Peter Rossi
Entre algumas taças de vinho, Margareth e eu começamos a conversar sobre postagens do Instagram, em torno de uma mesa de uma pizzaria da Zona Sul da cidade, cujo nome se escreve com números.
Ficamos avaliando tudo, ora elogiando, noutros momentos criticando a exposição exagerada e mesmo fabricada de algumas postagens nas redes sociais.
As pessoas não se reconhecem, criam mundos imaginários, colocando panos de fundo na própria realidade. O mar é mais azul, os seios maiores, o sol mais brilhante, a cintura mais fina. Enfim, muita pintura para uma tela de uma polegada.
Incrível que outros tantos veem e mergulham na onda, afogados em tanta inveja e ressentimento.
Mas, enfim, cada um vive como quer e pode. O que para mim é contraproducente, para outro é meio de vida, e por aí seguimos todos.
Falava, entretanto, da conversa com Margareth.
A comida estava deliciosa, o vinho igual. Conversamos sobre nós, nossos filhos, nosso passado, o que pretendemos da vida.
Cada um pretendendo encantar o máximo o outro, e acho que conseguimos. Esses encontros, com taças de vinho a brindar, são estimulantes e absolutamente necessários em nossas vidas.
Muitas e muitas risadas, francas, despojadas, altas até, mas absolutamente sorvidas pelos dois.
Entre uma burrata empanada e um gole de vinho, apressamos em dar continuidade a conversa, olho no olho, seja sobre qual tema fosse. O importante é a interação, a atenção dividida e disputada.
Margareth é uma mulher encantadora, muito fácil se deixar envolver. A conversa fluía naturalmente.
Num dado momento, me mostrando uma amiga, minha companheira de vinho e de bate-papo, falou com entusiasmo sobre a moça.
– Uma mulher especial, batalhadora, encantadora. Uma empresária destemida, de muito sucesso. Encontra tempo pra malhar, pra se fazer bonita e ainda para administrar seus negócios.
– Que bacana, Margareth, e além de tudo é muito simpática e muito bonita, retruquei.
– Todos os dias, pela manhã, ela já está na academia.
E lá vamos nós a ver fotos da amiga de Margareth com roupas de ginástica, ora levantando alguns pesos, ora o próprio celular, empunhando para uma selfie, em frente ao espelho.
Mas a língua portuguesa tem seus melindres e, por mais estejamos atentos e zelosos, alguns deslizes acabam acontecendo. E foi o caso.
Perguntei a razão pela qual Margareth destacava a intensa atividade física de sua amiga.
– Sabe o que é, ela tem diabetes, precisa controlar.
Eu, querendo me referir à doença, se era do tipo 1 ou do tipo 2, me limitei a perguntar:
– Pesada?
– Claro que não, você não viu a foto, ela é bem magrinha…
Uma explosão de risadas nos impediu de tomar o vinho nos próximos dois minutos.