Numa analogia ao provérbio popular; “em casa onde falta pão, todos brigam e ninguém tem razão”; assistimos – com desânimo – diariamente reações grotescas ao nosso entorno. Como a energia é ruim, contaminados, permitimos entrar nesse ambiente depressivo. E são de toda ordem. Vejamos!
Essas pessoas, muitas delas nossas conhecidas e até mesmo com relações de parentesco, fazendo essa vigília antidemocrática na porta de quartes e tiros de guerra. Inconformados com a vitória do adversário, escolheram esse caminho débil e irônico de protesto. Daí, causando até preocupação, acreditam por conveniência em todo tipo de fake news.
Acreditam no impossível. Muitos entre os quais, falsos cristão e doublé de ricos, que falam em família, Deus e pátria, como se fossem detentores dessas condições. A maioria é a própria negação disso que repetem. A começar do seu líder, que chamam de mito.
Como consequência disso, presenciamos no nosso cotidiano, situações desconfortantes no trato e na convivência. Falta civilidade e cordialidade em pequenas coisas. Indo ao supermercado ou numa loja de departamento, perdido entre as gôndolas expositoras, ao encontrar um funcionário do estabelecimento, é comum a resposta ser “não sou deste setor”. Deveria, entendo eu, te encaminhar e até levar ao colega do departamento desejado e procurado.
Sou usuário diário de cafeterias, em shopping e até mesmo em comércio de rua, pois com exceção daqueles que passo sistematicamente sofro com o atendimento. Por demora ou mesmo falta de presteza ao cliente. Via de regra trabalham de costas para as mesas, de onde desesperadamente clamamos por atenção.
Isso vale, para lojas, bares e restaurantes, onde a prosa entre colegas de trabalho sobrepõe ao interesse do consumidor. E segue essa rotina, até mesmo no esquecimento do pedido da freguesia. Sem contar na cara ruim quando registrada essa desatenção. Semana passada, numa rede farmacêutica, experimentei algo pior. Depois de tempos na fila, com apenas dois caixas funcionando, não tive sucesso na conclusão da compra. A moça disse que só atendia com pagamento de cartão e não podia receber em dinheiro. Até brinquei com a situação num post do facebook.
Até mesmo numa clínica de fisioterapia. Em fase de recuperação de intervenções cirúrgicas, diariamente, tenho esse compromisso. Pois um profissional de uma delas, daqueles que te deixa minutos na espera entre um exercício e outro, ao dar o ar da graça ainda me tratou igual quando manda menino malandro pra escola. Mudei de clínica, fui até aconselhado (mas não levei adiante) a denunciar o estúpido pelo estatuto do idoso.
Pois bem, fato é que desde o início de novembro, me tornei usuário – 0800 – pela idade (65) do transporte urbano. Vinha, desde antes da pandemia, me valendo do atendimento por aplicativo e sem utilizar do veículo pessoal. Tem sido interessante, além do custo zero, conviver com pessoas diferentes do meu cotidiano. Como trabalho no regime seis horas\dia, posso optar pelo meio da manhã e da tarde, com isso evitando o horário de pico e fluxo no início do dia e final da tarde. Ainda assim, em algumas situações, passando pelo constrangimento.
Além da gratuidade, a idade reserva alguns bancos prioritários ao conforto dos velhinhos (ainda estou em fase de aceitação dessa condição), ocorre que jovens ocupam esses assentos. Via de regra, com o fio de ouvido de algum assunto ligado no celular. Com isso, “distraída e convenientemente” não percebem que estão infringindo norma municipal de utilização desses lugares aos idosos. É comum ver senhoras que parecem estar indo ao trabalho doméstico, agarradas e se segurando naquelas barras de ferro de teto. Meninas e meninos, confortavelmente, acomodados nessas cadeiras para idosos. Comum também, na parte da frente, usuários que não se constrangem por descer sem passara na catraca, dando prejuízo à empresa concessionária.
Numa das minhas primeiras viagens, gratuita, passei por um razoável constrangimento. Uma jovem mãe, com duas crianças pequenas e carregando algo em torno de cinco sacolas, invadiu o pequeno espaço onde eu vinha fazendo percurso urbano. Zezinho pra lá, Mariazinha pra cá, esparramou aquela sacolada no que restava de espaço. Avantajada fisicamente, me espremeu no cantinho que restava.
Sai, sei nem bem como procurando espaço e tentando recuperar oxigênio, cometendo o erro de reclamar ainda que em voz baixa. Não podia imaginar o tamanho da reação da enorme e moça jovem. Vai querer encarar foram as palavras mais brandas que pude ouvir. Enfiei o rabo entre as pernas, assentei distantes e passei a observar a tela do celular, sem sabe o que tinha nela. Ufa! A mulher desceu antes de mim, mas os passageiros não tiravam os olhos dela, das suas crias e sacolas e – claro – desse incauto e ainda virgem passageiro de coletivo.
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