Não descansarei o meu lápis

Silvia Ribeiro

Nunca pensamos em dizer adeus.

Você pode até dizer que sim, e talvez naquele dia era o que você estava fazendo, mesmo sem saber.

Quem sabe não foi isso que o seu abraço queria dizer?

Nesse instante uma saudade silenciosa buscou por mim e eu disse “eu te amo”. Mas você não ouviu.

Dizem que o coração faz novas escolhas, que as serenatas se calam, que a vida vez ou outra brinca de ser um jogo de xadrez, e que o amor tem o seu jeito criativo de ressurgir em outros corpos e de bater em outras portas.

Falam também que a nossa pele responde à outras perguntas, que a nossa música preferida em algum tempo deixa de nos reconhecer, que os nossos segredos perdem a graça, que o sol dorme mais cedo, e que os passarinhos são breves nas suas cantorias.

Um dia eu irei reler essa história.

Aí, talvez eu deixe a menina Cinderela brincar com essas páginas e sonhar um pouco mais.

Nesse momento, vou te imaginar aqui no meu sofá adoçando o meu sorriso, vou sentir as suas mãos nas minhas pernas devorando a minha lingerie, vou entender os seus olhos ameaçando as minhas loucuras, e vou me deliciar com o seu jeitinho de me desconcertar.

Quero te ouvir me dizendo que o meu colo é o seu lugar preferido, que os seus lábios buscam pelo o meu corpo, que os seus segredos gostam das minhas curvas, e que os seus fetiches precisam de mim.

Vou acreditar que você me lê e que eu sou poesia desenhada dentro do seu peito, vou saciar a minha sede e te beber até a última gota, vou trazer a sua voz pra dentro dos meus suspiros, e vou me livrar dessa ausência petulante deixando o meu mundo nublado.

E quando eu te beijar quero ver os seus olhos debochando do meu atrevimento, os seus cabelos molhados atiçando o meu prazer, a sua camisa tristonha na hora de ir embora, e o seu semblante querendo ficar um pouco mais.

Pode ser que eu te faça alguma promessa, que te diga que vou ficar bem, que não vou acordar no meio da noite querendo te sentir, que não vou contar os dias para te ver, e que não vou me importar se um dia for tempo demais quando não sei por onde anda.

Posso inventar que eu não te levo pra minha cama, que eu não me excito com as nossas lembranças, que nos seus braços tudo é mais gostoso, ou qualquer outra mentira que deixe o seu coração aliviado.

E se preciso for digo que te amarei a todas as vistas e a todas as vidas.

Enquanto isso: não descansarei o meu lápis.

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