Danço com todos eles

Eu sempre me tratei com muitas gentilezas.

Embora tendo vivido algumas agruras no dia a dia elas nunca me convenceram que sofrer é algo que se deve panfletar.

Deixo sempre à vista um sorriso em conta- gotas ou um esparadrapo caso a minha alma necessite. E quando tudo isso significa recomeçar balanço os ombros e vou em busca de algo que me faz rir das doidices do destino.

Eis que um espelho falante conversa com várias faces que giram em torno de mim, e ouço uma voz me contando histórias que eu nunca havia percebido.

Vou tentando alcançar espaços na minha memória nesse lugar aonde eu possa ser uma e ser várias. Troco o batom, mudo o penteado, redescubro o meu perfume, brinco com o meu salto, e viro cúmplice do meu pijama.

Mas o meu coração quer dizer alguma coisa.

E lá estão os defeitos sem agasalhos, as sequelas cruas, as lágrimas vivenciadas, os traumas pendurados na parede, os desabrigos empoeirados, e os ciclos da vida se dando ao desfrute.

As meninices pulando cordas, as ilusões cristalizadas, as viagens que a vida adiou, os sins que precisaram de mim, e os nãos que eu celebrei.

As saudades que pegaram no sono, os olhares que me divertiram, as certezas que viraram pó, os personagens que foram morar em outro lugar, e os perdões que eu fiz por merecer.

Abro a janela pra que o agora também possa fazer parte desse momento.

E nesse “agora” eu vejo os abraços que convivem comigo, os beijos que aceitam os meus desejos, a alegria que enfeita os meus cabelos, e a sobriedade da minha poesia em dias de lua cheia.

O amor que me leva pra cama, as carícias que me namoram, a libido que desafia o tempo, e os orgasmos que incendeiam o meu corpo.

*
Curta: Facebook / Instagram

8 comentários sobre “Danço com todos eles

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *