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Atendimento de emergência & diagnóstico de rotina

Eduardo de Ávila

Não foi a primeira, mas certamente terá sido das últimas vezes a me arriscar num Pronto Atendimento. Desde o advento da covid, além da paranoia e consequente congestionamento nestes serviços hospitalares, vem ocorrendo – por preguiça ou economia laboratorial – a decretação e conclusão do tipo de variante viral do momento. Sem teste e/ou exame que confirme o diagnóstico.

Nos primeiros tempos naquela desconhecida pandemia, a exemplo da maioria, optei pelo isolamento. Morando sozinho, me ocupava com exercícios físicos e utilizava das redes sociais para manter alguma sociabilidade. Resistindo às sugestões em contrário, até de quem deveria se ocupar em preservar a saúde e bem estar da população do país que governava. Naquela ocasião, fiz alguns testes e sempre com resultado negativo.

Passou e agora, além de algum resíduo dessa doença – combatida com vacina assim como tantas outras que conheço desde criança – ainda convivemos com outras ameaças. Nossa saúde não tem trégua com nada. Zica, Chikungunya e – especialmente – dengue seguem a incomodar junto com essa tal covid. Nos últimos tempos, vem sendo a dengue a ocupar o noticiário e contaminando cada dia mais pessoas. Pelo menos não é contagiosa e transmissível por contato.

Como tenho, acreditem, uma boa alimentação e me cuido bastante, estou num grupo que posso ter sido contaminado de maneira assintomática. Já ouvi, até em consultórios, que seguramente fui e não percebi. Se sim ou se não, fato é que – apesar de uma série de intervenções cirúrgicas e quase todas precocemente diagnosticadas – no final de semana capitulei e fui parar num PA. Dor de cabeça, no corpo e algum mal estar. Tudo isso bem sugestivo, porém como estava realizando o exame MAPA (24 horas com aparelho no corpo), segurei a onda até que não resistindo procurei o Pronto Atendimento. Foi terrível!

Me auto mediquei, com relativa reação, com dipirona, até que optei por esse decepcionante martírio. Cheguei no PA, pouco antes de 17h, tendo sido imediatamente recepcionado e logo em seguida passando pela triagem. Que fantástico. Daí vou para a Sala de Espera. Percebo pessoas nervosas com a demora, mas acabei de chegar e me mantenho com recomendável distanciamento dessa situação.

Até que, já por volta de 18:15, solicitei me fosse informado qual seria minha posição na fila. Quase desisto, exatos 25 à minha frente. Peço para sair e espairecer, o funcionário informa que se sair perco o lugar.

Optei por, isso é permitido, fazer uma saída para lanchar. Basta preencher essa solicitação. Fui ao shopping e jantei, tendo retornado exatamente 19:30, daí fui conferir e ainda tinham 17 para chegar ao meu atendimento. Me agarrei na péssima programação da televisão e depois de outra hora de espera (já 20:30) voltei ao atendente que disse ainda ter 14 na minha frente. Estranhamente, três minutos depois, fui chamado para o consultório. O que era para ser comemorado, agravou mais ainda a minha decepção.

Boa noite pra lá e boa noite pra cá, relatei o desconforto que me levou até aquela unidade de saúde. Dengue! Foi a conclusão. Indaguei. Sem exames ou teste? Não é necessário e pode dar falso negativo, a justificativa. Em ato contínuo, uma enorme receita é impressa com meu nome e meus dados. Se dor ou febre, isso; temperatura acima de tal, aquilo; se intensa, aqueloutro; náusea ou vômito, outro comprimido diferente; cólica, esse outro medicamento; coceira, mais esse aqui.

Ah! E a recomendação de fazer uso de soro em casa. Se fosse lá, correria o risco de outro tipo de contaminação – no caso a temida covid – sugerindo ficar em repouso e até com atestado médico para tal finalidade. Dispensei a regalia, voltei para o meu canto sem fazer uso de nada, acordei bem e tive uma segunda-feira normal. Detalhe: o receituário, previamente preparado, apenas muda o nome do incauto e infeliz paciente em atendimento buscando saúde plena. O diagnóstico é de rotina.
*imagens: Pixabay

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