Inverno

Taís Civitarese

Olho para a árvore desfolhada em frente à minha casa. Ela está viva, porém não parece. Olhando de perto, carrega minúsculos brotos de folhas embrionárias. Mas seus galhos estão cinza e ainda vai demorar algum tempo para estarem frondosos.

É como me sinto.

Nas profundezas de algo brando e quieto, meus sentimentos fermentam. Sob uma aparência pouco chamativa, pensamentos se complexam. É como um bolo no forno.

Um tempo de espera, de processamento. Um tempo em que o silêncio camufla barulhos inaudíveis e palavras proibidas.

Muita coisa aconteceu nos últimos meses. Como sempre acontece.

Algumas delas tiveram que ser suprimidas da consciência, conforme a necessidade ditava.

No entanto, chegou o inverno. E o frio aquietou tudo. A lentificação dos processos trouxe algo que era necessário: tempo. Sinapses, lises, fusões, fosforilações e outras reações químicas. Tudo isso é o que vem acontecendo enquanto a luz está baixa e o epicentro, calmo.

Nesta cadeia, o que era antigo se renova, alguma coisa se quebra e outras, se reciclam. Uma parte foi consumida sem retorno por ação de radicais livres. Ao mesmo tempo em que novas moléculas de fórmulas inéditas se formam no rastro dos processos exotérmicos.

Assim transcorre esse inverno. Em breve, a volta de alguma exuberância.

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