Dentro daquela gravata

Ela estava ali sentada, perdida em seus imensuráveis pensamentos sem prestar atenção no que havia à sua volta, e quem havia à sua volta.

Até que um gesto simples a tirou daquele estado de entorpecimento e ela deixou de vaguear por entre os seus sonhos, fazendo com que o seu coração se deleitasse em um afável toque de realidade.

Se esbarrou num gesto que causou uma agudeza fortuita nos seus sentimentos, embora ainda não houvesse uma claridade espontânea entre ambas as partes. Mas, naquele sorriso havia um abraçar que tinha algo a dizer.
Deixe a dama passar!

Aquelas palavras ficaram enternecidas dentro dela provocando o seu vestido, e ao virar o rosto de um jeito displicente ela lhe ofereceu um olhar destemido sem o medo de parecer louca.

Ela não tinha aquela expressão acalorada de receber, no entanto, era graciosamente gentil e enigmática. A sua natureza comedida e as suas demonstrações sutis causavam uma atmosfera de mistério e sensualidade que deixavam suspiros espalhados por onde passava.

Possuía traços de seriedade, e isso as vezes causava uma impressão errônea sobre a sua forma de ser. Costumava ser chamada de “nariz em pé”. Porém, isso era só fisicamente, o que acontecia dentro dela era bem mais atrativo do que uma efêmera aparência.

No fundo ela se acomodava dentro das novas emoções que batiam à sua porta, e os seus lábios tinham uma pureza nata que a deixava tateante tornando a sua alma legível, bastando pra isso simplesmente ser um bom leitor e gostar de levar a vida com reticências.

A sua silhueta era indagadora e cultuava uma intuição despretensiosa que decidia o seu ritmo, as vezes um excitante tango, e outras, apenas o bom e velho samba de roda tirando os seus pés do chão. Na verdade, ela gostava de ser conduzida.

Mesmo não sabendo do que se tratava, naquele instante ela tinha uma percepção aguçada, fazendo com que o seu coração atingisse os sentimentos daquele homem que havia dado à ela um sorriso de presente, e uma nova maneira de entender as estrelas.

Aquele dia era o seu aniversário, e durante alguns segundos todos os convidados deixaram de existir como numa tela de cinema e nada mais era visível, além daquela voz que a possuía sem a menor intenção de parecer deselegante. E a medida que o tempo passava tudo o que vinha de dentro daquela gravata lhe parecia tentador.

Que mulher linda!

E, foi nesse exato momento que o amor entrou dentro dela com um único desígnio: o de estar ali, pra sempre.

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13 comentários sobre “Dentro daquela gravata

  1. Lindo!! Como no filme O perfume de mulher, o detalhe que faz toda a diferença e rouba toda a cena. A partir daí não existe mais nada pra se importar.

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