Daniela Mata Machado
– Mãe, quem é Jô Soares?
Ainda não eram 7h da manhã quando minha filha interrompeu o café da manhã com a pergunta inusitada.
– Um comunicador sensacion… Por quê? O que tem o Jô?
– Morreu. Há 3 minutos.
Fiquei olhando para ela. Impactada pela morte do Jô e pela velocidade com que a menina, que não acessa as páginas dos grandes jornais, nem tem Twitter ou Facebook, havia ficado sabendo daquela notícia.
Eu trabalhei por mais de uma década em redações. Depois alguns anos em assessorias de imprensa. Sou aquariana e não tenho nenhuma resistência à tecnologia. Pelo contrário, mexo em tudo que me cai às mãos até descobrir como funciona e, geralmente, descubro e exploro até me cansar.
Mas a verdade é que, aos 48 anos, ou a gente se põe a ser turrão e dizer que todo mundo que chegou depois de nós é tolo e mal-informado… ou a gente se abre para as mudanças e entende que nem sempre elas se abrirão para nós. Minha filha tem 14 anos e se informa pelo Tik Tok. Sim, essa rede que consideramos idiota e que fazemos questão de nem conhecer. Porque envelhecer tem dessas coisas: a gente acredita que “no nosso tempo” era melhor e não se interessa muito por entender como funcionam as coisas nesse outro tempo, que não é o nosso. E é assim que envelhecemos.
Eu fiquei muito triste com a passagem do Jô. Secretamente, acho que até alimentava o desejo de um dia construir algo realmente relevante que me levasse a sentar naquele sofá e dar um gole do que quer que houvesse naquela misteriosa caneca em cima da mesa dele. E também fiquei triste ontem, quando ouvi no rádio a notícia da morte de Olivia Newton John. Tive uma sensação de que o tempo das coisas bonitas estava passando e estaríamos todos entregues ao Luan Santana. “Você não gosta de mim, mas sua filha gosta…” Parece que eu ouço Chico Buarque cantando quando penso em Luan Santana. E prometi a mim mesma não fazer julgamentos. Sigamos então, sem julgamentos. Mas… Sem “mas” também.
Tentei instalar o Tik Tok e não me adaptei. Não sei sequer encontrar informações ali. Mas minha filha encontra. E um dos vídeos mais impactantes que assisti após aquele episódio da garotinha de 11 anos que foi estuprada e não conseguia o direito ao aborto foi enviado para mim por ela. Era do Tik Tok. Logo, não posso atribuir à rede ou à tolice das crianças e adolescentes a minha própria falta de intimidade com os novos meios.
Há poucas semanas, me encantei por um cantor chamado Phil. Na verdade, por uma canção dele, Tipo Borboleta. Não sei se ele está no Tik Tok, mas é possível que sim. Não vou entrar no terreno pantanoso das comparações porque realmente não vim aqui para isso. Mas acho que gostar dele me faz pensar que não precisamos viver presos nos ídolos, nos argumentos e no ideário de um tempo passado do qual nos apropriamos e chamamos de nosso. O nosso é este. Agora. Não importa que a gente tenha 48, 14 ou 78 como a minha mãe. Cá estamos. Nós, o Phil, o Chico Buarque, o Luan Santana, o Gil, o Milton, o Jô… Sim, o Jô vai seguir com a gente. Porque tem gente que fica encantado – obrigada, Guimarães Rosa, que também se encantou há tempos e nos deixou essa analogia bonita –, mas segue com a gente. No Tik Tok, inclusive.