Quando o passado resiste à mudança

Luciana Sampaio Moreira

Em alguns momentos, o Brasil é regido pela herança indígena. Em outros, pela africana. Atualmente, “quem comanda” é a portuguesa, movida a conservadorismo, com seu cheiro característico de naftalina, esse misto de peso e freio voltou com força total.  Apresentado como solução para se ter uma sociedade perfeita, impõe as mesmas regras e normas de conduta de um passado não tão remoto, em nome de Deus, dos bons costumes e da defesa da família para transformar a terra em paraíso. Quanta pretensão! Será que desta vez combinaram com os russos?

Como aconteceu anteriormente, boa parcela da sociedade brasileira é vítima dessa propaganda enganosa. A começar pela metodologia, que se aplica preferencialmente a mulheres, negros, pobres e comunidade LGBTQIA+. Porque desde que o mundo é mundo, os homens brancos e heteros nunca estiveram nessa lista. Como ser que manda, cabeça do casal e mantenedor da família, desde que não se envolva em grandes escândalos sociais, sempre encontra bons argumentos para justificar suas “escapulidas” e mulheres prontas a defende-los.

E por falar nelas, as mulheres são 51,8% da população brasileira. Segundo o IBGE, comandam sozinhas 47,1% dos lares. Mas têm sido bombardeadas com a ideia de “bela, recatada e do lar”, um desserviço sem precedentes para a economia nacional… Afinal de contas, são raros os homens que dão conta sozinhos das contas de A a Z e também dos penduricalhos femininos. O que virá depois? O cinto de castidade, a cirurgia para reconstituição de hímen ou as internações compulsórias para as mais rebeldes? Ou tudo se resolverá com um bom casamento arranjado?

Já a população LGBTQIA+ incomoda sobremaneira os conservadores. Se forem felizes e bem-sucedidos então… Só que eles aprenderam a ser massa de pão. Quanto mais apanham, mais crescem. Descobriram que podem ter uma vida sustentável e não parecem dispostos a andar para trás, de volta aos armários onde foram mantidos presos por séculos.

Pouco afeitos à ideia de igualdade, conservadores também costumam manifestar opiniões racistas e preconceituosas em relação a pretos e índios, para deslegitimar suas heranças para a cultura nacional. Só que, depois de tantos séculos de opressão, também esses resistem, se reinventam e conquistam espaço e direito de escolha do próprio destino, conforme previsto na lei divina (que é para todos), pela Declaração Universal dos Direitos Humanos e também pela Constituição Federal de 1988.

Entre vitórias e derrotas, os conservadores arrumam sempre um motivo para chiar, apesar de afirmarem uma fé inabalável. Observando a conduta alheia como aquela vizinha que passa o dia na janela, não têm tempo de esboçar um sorriso solto e a alegria de quem realmente acredita na Providência Divina. Ladram como os cães daquele ditado popular. Mas a caravana passa e, em algum momento eles vão ficar para trás de novo!

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