Tais Civitarese

Não sou uma pessoa de “bom gosto”. Gosto de doces muito doces, de móveis dourados, de objetos brilhantes recobertos por glitter, de pêssego e figo em calda na pizza e de café adoçado. Todas essas coisas passam ao largo do que o senso comum considera fino, belo ou bom.

Entretanto, para mim, elas são maravilhosas porque carregam significados repletos de subjetividade. Trazem-me boas lembranças, imagens mentais agradáveis, sensações psicológicas felizes ou mesmo o mais puro, simples e vulgar prazer.

Não acredito em “belo absoluto” e tenho profunda antipatia do que seria “o melhor”. Melhor para quem? Outro dia, almocei um peixe na caixinha de papel em um pequeno restaurante e não poderia pensar em almoço mais gostoso para a Sexta-feira Santa. Há quem não goste. E as duas últimas frases resolvem tantas situações nessa vida.

Considero ingênuo julgar as coisas apenas por critérios objetivos. Isso seria contrariar tudo o que sabemos hoje sobre o valor da individualidade. Sobretudo, me soa leviano acreditar que o bom gosto é algo absoluto. “Bom” para quem? Onde? Em que circunstâncias? Depende!

Recentemente, li um texto que dizia que gosto se discute, já que “um Romanée-conti é obviamente melhor que um Sangue de Boi”. Isso não é gosto, é qualidade. Há uma enorme diferença entre esses conceitos. Para um enologista, não há dúvidas de sua escolha. Para o público em geral, no Brasil, conheço muita gente que iria preferir beber o vinho docinho. E aposto que você também conhece. Quem prefere “Lacta” aos chocolates “bean to bar”. O que nos faz gostar das coisas não é o fato de serem perfeitas em características e qualidades técnicas. Muitas vezes, é o exato oposto. São seus atributos particulares, por vezes, esdrúxulos, com as ressonâncias que nos provocam. Os acenos ao nosso repertório interno têm peso imensamente maior nesse veredicto. Ou só pode gostar das coisas quem supostamente “entende” delas?

Qualidade pode até ser discutida. Gosto, não. Se o que se considera bom for apenas aquilo que tem “essa perfeição toda”, quantas pessoas não estariam excluídas desse acesso? Não seria esta uma visão bastante presunçosa? Gosto é algo particular, sentido muito além do plano racional. A não ser que os academicistas também resolvam ranquear nossas emoções como certas e erradas…

Bom para mim é picolé de milho verde e jaca. Sem nenhuma acidez! É pipoca do shopping nadando na manteiga. É música dos anos 90. São as coisas que me trazem e lembram felicidade. Simplesmente.

Foto: “Pizzaria Babbo Sorocaba”

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