A rede

Taís Civitarese

Jorge comprou uma rede. Quis pendurá-la na varanda de seu apartamento para poder olhar o céu e tomar um ar fresco.

Perfurou os azulejos do revestimento, instalou os ganchos penduradores e encaixou as alças de sua bonita rede de fibra de algodão cru.

Deitou nela. A sensação de estar suspenso lhe agradou. Arriscou balançar-se um pouco. Para trás e para a frente apoiando o pé no guarda-corpo da varanda. Gostosa sensação.

Pela manhã, passou a sentar ali para tomar seu café e comer um pão com manteiga. Olhava as primeiras cores do dia despontarem. O horizonte ainda silencioso e calmo.

À noite, ao chegar do trabalho, logo ia deitar-se ali também. Notava o piscar das luzes da cidade e o escurecimento das matizes do céu.

Via uma ou outra estrela, apenas.

Mas gostava de observar o movimento.

Na chuva, fechava o toldo e deixava a rede no mesmo lugar. Deitava nela para receber pequenos pingos na cara enquanto sentia o frescor tomar conta da atmosfera.

Se estava em casa aos fins de semana, ficava ali ouvindo música à tarde. Às vezes cochilava lendo o jornal. Não raro, após o almoço.

A rede era sua alegria cotidiana. Para quem morava sozinho, tê-la em casa era um pequeno luxo particular.

Essa era a rede de Jorge – e que tanto bem-estar lhe proporcionava.

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