Não era pra acontecer

Silvia Ribeiro

Eu só queria te dizer que no fundo eu sabia que não era pra ficar. Mas bem lá no fundindo, eu quis muito que você ficasse.

Na verdade ainda era um gostar embrionário e com grandes possibilidades abortivas que davam a sensação de fragilidade. Um sentir solitário diante de tantas vastidões que me faziam lembrar borboletas bagunçando a minha rotina.

Eu ainda tinha muitos melindres quanto ao nascimento desse amor, embora acreditasse nas tramas do destino e nas peças que ele nos prega. Talvez fosse uma aventureira intuição feminina pontuando alguns sinais e se sentindo injustiçada no meio de todos aqueles embaraços.

Engraçado que dentro de mim havia um aviso que iríamos rascunhar algumas páginas dessa história, e que por algum motivo isso já havia sido combinado. Não me pergunte por quem, muito menos a razão. Apesar de ter algumas crenças que me fazem apostar na veracidade desse enredo.

Conexões brigando com esse sentimento de brevidade que não me consolava e nem me deixava ir, querendo brincar de montanha russa com as minhas pluralidades de um jeito altruísta e galante. A vida vagando nas minhas intensidades e fazendo do limão uma limonada.

Teríamos muito o que dizer, e o que sentir, ainda que nesse livro não houvesse vastos capítulos e nem pomposos mistérios a ser desvendado. Uma facilitação de intenções que cada vez mais se aproximavam de nós dois e pedia pra ser feliz.

Poderia ser uma simples narrativa água com açúcar, dessas que a gente lê nos folhetins românticos, ou um conto erótico em plena ebulição de prazer. Tudo dependeria da evolução dos nossos sentidos e da gentileza dos nossos lençóis.

Alguém falava isso ao meu ouvido.

Era um cara de muitos silêncios, embora seu corpo fosse feito de inúmeras tagarelices que pernoitavam dentro de mim. E eu sabia ler cada letrinha que ia se transformando em palavras impressas no seu peito e nas demais partes dos seus contornos.

Eu entendia todas as pontuações que o seu sorriso escrevia e todos os devaneios que as suas mãos recitavam sem precisar decorar. Era uma aparição incrível, e totalmente capaz de conversar com os adjetivos de sedução que me envolviam.

Teve um momento em que eu li em seus olhos algumas reticências que me deram a impressão de continuidade, não só pelo o significado em si, mas pela ardência que eles expressavam, e isso me apeteceu avidamente.

Emoções que eram aparentemente divididas entre o “vai acontecer” e o “não vai se demorar”.

Vamos combinar?

Não há coração que aguente isso.

E depois de tantos poréns e tantos disse e me disse, o inevitável aconteceu.

Num instante qualquer tudo se transformou em um imbecil ponto final. E ponto.

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