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Talvez um dia eu entenda

Silvia Ribeiro

Talvez um dia eu entenda que nem todas as palavras se vestem de luz, que nem todos os gestos chegam pra acolher, e que nem todos os sorrisos nos querem de verdade.

Ainda assim, sou a expressão do amor que eu acredito, da fé que eu busco, e de toda a gratidão que decora o meu interior. Tenho uma cordialidade com o universo que só se aprende no momento em que as pedras do caminho não conseguem mais fazer calos em nossos pés.

Fui convidada pelo tempo a gostar do que não precisa ser mirabolante, mas que tenha atitudes que se mantenham firmes e que não se curvem diante da braveza das ventanias nem do poder do adeus.

Não me importo com a bagagem do outro e nem quero saber o que ele fará com os sentimentos que por ventura eu deixar à sua porta. Preciso mesmo é sentir alegrias criando laços, mãos desatando nós, gentilezas sendo imortalizadas, companhias virando rotina, isso sim deixa marcas em mim.

Não sei ler os sinais de desencantos que muitas vezes já estão ali repletos de intenções que carregam o propósito de simplesmente conseguir satisfazer um ego, um desejo, ou um mero momento de colecionar emoções volúveis como se fosse algo comum. Nunca me dei bem com lobos em peles de cordeiro.

Confesso que vivo a liberdade dos sentimentos que eu acredito e sempre procuro por corações que podem mais do que a futilidade de maquiar o que falam em prol de um alimento que sacie apenas a pele. Embora muitos tenham me enganado com as máscaras que escondem as suas facetas e os seus movimentos de ilusionismo.

As minhas crenças esperam que os meus olhos estejam atentos simplesmente no que a minha alma considere bonito, e que autorize que cada um carregue consigo as suas feiuras, sem saber se já pentearam a sua essência, ou não.

Recebo a vida sem que ela precise explicar as suas doçuras e consigo sentir coisas boas diante da força das decepções, sem me importar com o papel que cada um queira representar no meu palco, e não consigo entender quando alguém esconde a sua verdadeira marca pra refletir no espelho a imagem de um ser presupostamente cheio de espertezas.

Às vezes é difícil ver o redemoinho do destino de um lado pro outro inventando surpresas, precisando combinar cores que já não fazem mais parte da paleta da nossa história. É como se tivéssemos largado em qualquer esquina chances que poderia ter nos feito sorrir e colocado flores nas nossas janelas.

Uma vez, alguém disse pra que eu olhasse dentro da minha mochila e deixasse somente o que tinha verdadeira importância, e então eu pude perceber que ali dentro quase nada tinha serventia. E foi assim que aprendi a me importar menos e viver mais.

E, hoje, todas as noites eu falo pro meu travesseiro como é bom tê-lo comigo. Ele sabe tudo de mim, até mais do que eu.

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