Quem me conhece, ou mesmo acompanha minhas manifestações, não se surpreende com minhas posições e tampouco pela paixão por meu time do coração. O Clube Atlético Mineiro – Galo Forte e Vingador –, pelo qual tenho total e integral devoção já por bem mais de 50 anos. Pois que, só o meu time coloca em prova – sistemática e diariamente – meu conflito entre a razão e a emoção. Por mais que eu insista na vitória da irracionalidade nesse confronto, a idade tem me levado a optar pelo equilíbrio nessa disputa.
Às vezes me pego num profundo debate silencioso, com argumentos de um lado e do outro, que confundem meus botões e exigem muito pela prevalência da racionalidade. Não tanto sustentado na paixão pelo meu time, mas quanto e muito mais pelo histórico que o sistema – cruel, bruto e podre – sempre nos prejudicou. Não vou sugerir esse debate que envolve cbf – desde decisões administrativas, passando pela arbitragem e até um viciado stjd – e interesses comerciais da transmissão. Hoje quero falar de questões fora do campo de jogo e dessas maracutaias manjadíssimas e de conhecimento público.
Refiro à tragédia que impacta o Rio Grande do Sul, suas causas e consequências, ameaçando até mesmo Santa Catarina, o Brasil e todo o planeta. Tristes tempos recentes, confesso que evito acompanhar o noticiário que sempre convidam, sugerem e condenam a cair em depressão. TV, essa não vejo tem quatro décadas, desde meados dos anos 80 – Diretas já –, pois o interesse é econômico e não social.
Tem gente que tem me recomendado não ver determinada emissora, mas até pouco tempo babava nas mentiras que a mesma divulgava, alienando e debilitando seu pensamento. Escolhas. Acordei faz tempos, por meu jeito de ser, resistência e não por razões menores de gente ainda bem menor. Lembro que ano passado Norte e Nordeste viveram drama similar. Idêntico. Ouvi de gente que agora demonstra perplexidade piadas preconceituosas contra nortistas e nordestinos. Separar a região do Brasil era a palavra de ordem desses que se acham e proclamam burgueses.
Mas, perguntaria – com razão – qual a relação disso com o futebol? Pouca, talvez mínima, mas que expõe muito de clubes tradicionais – seus dirigentes – e mesmo da mídia nacional e seus interesses. Os clubes gaúchos estão impedidos de atuar e até mesmo de seguir realizando treinamentos. A cbf adiou os jogos dos times do RS em todas as competições nacionais e até a Conmebol dos dois torneios continentais. Abriu-se aí uma discussão paralela, paralisar todos os campeonatos do Brasil ou seguir e ir adiando esses jogos dos gaúchos. A própria cbf – covardemente – está lavando as mãos e transferindo a decisão aos clubes. É necessário unanimidade, ao que está sendo divulgado.
Eu pessoal e felizmente não tenho de opinar, pois seguramente seria um embate tremendo em cima das minhas duas facetas – cidadão e jornalista (buscando o ponderável) e torcedor (pensando tão e somente no meu time), mas os dirigentes sim precisam se posicionar. Para o Galo, entendo, o melhor seria seguir nesse embalo do momento. Mas nosso presidente, o equilibrado Sérgio Coelho, já manifestou que o clube apoia a paralisação até que a situação seja totalmente normalizada. Parabéns! Homem correto, íntegro e – para quem não sabe – junto de familiares e seguidores, um grande trabalhador por causas e ações de interesse social.
Mas isso não tem unanimidade, sendo que entre os contrários está o time da mídia nacional. Sim, o Flamídia, queridinho e do maior interesse da televisão e anunciantes. Daí, decorre um debate cínico sobre o assunto. Fosse ao contrário, seguramente, os comentaristas da emissora campeã de audiência estariam desancando em cima de quem contrariasse suas intenções. Mas, convenhamos, os interesses divergentes, no caso, ficam debaixo do tapete. É o tal silêncio conveniente e covarde. Os debates lá ficam em torno dos times do eixo, mas na convocação apenas dois (Arana e Bento) que atuam no futebol brasileiro. Do Galo e do Paranaense. O do Palmeiras (Endrick) já ia embora mesmo antes da apresentação do time da cbf. Sobre isso, tenho cá meu pensar, que não tem relação com a prosa de hoje.
Por fim, tema relacionado ao meu Galo, o maior time brasileiro de vanguarda. Foi assim com dos títulos de 1937 e também de 1971, sendo tido e reconhecido como o primeiro campeão brasileiro. Seja na competição interestadual dos anos 30 ou no nacional no início da década de 70. Queiram ou não os locutores e comentaristas da rede esgoto de televisão – tv bobo – nacional e até regional. Refiro a ação social que o Galo promoveu desde o início das chuvas no Rio Grande do Sul. O Instituto Galo, que enviou 100 mil reais e caminhões com água e alimento nos primeiros dias da crise, teve um up grade extraordinário neste último final de semana. Já ouvi que são mais de um, ou mesmo dois, milhão/ões de reais em espécie. Mais dezenas de caminhões com toneladas de alimentos, água e outros bens de consumo.
O treino aberto aos Torcedores – com ingresso pago – rendeu quase 700 mil de arrecadação. Adicionadas a outras doações de jogadores, torcedores e empresários Atleticanos, via pix ou entregues nos postos de coleta, somam algo inimaginável de solidariedade aos irmãos gaúchos. Qual foi a matéria jornalística do Jornal de rede Nacional ou reportagem bombástica no final de semana. Fantástico seria só se fosse de times cariocas e/ou paulistas! Um jornalista, discretamente, em seu espaço pessoal e na abertura de programa que é âncora, fez referência ao fato. Nesse caso, a meu juízo, para tentar se redimir de bobagens que vomitou contra o Galo. Dias atrás, numa análise dos brasileiros na Libertadores, omitiu nosso time. Em 2012, quando a juizada prejudicou ao Galo, criticou reação da Massa e imprensa mineira contra a cbf e arbitragem. No caso em pauta, fosse o Flamídia, o Urubu ia morar dentro da nossa casa, como fazem desde os tempos confessos e assumidos pelo finado Walter Clarck. Eu não acredito e nem confio nesse jornalismo. Podres e servis aos interesses de grupos e não da sociedade.
*fotos: 1) Pedro Souza/Atlético; 2, 3 e 4) Daniela Veiga/Atlético
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Parabéns pelo texto ! Sensacional!!
Parabéns a todos os atleticanos que contribuiram para amenizar a dor do povo do Sul do nosso Amado Brasil. Somos todos irmãos. Apreciei muito seu parecer. Sigamos na Fraternidade!
Patrícia Gonçalves de Abreu Lechtman