Uma delícia de pessoa

O mundo lá fora sempre me pareceu perturbador. Gosto das coisinhas que vivem do lado de cá da minha alma. Daqueles afetos macios que aquecem feito cobertor, em meio à friagem de despedidas egoístas.

Me agarro naqueles desejos saciados sendo felizes, me fazendo engolir a saudade como uma bebida doce, e esvazio todas as artimanhas do destino quando esse se prepara pra dar o bote.

O que eu tenho de mais intenso é essa  forma corajosa de amar, e essa fartura perigosa de sorrisos explícitos tirando a minha roupa. E cada pormenor da minha pele admira essas páginas que o meu coração escreve.

Não reclamo das lembranças que estiveram na soleira da minha porta pedindo alguma mágica pra que fossem apagadas. E, ao contrário do que elas pensam, vivo sem pressa de alcançar algumas fatias desse passado falastrão, que já não combina mais com o meu modelito.

Nos dias de hoje, deixo que os meus hormônios decidam por mim, e que sejam tão sinceros quanto as minhas maluquices indo à feira num dia de domingo. Carregando de baixo do braço um diário cujo propósito é apenas ser feliz.

Se eu pudesse dizer alguma coisa.

Eu diria: sou uma delícia de pessoa.

*
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18 comentários sobre “Uma delícia de pessoa

  1. Texto prazeroso de se ler, transmite uma leveza ao lidar com situações difíceis, e conflitantes, mas que na narração não assumem essa conotação. Só mesmo uma delícia de pessoa pra lidar com a vida desta forma

  2. Uma delícia para se ler e sentir. Como sempre sua expertise de tratar as coisas do amor se faz presente como se fosse da intimidade de cada um de nós.

  3. Desde Rubem Braga e Fernando Sabino – um de lá, outro de cá – não havia lido recentemente com tanto prazer crônicas como as de Sílvia Rabelo.
    Na minha distante juventude, com alguma ingenuidade, buscava nos contemporâneos jornalista e pescador Felix Fernandes Filho (“Uma canoa no berço d’água, com um barranco de cada lado, é um parêntesis na vida) ou no poeta cronista Djalma Andrade (“Que eu faça o bem e de tal modo o faça/que ninguém saiba o quanto me custou”), ambos em Folha de Minas onde eu trabalhava, buscava neles inspiração para confirmar que coisas simples ou tocadas pelo coração davam sentido à nossa vida.
    Na minha atual idade, passado quase um século de vida, quando a abertura para o além fica cada vez mais próxima, continuo buscando em leituras amenas ditadas pela emoção respostas como “valeu a pena?”
    Silvia Ribeiro, com sua honesta confissão, simplifica a resposta levando seu diário debaixo do braço. Nele, tudo fica registrado, nada escamoteado. É o que eu venho procurando fazer. Às vezes com êxito, muitas vezes sem sucesso. Mas a busca vale, sempre. Não me considero uma “delícia” de pessoa, nem mais posso procurar ser, mas me sinto de bem com a vida.
    Muito obrigado.

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