Eduardo de Ávila
É inegável que, considerando especialmente esse momento atual que o pais atravessa e onde a cultura do ódio de um lado não tem limites, nos deixa – as vezes – com receio de manifestar e se posicionar sobre temas polêmicos. Sobretudo das escolhas eleitorais próximas. Confesso que sou adepto em assumir minhas posições, que são transparentes e sem rodeios, mas ando evitando até pessoas que sempre conviveram ao meu entorno.
Nem me refiro ao meu time do coração, conhecido e reconhecido por todos que passaram pela minha vida, mesmo porque nessa questão só converso e tiro sarro com aqueles com os quais têm a mesma liberdade comigo na mão inversa. Fora desse círculo, como diria uma antiga colega de trabalho, “não dou intimidade”. Religiosidade, embora respeite todas, percebo que não merece o mesmo reconhecimento ao meu kardecismo daqueles – na verdade poucos – que se julgam detentores da soberba adoração aos ensinamentos do Pai. E é um dos sete pecados capitais que tanto defendem nas suas pregações.
Mas, a cada novo momento desses dias que antecedem às eleições gerais brasileiras, mais me assusto com o estilo boçalnarista de ser incorporado por seus apoiadores. Embora eu seja um entre os 75% da população que abominam esse sujeito, que recentemente até reconheceu (numa declaração a empresários) que não leva jeito para ser presidente, pareço ser alvo da grosseria e estupidez dessa gente.
Os tempos vividos, já se vão praticamente 65 anos, me ensinaram e sugeriram que devo manifestar e jamais ser omisso. Já passei por não dizer o que penso e com receio de causar alguma mágoa, ofender ou mesmo ferir aqueles que tem posição contrária. Esse meu silêncio, que já superei, e me fazia sentir omisso ficou no passado. Um bom debate sobre o que é divergente é rico e sadio para nós mesmos. Assim penso!
Ocorre que, essa gente dos 25% – como disse – é estupida e grossa. Estava eu lá saindo de um bom filme no sábado, curtindo e indo até procurar uma prima querida para prosear, quando encontro pessoa conhecida que raramente cruza pelo meu caminho. E, depois do “oi” de praxe, surge o assunto das escolhas para o dia 2 de outubro. Com o cuidado que sei a pessoa exige, gente do relacionamento comum já me alertaram que é “barraqueira” fui primeiro nos nomes sabidamente coincidentes. Um deles até meu parente, e ela elogiou e disse ser também seu candidato. Ia seguir, dizendo qual era a prima que pretendia encontrar, e ela disse ser muito fã dessa minha parente. Uma jornalista mineira com muita visibilidade.
Mas a prosa seguiu e quando disse qual opção que tenho para a Presidência da República, o barraco veio abaixo. Desmoronou e não ficou tijolo sobre tijolo. Tentei, juro, continuar nesse assunto, até disse que o filme que acabava de sair era muito bom e sugeria que fosse assistir. Que nada! “Comunista e ladrão” era de forma exaltada dirigida a mim, sob o olhar assustado de quem passava ao lado.
Me lembrou lição de escola. Quando a professora perguntava e, na base do decoreba, a/o aluna/o respondia. Se pedisse pra explicar o que era isso ou aquilo, seria o caos. E é assim que o gado muge nos tempos recentes. Perdi a direção que caminhava para encontrar com a prima, que essa pessoa disse ser fã, nem deu tempo de contar que ela – a minha parente jornalista – também vota nos mesmos candidatos que eu. Ou seja, será a ídola dela uma comunista e que apoia ladrão?
Isso no conceito dessa gente sem argumento que se acha superior, como me referi acima e sobra a soberba, em julgar e avaliar a conduta de terceiros. “Trabalho em tal lugar, eu posso falar pois eu sei das coisas”, foram mais algumas pérolas que ouvi. Interessante. O curso superior que essa pessoa detém, eu também fiz – e tenho OAB ativa – e ainda conclui outro. Nem por isso me acho com essa propriedade intelectual.
Trocando em miúdos, não tem nada mais triste que “pobre de direita”. Desconhecem o amor. Esse amor que edifica e embeleza, deu lugar ao ódio que destrói e enfeia. Situações, como essa, sugerem até trancar dentro de casa e fugir do convivio com gente estupida, mas não vou ceder aos barraqueiros. A tolerância irá ainda dar lugar a estupidez dos tempos de Boçalnaro e boçalnaristas.
Enfim, por mais bibliotecas e menos clubes de tiro.
Eduardo Ávila meu caro blogueiro. Há pouco tempo que comecei a seguir seu outro blog, Canto do Galo, um espaço democrático onde podemos prosear sobre futebol e outros assuntos mais. Lendo o seu relato aqui, lembrei que passei por algo parecido está semana quando estava conversando com um pequeno comerciante de minha cidade da zona da mata mineira, famosa Viçosa. Quando ele me perguntou sobre minha intenção de voto para presidente, a reação foi igual desta moça que você relatou. Aí começou a mugir as fake news (mentiras) sobre o meu candidato, que o país vai virar comunista, que vão tomar minha casa e por aí vai… Eu fiquei abismado com tamanha alienação política e lavagem cerebral essa galera sofreu. Pessoas que se dizem estudadas e acreditam em coisas como papai noel e mula sem cabeça. Mas é isso amigo. Eu passei aqui para trazer meu relato e dizer que fico muito feliz de saber que não estamos sozinho nesta missão. Abraços e vamos seguir em frente.