Silvia Ribeiro

Gratidão é um pacto que deveríamos fazer com a vida. Desses em que as pessoas se cortam pra que o sangue se misture e os fluídos se encontrem numa intenção de eternidade.

Quando eu era pequenina ouvia dizer sobre eles, e mesmo um tanto amedrontada achava que aquilo era a coragem mais afiada que alguém poderia ter pra tatuar as suas afeições. Porém, não entendia tamanho recurso de desprendimento e alusão à uma sensação tão expressiva e gostosa de sentir, e me perguntava o que poderia causar um merecimento dessa magnitude.

Confesso, que ainda hoje continuo analfabeta nesse quesito de respostas mas, já ouvi dentro de mim alguns burburinhos que me mostram caminhos que não me deixam tão inerte como antes. E aprendi que, os tais pactos muitas vezes acontecem numa esfera sutil e guiados por energias que fogem ao alcance dos nossos olhos, e não com um bisturi invasivo selando esse acordo como a minha pueril forma de crer entendia naqueles tempos.

E, me surpreendo, diante dessas soberanas expressões da boca pra fora que tentam transformar um sentimento tão expressivo em algo popularesco e medíocre. E grande parte, se valendo das tais filosofias de porta de botequim que se esbaldam em vias de mão única, apenas pra fazer parte de uma tribo supostamente evoluída.

Ainda assim:

Que prazer poder encontrá-la tão despretensiosa dentro de mim, desfilando as suas intenções na minha essência sem um salto agulha ferindo as minhas derrotas e em busca de outras sensações que possam contribuir para a minha metamorfose. Me dizendo que eu ainda sou aquela menina capaz de se entusiasmar com pequenos e grandes gestos de afetos que queiram sorrir junto comigo.

Gosto da sensação de vê-la completamente abnegada de alardeios e generosa na sua maneira de se doar, carregando consigo uma mansidão de abrigo que vem de outras dimensões pra morar num cantinho qualquer de alguém sem precisar se explicar, e muito menos ir embora quando lhes viram as costas.

É nessa sutileza despojada que eu a recebo todos os dias fazendo pacto com o meu coração numa solenidade única, e digo: que bom que você chegou.

Gratidão!