Se alguém pensa que em Belo Horizonte passamos pela fase do “esquentando os tamborins”, é bom que saibam que a festa de momo aqui começa um mês antes da data oficial. Já se passam uma década e meia, quando um então prefeito da capital, tentou impor limitações nas festividades que a população ocupou as ruas e transformou essa festa popular numa das melhores e mais atrativas de todo o Brasil. Jamais poderíamos imaginar que o “Bloco Praia da Estação”, uma bem humorada crítica às proibições, despertasse o acomodado mineiro para tanta irreverência que – ano a ano – supera o número de turistas da temporada anterior.
Cá do meu canto, apesar das limitações das já bem vividas décadas de existência, não perco um dia da folia. Fantasiado, me misturo com gente de todas as idades e dessa injusta divisão social, numa animação que só termina com o “Bloco do Manjericão”. O encerramento, anualmente, acontece na manhã de quarta-feira de cinzas e passa por boa parte da zona sul da cidade. O que tenho de diferente, eu pessoalmente, é o fato de passar por uma situação particular que vem me intimidando. Em fase pós operatório, o médico me recomendou 45 dias em regime com limitações; além de viver um processo de mudança de residência.
E já se vão duas semanas que percebo a cidade em transe carnavalesco, sem poder fazer minhas estrepolias. Até que no domingo, tirei o dia de folga, para reviver o que me agrada. Fui ao primeiro jogo em BH do meu time do coração. De lá para o charmoso e simpático new point “Restaurante Santê” no Santa Tereza. Lá acontecia um “grito de carnaval”. Comandados pela família Scalioni, estabelecimento e grupo musical, a animação contagiava e me conduzia de volta aos tempos que mais aprecio nessa existência. Entrei no ritmo do melhor samba.
Já no próximo final de semana (sábado, 3 de fevereiro), outra jornada dupla, com carnaval e outra partida do meu apaixonante clube de uma vida inteira. Por volta de 15 horas, no “Ponto Savassi” – Pernambuco com Fernandes Tourinho – será a vez do “Quem Ama Não Mata”. O movimento, que surgiu nos anos 80, vem ganhando força nos tempos recentes. Sua origem foi para denunciar violações contra mulheres e feminicídio, e por cerca de cinco anos passados, passou a investir em eventos como mais uma forma de transformação da sociedade.
Pois é, como disse Caetano (um dos ídolos da minha geração e que gosto de citar), o carnaval foi invenção do Diabo que Deus abençoou. Nas festas de momo, diferente do dia a dia, misturamos todos e de todas as cores, raças, crenças, ricos e pobres, até mesmo torcedores ferrenhos adversários para celebrar a alegria de viver, cantar e festejar. Seguirei, disciplinadamente, as recomendações do rígido doutor que já me levou a mesa de operação por três ocasiões. Afinal, em todos esses momentos, saí incólume. Se tem algo que, para alguns não pareça, sou metodicamente disciplinado. Quem vê cara, não vê coração!
Se verem um velhote barbudo solto pelas ruas da cidade, não se assustem, é de bom comportamento. Sabe que não é não! Parece ter bebido, pelo notório e perceptível êxtase carnavalesco, mas só toma água mineral para hidratação. Fantasiado sim, mas cônscio de que aquilo ali é só um personagem. Se tem algo que ninguém consegue tirar deste pré ancião, ou sub sênior, é a alegria de viver. Ainda que insistam, como alguns poucos infelizes, que a cada nova ação – comentário ou o que seja – mostram mais o que são e não o que pretendem atribuir a quem confessa silenciosa inveja ou ciúme. Como dizia minha quase contemporânea dona Beja, lá do Araxá, “cada um dá o que tem”!
Bora pra rua!
Alegria curativa. Atleticano do Bem! Sua alegria contagia!
Amigo Eduardo, que crônica linda, recheada de bom humor e alegria, características presente na sua pessoa desde quando te conheci. Carnaval não tem idade, política , futebol, nem nível social é a festa mais democrática do planeta. Viva os bloquinhos! Viva os Scalionis que amam uma boa música!
Viva o Esquina Santê! E Viva o Carnaval de Belô!
Parabéns Eduardo, bela crónica. Fiquei com inveja do belorizontinos. Beijos.