Peter Rossi
Certas coisas a gente nunca esquece e revê-las, recebê-las, é um gesto de carinho inalcançável.
Falo da gelatina colorida, uma sobremesa até simples, mas que preenche minhas papilas como motorneiro de um bonde a transitar pela minha infância, entre ladeiras da minha pequena cidade.
Como é fácil ser gentil quando a alma se abre de forma verdadeira. O olhar profundo sobre o desejo alheio. Eles, todos eles, sabem que eu amo gelatina colorida, em todos os seus sabores. E, sendo assim, nunca se esquecem, se lá estou, de, após a refeição, servir a tal gelatina, a minha gelatina.
Já me ofereceram: leve pra casa, coma depois! Isso após três ou quatro incursões na travessa, a voltar com o prato completamente colorido. Sempre agradeci, nunca aceitei a oferta. Fico a me perguntar a razão. Ontem, deitado em minha cama, a agradecer por mais um Natal feliz, encontrei a resposta. Comer gelatina colorida só vale se for na casa dos tios! É isso mesmo. Pensando sobre o assunto, me dei conta que já encontrei a sobremesa em outros rincões, alguns restaurantes, mas não me dei ao desfrute.
Uma coisa puxa a outra, essa é a mais pura verdade! A gelatina assume proporções gigantes de prazer quando ladeada pelos tios e primas, numa conversa mansa sobre o passado e suas vicissitudes. Que companhia deliciosa, que honra ser convidado para desfrutar tais momentos de felicidade plena.
A gelatina se transforma em tinta e movida por um pincel mágico, desenha no céu momentos sublimes de alegria e saudade. Uma verdadeira aurora boreal longe dos círculos gelados, com pelo menos três cores. E nada é mais importante que isso. A gente se pega a pensar nisso e naquilo, no que não fizemos ou no que ainda queremos fazer e acabamos por desperdiçar tempo e neurônios. Quanta bobagem! Basta a gente fechar os olhos e saborear com a colher na boca um naco de gelatina colorida e compreenderemos que não existe nada melhor do que isso.
Obrigado tio e tia, primas e primos. Como é feliz ser lembrado e homenageado com a satisfação dos meus mais simples desejos. Confesso que me apoderei dessa gelatina, afinal acredito que ela foi feita especialmente para mim, para que eu me sinta feliz! E aí me pergunto: existe presente melhor que esse? Claro que não!
Pois então brado aos quatro ventos: vocês me fazem muito feliz! Quanto sabor na vida a brindar olhos e estômago, afagando o coração. E, se pensarem em alguma diferente, tenho uma sugestão: serviremos gelatina em taças de champanhe, só para brindar e agradecer o quanto é bom estar perto de vocês!
Hummmm que delícia de sobremesa !!”
Você deu uma ótima opção, vou preparar para a família!!
Além de me permitir relembrar a primeira vez que saborei essa guloseima.
Um dia de conto.kkkkk