Quando eu era mais nova, diziam que minha voz era parecida com a da minha mãe. E também com a da minha irmã. Ao telefone fixo de casa, sempre confundiam-nos. Ninguém distinguia entre nós três.

Mais tarde, passei a copiar a voz de uma amiga. E também sua entonação e as expressões vocais. Não sei por que fiz isso, provável coisa de adolescente. 

Passei um longo tempo assim, vocalizando em um tom artificial.

Até que peguei uma infecção.

Minhas amígdalas ficaram parecidas com ameixas. Inchadas e vermelhas, bloquearam a passagem do som. As cordas vocais foram afetadas. Fiquei afônica. Totalmente muda. Demorei para melhorar.

A voz foi voltando fraquinha e dissonante no início.

Depois, com certa rouquidão. Passadas semanas, retornou ao seu timbre normal. Porém, um pouco diferente do anterior.

Creio que as cordas sofreram algum tipo de dano permanente. Enrijeceram ou adquiriram calos, não sei bem.

O fato é que pararam de nos confundir na família.

Aquela amiga, sumiu de vista. Sem mimetizá-la, eu não servia para amiga mais.

Fiquei com minha própria voz e mais sozinha. E concluí que talvez seja esta a ordem natural das coisas…

Blogueiro

Recent Posts

Só — Capítulo 7

Victória Farias Capítulo 7 “Isac, você está pronto para o lançamento?” A voz em seu…

7 horas ago

Alegria

Silvia Ribeiro Ei! Sei que tem muito tempo que a gente não se vê, e…

13 horas ago

Sorriso

Mário Sérgio Difícil encontrar empregos naqueles tempos. O assunto em televisão, rádio e jornal, era…

1 dia ago

Mãe

Rosangela Maluf Ah, bem que você poderia ter ficado mais um pouco; só um pouquinho…

2 dias ago

O morro dos pensamentos fluentes

Tadeu Duarte tadeu.ufmg@gmail.com Moro em uma região de baixa altitude da cidade, a um quarteirão…

2 dias ago

Simplesmente

Peter Rossi Nada melhor que uma boa sesta, estirado no sofá da varanda, depois de…

3 dias ago