Mais que nunca é preciso cantar

Daniela Mata Machado

“Finda a tempestade,

O sol nascerá…”

É o Ney quem está cantando aqui no meu ouvido e trazendo o prenúncio de um sol que logo nasce para iluminar o breu desses últimos anos. Nós não somos os mesmos certamente. Nenhum de nós. “Não há bem que sempre dure, nem mal que nunca se acabe.” O provérbio ecoa na voz da minha mãe enquanto eu avisto essa nesga de sol, que vem surgindo pela janela. E eu declaro que está aberta a temporada da esperança, da alegria e dos dias felizes e iluminados.

Agora vale a sabedoria de Paulo Mendes Campos, na sua carta à Maria da Graça: “A própria dor deve ter sua medida: é feio, é imodesto, é vão, é perigoso ultrapassar a fronteira de nossa dor”.  É tempo, portanto, de enxugar as lágrimas e redesenhar os sonhos, do jeito que for possível, com as forças que tiverem restado. Em nome de todos os que ficaram pelo caminho e não puderam seguir conosco.

Como civis, crianças e mulheres que emergem dos escombros de uma guerra após o cessar fogo, a gente sabe que há um universo inteiro a reconstruir, feridas imensas a cicatrizar e uma multidão de amores cuja perda será para sempre sentida e lembrada por todos nós, que sobrevivemos ao caos.

“E no entanto é preciso cantar

Mais que nunca é preciso cantar

É preciso cantar e alegrar a cidade…”

Nem reparei que agora já era Elis, rediviva no meu Spotify entoando a Marcha da Quarta-Feira de Cinzas. Somos nós sobre as cinzas que restaram, sacudindo a poeira de um tempo que nos modificou irremediavelmente e nos levantando para celebrar o novo ano. Que seja bem-vindo, muitíssimo bem-vindo o ano de 2023. O ano da nossa rendenção!

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6 comentários sobre “Mais que nunca é preciso cantar

  1. Nossa, que poder têm uma boa comunicação.
    Este conto está perfeito.
    Representa tudo o que estou vivendo neste momento no nosso Brasil.
    Parabéns pra nossa Daniela
    Maravilhoso ❤️❤️❤️

  2. Amiga querida do coração! Li vendo você e matando a saudade de nossas conversas que nunca tiveram fim, graças a Deus!!
    Inevitavelmente, terminando a leitura, escutei meu coração cantante: ” Viver e não ter a vergonha de ser feliz! Cantar e cantar e cantar a beleza de ser um eterno aprendiz.” Escutei Gonzaguinha cantando e tô sentindo que peguei gosto. Sua sempre fã!

  3. Emocionante!
    Também, com esse sobrenome, me fez lembrar de Edgar Godoi Mata Machado; grande brasileiro, cujas lições de vida permanecem para sempre na mente de seus alunos.

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