Silvia Ribeiro

Qualquer dia desses, eu me reinvento e paro de pensar em você, deixo de lado aquela nossa caixinha de lembranças que cabia tão bem nós dois, e que volta e meia eu apertava junto ao meu peito só pra me sentir mais perto de você.

Qualquer dias desses, eu surto e minto pra mim mesma sobre o quanto você é necessário e finjo que o meu coração anda ocupado demais com outros afazeres mais instigantes.

Qualquer dia desses, te deixo por aí e vou brincar de esquecimento com as minhas emoções e fazer malabarismos com a saudade, feito uma criança peralta na sua genuína infância, e se necessário for faço de conta que você já passou.

Qualquer dia desses, solto as rédeas do meu canto e te dou a minha ausência e todas as esperas que você colocou na minha bolsa, e se não bastar, ainda transformo tudo que você não foi em poesias.

Qualquer dia desses, eu te conto que por aqui anda tudo muito diferente, que as paredes não falam mais de você, que o armário não pensa mais nas suas roupas, que a minha cama não tem mais o seu cheiro, e que todas aquelas estrelas que testemunharam as nossas noites de amor já se apagaram.

Qualquer dia desses, você vai perceber que o meu sorriso desistiu de você, que a minha lingerie não sabe mais o seu nome, que várias músicas não tocam mais na minha vitrola, e que o tempo já tratou de te emudecer.

Qualquer desses eu deixo de te amar: ou será que já deixei?

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