IN VINO VERITAS

Rosangela Maluf

Ao longo da semana aquele supermercado vinha anunciando sua promoção de vinhos e por isto havia muito mais gente que de costume!.

 As prateleiras bem organizadas com os tipos dos vinhos escritos numa faixa colorida, colocada acima das muitas garrafas. Ao lado, uma bandeira do país de origem. Nas estantes a classificação dos vinhos em tinto, branco e  rosé  – o meu preferido.  O tipo de uva, as datas das colheitas, informações aos montes: um local pra se passar horas! Tudo muito bem organizado e chamativo.

Contrataram um senhor que se dispunha a informar e tirar as dúvidas dos consumidores que se amontoavam curiosos para avaliar as promoções. Todo arrumadinho, com uma jaqueta e uma gravatinha borboleta em verde escuro, elegante com os cabelos grisalhos penteados com gel. Todo atencioso ele conseguia responder a várias perguntas e ainda perguntou se eu precisava de ajuda. 

– Volto depois, respondi.

Havia um grupo de adolescentes, certamente buscando informações para sua primeira compra. Eram muitos. Falando alto. Rindo bastante e ainda por cima, fazendo bulling com um japonesinho! Enquanto aguardava que o gravatinha verde viesse me informar sobre vinhos especiais, me pus a percorrer os corredores. Olhando os espumantes, os champagnes, em garrafas imensas usadas em grandes celebrações.

Levei meu caderninho com as anotações dos preços obtidos nos sites de vendas pela internet. Os fretes incluídos ou não. Queria fazer um apanhado geral das vantagens para então decidir minha compra de Natal.

Já resolvera que o meu presente – comprado por mim mesma – seria uma caixa com doze garrafas do meu rosé preferido, no preço que eu poderia pagar, ou de duas ou mais marcas dependendo do valor. E custo/benefício. Necessário se fazia pesquisar bem.

Com toda calma do mundo fui olhando, anotando uma coisinha aqui outra ali e sem pressa nenhuma, lá ia eu empurrando um carrinho vazio, percorrendo os estreitos corredores tão bem arrumados.

– O que você está ouvindo e cantando junto?

– Eu? Olhei para os lados pra ver quem estava falando com quem!

– Sim, tá cantando baixinho, mas dá pra ouvir o lálálá.

– Coldplay…eu disse sorrindo.

– Ah, além de linda tem extremo bom gosto. 

– Ah, sim? Eu respondi meio sem jeito e muito sem graça

Ao meu lado estava um gato, um espetáculo, um senhorzinho muito dos lindos. Parecia um verdadeiro artista, daqueles que posam para fotos surreais postadas nas redes. Como continuar o papo?

– Que tipo de vinho você está procurando…pra presente ou pra você? Tinto? Tem preferência por um tipo especial de  uva? Alguma marca? Origem específica?

Claro que todas estas perguntas não foram feitas de uma só vez, mas em resumo era o que norteava o nosso papo. Tirei os fones do ouvido, coloquei o celular no bolso de trás da bermuda jeans (sim, eu estava de bermuda, de camiseta, de tênis, com a cara mais do que lavada, sem nem um batonzinho  sequer – como ser diferente para ir ao Super?)

Encostei o carrinho pro lado. 

Ele também. 

Não sei bem como o papo continuou. 

Só sei que nos peguei dando boas risadas e o papo parecia não ter fim. Quanto mais conversávamos mais eu me encantava com a beleza e alegria daquela pessoa! E quanto mais conversávamos mais elogios eu recebia de modo que, ao final, mesmo de bermuda e cara lavada eu estava me sentindo uma miss. Um pouco apressada, pois tinha uma amiga que iria lanchar lá em casa e eu não poderia me atrasar.

– Não, não vá embora. Vamos conversar um pouco mais. Onde você mora, eu te levo. Pertinho daqui? Eu te acompanho. Vamos juntos. Não quero perder nem um minuto da sua companhia.

Jesus amado… era só que me faltava. 

Eu não sabia como argumentar.   

Concordei que fôssemos caminhando. 

E o assunto divertido continuava. Antes, ele me fez escolher um vinho que seria o presente dele para mim.

Fiquei constrangida, mas disse pra ele que o meu vinho rosé preferido era um  francês, chamado Manon Côtes, de Provence Rosé Magnum: uma maravilha. Nem mencionei o preço absurdo da garrafa! Disse ainda que se ele quisesse poderia trocar de marca. Várias outras me agradavam também. Ele não parava de me olhar. Sorri meio amarelo.

Resumindo, depois de algumas saídas pra jantar, comemoramos o Natal, nós dois sozinhos. Ele era sozinho e eu estava sozinha também, pois as filhas foram acompanhando os maridos. As duas nas casas das respectivas sogras. Nenhum problema, eu achava normal e não me importava de jeito nenhum. Achei bom ter a companhia dele. Era sempre muito agradável, educado e extremamente bem humorado. Uma delícia de companhia.

No dia 26 (só fui saber depois) era aniversário dele e quem ganhou o vinho maravilhoso, fui eu! Comemoramos com champagne & carícias & afagos.

O Ano Novo foi comemorado por nós dois, uns dias antes. Tanto ele quanto eu tínhamos casa de filho para ir no dia 31.  Não dava pra irmos juntos a nenhuma das comemorações. Então resolvemos comemorar, novamente, só nós dois. Desta vez com programa mais ousado e melhor. Infinitamente melhor.

Pra celebrar a chegada de  2023, comemoramos uns dias depois.

Na primeira semana de janeiro, novamente boas vindas ao novo ano.

Na segunda semana, na terceira, na quarta! Sempre uma desculpa pra ficarmos mais tempo juntos.

Planos para o Carnaval, 

Para uma viagem em março…

E a Semana Santa?

E a comemoração dos nossos “aniversários” nos próximos meses?

E assim tem sido…

E lá vamos nós!

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3 comentários sobre “IN VINO VERITAS

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