A casa de mim mesma

Silvia Ribeiro

Um dia desses me veio uma ideia dessas um tanto quanto estapafúrdia.

Essas que a gente escreve no guardanapo e deixa bem lá no fundindo da gaveta, só pra garantir que não cheguem em mãos que possam rir de você.

Fiquei pensando em quais casas eu gostaria de habitar.

Tive a sensação de estar atravessando um caminho tortuoso que poderia me fazer arrepender depois. Ainda assim fui tomada pela teimosia.

Talvez aquele momento exigisse de mim uma coragem que ainda não havia amadurecido. E isso deixava um gosto insosso na minha boca.

Aquela busca se tornou irresistível diante do meu silêncio pela simples vaidade de me vencer. Era o meu dever saber pra onde eu iria me mudar, e fazer com que o meu coração gostasse disso.

Afinal de contas é sempre dele a primeira palavra.

E de uma forma intimista visitei alguns lugares que pareceram convidativos, encontrando algumas portas entrabertas facilitando a minha entrada.

Depois de uma longa procura dei as costas pra aquele lugar me julgando desanimada, e com as minhas pernas se sentindo derrotadas.

Ali tudo era muito formal, os cômodos exibiam uma imponência que me desagradava. Eram verdadeiras mansões, mas do lado de dentro os afetos eram minguados. Por lá não havia grandes amores.

Até que me vi diante de algo que impressionou os meus olhos.

Por dentro tudo era muito festivo, tinha um cantinho que me protegia de mim mesma, e uma escada feita pra mudar os rumos.

Tinha uma rede que logo se apresentou, e um café quentinho que ao me ver disse que estava me esperando.

Havia uma beleza de almas sem acasos que aceitava aquela vulnerabilidade de sentimentos que me acompanhavam.

E eu pensei: É nessa casa de mim mesma que eu quero morar.

Podem entrar se quiser.

*
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14 comentários sobre “A casa de mim mesma

  1. Leio e sinto em mim que Sílvia Ribeiro não usa as mãos para teclar, mero acessório para registrar intimidades que só um coração exposto é capaz de revelar.
    A crônica expõe e revela, com coragem e honestidade, sentimentos que também nós acolhemos, mas que exigem uma postura que a maioria escamoteia.
    Sílvia Ribeiro confirma o que o Criador concebeu: nosso corpo é nossa casa e quem o recebeu deve dele cuidar.
    Mais uma crônica para os anais da cultura brasileira.

    1. As suas palavras enchem o meu coração de alegria.
      Como diz a canção:
      Se todos fossem iguais a você.
      Gratidão infinita.
      Abraços!

  2. Oi Silvia, estou a procura da minha casa, o espaço físico, para fazer dele o meu lar, mas a busca não está na fácil. Estou com dificuldades para me encontrar, a história é longa, agradeço por vc me mostrar um caminho.

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