa, já no elevador, percebo que estou sem a chave. A paranoia entrou em ação. Onde passei? Pode ter caído em algum lugar? Chego no meu andar, saio do elevador e lá está a danada, do lado de fora da minha porta. Ficou lá o dia todo.

Uma coisa aprendi, graças à vovó Candinha (que para a família é como São Longuinho, basta invocar sua ajuda que as coisas perdidas aparecem). Sempre com uma missa – ao que consta ela era muito católica e tenho respeito – que tenho de estar presente em reconhecimento pela ajuda. E outra que aprendi ao longo dos tempos, a indução mental. Isso depois de duas décadas numa casa religiosa kardecista. Infalíveis vovó Candinha e a mentalização. Assim eu sigo, até quando Deus quiser. Sem drama! Sem vitimização! Com muita alegria e curtição!

Blogueiro

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  • Velório e lugar do carro pode errar. Mas vestir o manto azul distraído fica esquisito... Mas sabe que isso pode ser de idade, mas também acorre em outras épocas, né? Vinte e poucos anos, começando no jornalismo, saio de um plantão no Diário de Minas (Praça Raul Soares) embalado pro ponto de ônibus que me levaria ao casamento de uma amiga lá no cafundó. No Barreiro. Chego esbaforido na igreja e a turma já recolhendo o rolo de tapete gigantesco. "Putaquipariu, a amiga não vai me perdoar". Como ela morava a uns cinco quarteirões dali, corri pra casa dela com o presente embrulhado e já ensaiando a desculpa. Bati campainha, demoraram a atender e veio uma doninha com cara amarrotada de sono. Tava um silêncio que não combinava com casamento. Perguntei por minha amiga. A doninha se apresentou como tia dela e deu a letra: "Ué, ela tá no chá de panela, lá na casa do noivo, no João Pinheiro. Você vem ao casamento no sábado que vem?" Eu, sorriso amarelo, fiz teatro: "Pois é... Tive de antecipar a vinda e trazer o presente, porque na semana que vem viajo". Eita!!!!

  • Texto que Traduz Vida Feliz! Muito bacana de se ler. A alegria nas palavras torna nosso dia mais leve. Parabéns Eduardo de Ávila!

  • Ahahaha!!! O mal não é da idade. É dos novos tempos. Com bem menos primaveras já me vi em situações tais quais as narradas, meu caro.

  • Nem te conto minhas caduquices. Só pra ilustrar, comprei ingresso para um show do Paul McCartney aqui em BH e deletei a informação. Me lembrei no dia seguinte ao show. Frustração e constrangimento íntimo.
    Ainda bem que ele voltou tempos depois.

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