Na voz de Elza Soares, a composição do Paulo Vanzolini, ganhou as ruas e palcos das nossas vidas. Isso lá pelos anos 60, nem sei se pretensa ou despretensiosamente, estimulando minha geração que vivia anos de chumbo a reagir a toda e qualquer intempérie que nosso entorno – pessoal ou coletivo – sugeria insistentemente. Fato é que, nos blocos de carnaval e rodas de samba (até mesmo em festinhas) dançávamos e esse “levanta, sacode a poeira e dá a volta por cima”, estimulava e recomendava a “reconhece a queda, mas não desanima”.
Diria que cresci assim, com minhas histórias – muitas boas estórias também – e algumas desventuras, foram moldando meu jeito de ser. Tímido, boa parte da infância e adolescência, fui vencendo o medo e até me valendo do excesso alcoólico – sempre da lícita, embora algumas pessoas maldosas tenham tentado imputar algo diferente -, até chegar à condição de abstêmio e sem medo da mais nada. Nem da morte, que tanto me aterrorizava quando criança.
Digo isso, pois algumas pessoas da minha relação de amizade – registraram impressão de desânimo em textos que ando postando aqui neste Mirante. Juro que não! Estou cada dia mais amando e confiando em dias melhores, passamos por tempos sombrios recentemente, mas – quero crer – que (ai apelo para Paulinho da Viola) “foi um rio que passou em minha vida”. Nas nossas vidas! Conviver com a desigualdade social, com a hipocrisia, falsos moralistas, fake cristãos e pobres de classe rica, requer muita paciência e tolerância. E estão pertinho da gente, no dia a dia e em todo lugar.
Aliado a isso, perdas de pessoas queridas, como ouvia nos meus tempos de juventude, cada dia mais próximo de nós. Relembro a fala do meu tio Domingão, “já estou conhecendo mais gente dentro desse muro do cemitério que do lado de fora”, isso causa melancolia. Mas, de coração, não me preocupa. Passei por muitas coisas boas e ainda pretendo – tenho certeza que vou longe – viver muitas experiências nessa passagem pela Terra. E o que me assegura isso é um sentimento íntimo. Que foi, devagar e com o tempo, se instalando e assegurando, que foi e é bom reconhecer a queda, levantar e dar a volta por cima.
Se tenho um rol de boas amizades, conquistada durante uma vida, asseguro que possuo também alguns desafetos. Quase completam os dedos de uma mão, sendo que tem – entre eles – quem sequer imagino como levam a vida, mas estão sempre ligados e preocupados com cada passo meu. Eventualmente, um ou outro desavisado, me registra algum comentário que ouviu a meu respeito. Recomendo, invariavelmente, duas coisas. Meu desinteresse pelo tema e orações para o agente que estimulou essa consideração.
No mais, asseguro, entre meus músicos favoritos – não são poucos – incluem além daqueles que já mencionei outros tantos que escreveram a história do Brasil em prosa, verso e melodias marcantes. Caetano Veloso é um entre tantos desses tempos vividos. Poderia citar apenas “Alegria alegria”, onde “caminhando contra o vento, sem lenço e sem documento…eu vou”, mas prefiro “vida boa”. Afinal, “aonde o sonho vai, meu sonho vai, meus sonhos vão” e ainda “olê, olá que é pra canoa não virar…e a vida boa na cabeça vadiar”. Como não amar essas composições e canções que embalaram toda nossa geração. Pois que, ouvi e ninguém me contou, de gente que convivi por décadas “gosto das letras dele, mas não suporto esse comunista”. Pois eu gosto das letras e deles todos, inclua-se Chico, Gil. Rita Lee, Gal e tantos outros. Esse país está doente!
Fotos: UAI/EM
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Boa pedida essa de se valer das músicas que descreveram e embalaram a nossa juventude. Não é saudosismo e sim mostrar pro mundo a riqueza de nossa passagem por ele.
Valeu, Eduardo, como sempre! Palmas procê!
Eita mineirinho bão, sô! Mais amado, nada odiado, sempre querido, nunca ferido. Beijocas.
Inclua-me ao rol de seus admiradores e fãs da pessoa admirável, inteligente e agradável que você é e sempre foi para mim.
TMJ!!!
Agora sim, Dudu Ávila, te reconheço como a pessoa generosa e amável que sempre foi. Tem razão: “Gente é pra brilhar/não pra morrer de fome”. Nossa MPB é poderosa.
Meu caríssimo Fidel, vc sabe bem que a unanimidade é burra. E, sabe também, que tendo você as virtudes que tem e esse coração imenso ( e preto e branco ), você é admirado e querido por uma imensa maioria, inclusive por algumas marias.